Jesus — Sua Vida e Mensagem: O Final do Evangelho segundo João (2ª Parte)

Por Peter Amsterdam

Setembro 13, 2022

[Jesus—His Life and Message: The End of the Gospel of John (Part 2)]

No artigo anterior, vimos que o Evangelho segundo João conta que alguns discípulos foram pescar no Mar de Tiberíades, também conhecido como Mar da Galileia. Entretanto, depois de uma noite de pesca, eles não pegaram nada. Jesus, que estava na praia, instruiu-os a lançar a rede do outro lado do barco, o que resultou na pesca de 153 peixes. Quando os discípulos chegaram à praia, Jesus lhes deu pão e peixe para comer. Neste ponto do Evangelho, o foco muda para o apóstolo Pedro e menciona “aquele discípulo a quem Jesus amava”.

Depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a perguntar-lhe: Simão, filho de João, amas-me? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas. Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Simão entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado terceira vez: Amas-me? E respondeu: Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo. Disse Jesus: Apascenta as minhas ovelhas.[1]

Jesus Se dirigiu a Pedro três vezes de maneira formal, chamando-o Simão, filho de João. Ao perguntar três vezes, Jesus enfatizou a importância da pergunta. Na primeira vez, perguntou: Amas-me mais do que estes? O texto não especifica a quem Jesus Se referia ao dizer “mais que estes”. É possível que estivesse perguntando sobre os peixes; ou, mais provavelmente, a pergunta significava: “Você Me ama mais do que esses outros homens Me amam?” ou “Você Me ama mais do que ama estes homens?” Pedro poderia ter respondido com: “Sim, eu O amo mais do que os outros discípulos O amam”, ou “Não, eu não O amo mais do que os outros discípulos O amam”. No entanto, em vez de fazer comparações, cada vez Pedro respondeu com sabedoria e simplicidade que amava Jesus.

Quando Jesus instruiu Pedro a apascentar Suas ovelhas, o verbo usado tem um significado mais amplo. Entende-se que significa “exercer o ofício de pastor”. Pedro estava sendo incumbido para se engajar em deveres pastorais.[2] A terceira vez que Jesus perguntou a Pedro se ele O amava, Pedro entristeceu-se. Ficou angustiado que Jesus lhe perguntasse três vezes se O amava. Ao invés de responder como nas duas primeiras vezes, apontou para o conhecimento de Jesus sobre todas as coisas, que Ele sabia o que se passava no coração das pessoas e, portanto, sabia que Pedro o amava.

Esse incidente mostra a restituição de Pedro à liderança. Antes da morte de Cristo, Pedro negara o Senhor três vezes;[3] agora, afirma seu amor por Cristo três vezes. Como resultado, Jesus confere a Pedro a tarefa de cuidar de Suas ovelhas. Apesar dos erros de Pedro, Jesus o recolocou em uma posição de confiança.

Em verdade, em verdade te digo que quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; mas quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres. Jesus disse isto significando com que tipo de morte havia ele de glorificar a Deus. Então lhe disse: Segue-me![4]

Após atribuir Pedro a tarefa de apascentar as Suas ovelhas, Jesus continuou com uma profecia, precedida pôr em verdade, em verdade te digo. Jesus refere-se à antiga vida de Pedro, antes de tornar-se um dos Seus discípulos, e contrastou os dois períodos da sua vida. Quando era mais novo, vestia-se e ia para onde queria. No entanto, quando ficasse mais velho, não seria o mesmo. A explicação geralmente dada pelos comentaristas é que essa profecia se referia à morte de Pedro, por meio da qual o apóstolo glorificaria a Deus. Embora as palavras sejam genéricas, entende-se que estenderás as mãos se referia à crucificação de Pedro. Jesus lembrou a Pedro que no passado, quando ele era jovem, ele tinha a liberdade de ir e vir como quisesse; mas no futuro, quando fosse velho, não seria mais livre para fazê-lo. Entende-se que Pedro foi crucificado de cabeça para baixo em uma cruz com as mãos estendidas.

Pedro, voltando-se, viu que o seguia o discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se reclinara sobre o seu peito, e dissera: Senhor, quem é que te há de trair? Vendo-o Pedro, perguntou a Jesus: Senhor, e deste que será? Respondeu-lhe Jesus: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Segue-me tu.[5]

Depois que a posição de Pedro foi restaurada, ele se virou e viu o discípulo amado, que é consenso que fosse o apóstolo João, andando atrás deles. João é descrito como o discípulo que perguntou a Jesus quem iria traí-lO. Pedro, no seu habitual estilo franco, perguntou sobre o futuro daquele discípulo. Jesus não respondeu à pergunta de Pedro, provavelmente porque o futuro de João não era da conta de Pedro. Em vez disso, Jesus repetiu Seu comando anterior, segue-me.

Então divulgou-se entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não disse que ele não morreria; mas: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa a ti?[6] 

O autor do Evangelho se refere a um mal-entendido que se espalhou entre os crentes, de que o apóstolo João não morreria, mas que viveria até o retorno de Jesus. O evangelista quis corrigir a má interpretação, pois Jesus não dissera “Ele não morrerá”, mas que não faria diferença para Pedro se João permanecesse vivo até a Sua volta.

Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu. [Nós] Sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.[7]

O discípulo “a quem Jesus amava” é agora identificado como o escritor deste Evangelho. Ele é o discípulo que dá testemunho do que aconteceu e que escreveu essas coisas, o que aponta para o apóstolo João. O texto não indica a quem se refere ao dizer que “[Nós] sabemos que o testemunho é verdadeiro”. Um autor diz: O uso do pronome “nós” tem grande importância; existe uma igreja apostólica cuja própria existência é uma confirmação e afirmação do testemunho do apóstolo.[8]

Jesus fez muitas outras coisas. Se cada uma delas fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que seriam escritos.[9]

Este Evangelho termina com um lembrete de que o autor apresentou apenas uma seleção das muitas coisas que Jesus dissera e fizera. O autor não relatou tudo que sabia sobre o que Jesus dissera e fizera. Explica que se tudo sobre Jesus fosse escrito, o mundo inteiro não poderia conter todos os livros resultantes. João nos lembra que, embora tenhamos ouvido muito sobre o que Jesus fez e disse, há limitações em nosso conhecimento. Há muito mais que Jesus fez em Sua vida do que o que é apresentado aqui. No entanto, as informações que recebemos nesse Evangelho são mais do que adequadas, como afirmado anteriormente: Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.[10]

Isso nos leva ao final do Evangelho segundo João.


Nota

A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 2001, por Editora Vida.


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[1] João 21:15–17.

[2] Morris, The Gospel According to John, 771.

[3] João 18:15–27. Ver também Mateus 26:33–35, 73–75. Lucas 22:54–62. Marcos 14:69–72.

[4] João 21:18–19.

[5] João 21:20–22.

[6] João 21:23.

[7] João 21:24.

[8] Morris, The Gospel According to John, 777.

[9] João 21:25.

[10] João 20:31.

 

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