A Essência de Tudo: A Natureza e a Personalidade de Deus
Setembro 20, 2011
por Peter Amsterdam
A Essência de Tudo: A Natureza e a Personalidade de Deus
A Retidão e a Justiça de Deus
(Para conhecer a introdução e explicação sobre esta série leia A Essência de Tudo: Introdução.)
Um atributo de Deus estreitamente ligado à Sua santidade é a retidão —que quer dizer correção, bondade, virtude e integridade moral. A retidão de Deus engloba Sua justiça. Em inglês [e em português] as palavras retidão e justiça têm diferenças em significado. Em hebraico, entretanto, um único grupo de palavras se refere aos dois sentidos, e o mesmo ocorre no grego. Do ponto de vista bíblico, a retidão e a justiça são, em geral, a mesma coisa, o mesmo atributo de Deus, ou pelo menos muito estreitamente interligadas.
Deus É Retidão
A retidão de Deus significa o Seu ser, Sua natureza e personalidade. Ele é bom, correto e justo. É o padrão maior do que é o certo. Em Deus não há transgressão. Por definir a retidão, o que Ele faz é, infalivelmente, certo. Ele é integridade, bondade e retidão em Sua totalidade.
Eu sou o Senhor, que falo a verdade, e anuncio coisas retas.[1]
O Senhor é reto; Ele é a minha rocha, e nEle não há impiedade.[2]
Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, e todos os Seus caminhos são justiça. Deus é a verdade, e não há nEle injustiça. Ele é justo e reto.[3]
Retidão e justiça são a base do Teu trono; amor e fidelidade vão adiante do Teu rosto.[4]
O Senhor é justo[...] Ele não comete iniquidade. Todas as manhãs traz a Sua justiça à luz, e a cada novo dia não falha.[5]
Como Deus é justo em Sua natureza, é imparcial e equânime em tudo que faz, inclusive na Sua interação com a humanidade. Por ser santo, não tolera o pecado e, por ser justo, deve tratar as pessoas como merecem. Recompensa o íntegro —o que vive segundo a vontade de Deus, Sua Palavra e Seus caminhos— e pune quem peca. Se não houvesse recompensas e castigos, Deus seria parcial e injusto —o que é impossível, pois seria contrário à Sua natureza e essência.
As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam.[6]
Dirá o Rei aos que estiverem à Sua direita: “Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.”[7]
Por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, você está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o Seu justo julgamento. Deus “retribuirá a cada um conforme o seu procedimento”. Ele dará vida eterna aos que, persistindo em fazer o bem, buscam glória, honra e imortalidade. Mas haverá ira e indignação para os que são egoístas, que rejeitam a verdade e seguem a injustiça.[…]Pois em Deus não há parcialidade.”[8]
Como Deus vê a transgressão e lida com ela
Existe uma diferença entre a maneira como Deus vê e lida com os que paciente e persistentemente obedecem à verdade, e com os que rejeitam a verdade e praticam o mal. Para os primeiros, há recompensas; para os segundos, ira e indignação. Sem dúvida, todos os humanos pecam, mas Deus distingue os que se arrependem dos que obstinadamente escolhem praticar o mal.
Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça.[9]
Mas a pessoa que fizer alguma coisa deliberadamente, quer seja dos naturais, quer dos estrangeiros, injuria ao Senhor; tal pessoa será eliminada do meio do Seu povo. Porque desprezou a palavra do Senhor, e anulou o Seu mandamento, totalmente será eliminada essa pessoa, e a sua iniquidade será sobre ela.[10]
Muitos têm dificuldade de ver o juízo de Deus sobre os pecadores como algo bom e correto. Gostamos de pensar que Deus seja amor e Ele certamente o é. Ama inclusive os que pecam descaradamente. Como o amor é também a Sua natureza e personalidade, Ele nos ama inerentemente. Todavia, não ama nosso pecado. Nossos pecados nos separam dEle.
Por ser supremamente santo, não pode aceitar o pecado; por Ele ser justo, o pecado deve ser punido ou expiado. E como nos ama, Deus criou um meio para a expiação dos nossos pecados pela morte e ressurreição de Jesus, para que fôssemos poupados de ser separados ou punidos pelos nossos pecados.
De certa forma, pode-se dizer que a combinação da santidade, retidão e justiça de Deus condenam completamente a humanidade. Todo ser humano peca e, assim, ofende a santidade de Deus —Sua essência. Por ser imparcial e justo, dá a cada um o merecido e, por sermos pecadores, todos merecemos punição pelos nossos pecados. Já que a santidade de Deus exige Sua separação do pecado, merecemos, por sermos pecadores, estar permanentemente separados dEle, sem nenhum senso de Sua presença, abandonados à própria sorte e impossibilitados de nos comunicar com Ele ou de contar com Sua ajuda. Alguns veem o inferno como a culminação e continuação das escolhas das pessoas que removeram Deus de suas vidas na Terra, o que continua de forma ainda mais acentuada, após a morte.
Deus é o juiz supremamente correto e justo. É o único verdadeiro discernidor dos pensamentos e intentos do coração. Somente Ele pode saber e entender plenamente as ações, os motivos e os propósitos de alguém e, portanto, somente Ele pode julgar corretamente. Nós, humanos, muitas vezes julgamos pelas aparências ou segundo nosso entendimento de uma situação. Entretanto, Deus conhece a essência das coisas.
Deus é um juiz justo, um Deus que expressa a sua ira todos os dias.[11]
Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a Sua vinda.[12]
A palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.[13]
A retidão e a justiça de Deus podem, de algumas maneiras, assustar. Saber que Deus odeia o pecado, que se indigna todos os dias e que o pecado precisa ser punido é assustador. Por outro lado, é o que torna a salvação tão bela e importante. Deus nos ama e enviou Seu filho para nos salvar da punição que nós, pecadores, merecemos.
Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou, e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.[14]
Jesus sofreu por nós, levou nossos pecados na cruz e foi punido pelas nossas transgressões. É a magnificência do amor de Deus por nós. Não temos de viver com medo do juízo. Deus criou uma forma de nos conectarmos a Ele e nos tornarmos Seus filhos, em vez de sermos condenados à permanecer separados dEle. Temos essa garantia maravilhosa que nos urge a testificar e levar a salvação aos outros.
Entender que Deus é reto e justo também nos ajuda a confiar nEle, pois sabemos que podemos contar que Ele sempre fará o que é certo a nosso respeito, mesmo se não virmos assim no momento. Deus conhece todas as coisas e nos ama. Por isso, podemos repousar confiantemente nEle em todas a situações.
No próximo ensaio, trataremos do amor, da misericórdia e da graça de Deus, em contraponto à sua justiça e retidão.
Nota
A menos que esteja indicado o contrário, todos os textos das passagens das Escrituras foram extraídos da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea. Copyright © 1990, por Editora Vida. Outras versões frequentemente citadas são a Nova Versão Internacional (NVI) e a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH).
Bibliografia
Barth, Karl. The Doctrine of the Word of God, Vol.1, Part 2. Peabody: Hendrickson Publishers, 2010.
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Craig, William Lane. The Doctrine of God. Defenders Series Lecture.
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Lewis, Gordon R., and Bruce A. Demarest. Integrative Theology. Grand Rapids: Zondervan, 1996.
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Mueller, João Theodore. Christian Dogmatics, A Handbook of Doctrinal Theology for Pastors, Teachers, and Laymen. St. Louis: Concordia Publishing House, 1934.
Ott, Ludwig. Fundamentals of Catholic Dogma. Rockford: Tan Books and Publishers, Inc., 1960.
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Williams, J. Rodman. Renewal Theology, Systematic Theology from a Charismatic Perspective. Grand Rapids: Zondervan, 1996.