Por Peter Amsterdam
Agosto 6, 2024
[Virtues for Christ-Followers: Patience]
Referências sobre a paciência de Deus são encontradas em toda a Bíblia. No Novo Testamento somos instados a cultivar essa virtude em nossas vidas e a aprendermos a ser pacientes. A paciência se interliga às outras virtudes, como vemos no belo “capítulo do amor”, 1 Coríntios 13: “O amor é paciente”1 e quando somos pacientes com os outros, demonstramos bondade, compaixão, gentileza e humildade. A paciência é uma obra do Espírito de Deus que nos capacita a suportar situações difíceis e enfrentar as pressões da vida sem perdermos a calma nem a compostura.
A palavra comumente traduzida na Bíblia como paciência aparece em várias passagens no sentido de resistência, perseverança, capacidade de se manter firme diante e de progredir nas adversidades. As Escrituras nos oferecem vários exemplos de pessoas que exercitaram a paciência em circunstâncias difíceis ou desafiadoras. Jó, Davi, Jacó e José foram pacientes e confiantes de Deus ao passarem por adversidades, tornando-se exemplos para os crentes. “Pois tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança.”2
Os artigos a seguir destacam esses princípios.
Para os cristãos é angustiante. Queremos que as pessoas superem rapidamente o luto. Não gostamos quando o perdão demora a vir. Procuramos cura instantânea e pressionamos os outros por uma transformação total sem nenhum período de incubação.
Refletindo sobre o nascimento de Cristo, aqui está o que eu percebi: Ao vir como bebê, Jesus automaticamente submeteu o selo de aprovação de Deus a um processo lento.
O anjo anunciou a salvação aos pastores, mas o que viram no presépio foi um bebê comum que demoraria para crescer. Levaria mais de três décadas para que o significado do plano de redenção de Deus se tornasse visível.
Nesse meio tempo, Jesus teve que passar pela dentição, treinamento no penico e puberdade. Aprendeu a andar, a falar, passou noites sem dormir, conversou com inúmeras pessoas, teve as mãos calejadas, Seu hálito cheirava a peixe e deu topadas que deixaram os dedos dos Seus pés machucados.
Por que Deus faria isso? Por que não enviar Seu filho como um homem crescido que foi direto para a cruz, ou pelo menos diretamente para Seu ministério público?
Jesus passou a maior parte da vida terrena em processo, “crescendo em sabedoria e estatura”, como diz a Bíblia. Isso significa que a bênção completa e irrestrita de Deus deve repousar tanto no processo quanto na conclusão. O “tornar-se” foi tanto parte de Seu plano quanto o fim. A graça para a lentidão está incorporada na própria natureza da Encarnação.
Reclamamos das demoras de Deus, mas vale lembrar da palavras de Pedro: “O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Ao contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.” (2 Pedro 3:9).
A empresa que construiu nossa casa, há 12 anos, entregava os imóveis em tempo recorde. Gostamos disso, pois mal podíamos esperar para nos mudar. Todavia, há partes da construção de uma casa que não devem ser executadas às pressas. O primeiro sinal disso foi quando os canos de esgoto entupiram cinco dias depois de pegarmos as chaves. Até hoje, a casa tem certos “defeitos de caráter” com os quais convivemos, resultantes da construção apressada.
Deus Se move lentamente para o nosso bem. O que é necessário de nossa parte não é paciência, mas rendição.
Deus está trabalhando mesmo quando não vejo. Entender que todos estamos em processo, nos ajuda a termos mais compreensivos com as outras pessoas. Se o próprio Deus não espera desempenho máximo de você hoje, quem sou eu para estabelecer um padrão mais alto para você?
Um dos clamores da Bíblia é “Até quando, Senhor?” Mas o fato de Jesus ter vindo como um bebê me ajuda a aceitar — e sim, até mesmo desfrutar — a lentidão do meu progresso. — Jeff Peabody3
Em Atos 17:26, o apóstolo Paulo fala de um plano que abrange todos os planos existentes: “De um só [homem] fez Ele todos os povos, para que povoassem toda a terra, tendo determinado os tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos em que deveriam habitar.” Em outras palavras, desde o início, Deus tinha um plano: o ato da criação não foi aleatório. Deus não estava em busca de algo para fazer num domingo à tarde e então, bum, fez a Terra! Existe um plano abrangente que se desenrola a cada dia da existência humana no planeta Terra.
Mas há algo ainda mais incrível e pessoal nisso para você e para mim: cada ser humano neste planeta resultou de um ato intencional de criação. Deus é um planejador, com planos para todos. O rei Davi afirma sobre Deus: “Os Teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir”.4 Em uma passagem em que Jó descreve a natureza de Deus, diz a Deus: “Tu já marcaste quantos meses e dias cada um vai viver; isso está resolvido, e ninguém pode mudar”.5
Imagine Deus planejando a vida de Moisés. O primeiro capítulo não mostra Moisés dividindo o Mar Vermelho; na verdade, nem mesmo começa com Moisés recebendo as orientações de Deus na sarça ardente no Monte Horebe. Os capítulos e páginas abrangem cerca de 80 anos antes de qualquer um desses eventos. Ao estudar a vida de Moisés, é fácil maravilhar-se com os 40 anos que ele passou cuidando de ovelhas — pensamos no homem paciente que ele deve ter se tornado no final dessa provação. Percebo agora que quem demonstrou a virtude da paciência nessa história foi Deus. Imagine criar um personagem que só estaria pronto para fazer o que você planejou para ele 80 anos após sua criação.
Em uma carta aos Romanos, Paulo chama Deus de “o Deus da paciência”.6 Deus é descrito como paciente e longânimo na Bíblia. Paciência é uma das características atribuídas a Ele. Se Ele foi tão paciente com Seu plano para Moisés e com Seus planos para toda a humanidade, penso que não seja muito difícil imaginar que também deseja que sejamos pacientes com o que Ele está fazendo em nossas vidas. Se Ele acredita que vale a pena esperar por nós, então devemos também acreditar nisso. — T.M.7
Em uma sociedade em que se valoriza o imediatismo, esperar por qualquer coisa parece antiquado e talvez até desagradável. No entanto, a paciência é um conceito profundamente bíblico, cuja prática tem o potencial de nos permitir viver sabiamente e bem em um mundo decaído, confiantes nos propósitos e promessas do nosso bom Deus. A Bíblia nos instrui: “Imitem aqueles que, por meio da fé e da paciência, recebem a herança prometida” (Hebreus 6:12). E quando o assunto é paciência, a vida de Jó é um dos exemplos citados nas Escrituras.
Na Bíblia, Jó é um homem piedoso a quem Deus permite passar por muitas provações. Ele perde sua riqueza, sua saúde e seus filhos, e sua esposa e amigos o questionam e se viram contra ele. Através de suas muitas perdas e tristezas, Jó lida com perguntas e dúvidas, mas permanece conectado com Deus através da oração, esperando ativamente que Deus o ajude a superar aquele período de intensa adversidade.
Ele declara: “Embora ele me mate, ainda assim esperarei nele” (Jó 13:15), e “Eu sei que o meu Redentor vive e que no fim se levantará sobre a terra. E, depois que o meu corpo estiver destruído e sem carne, verei a Deus” (Jó 19:25-26).
No final, a paciência de Jó é recompensada. Embora Deus não explique completamente o “porquê” de tudo que aconteceu, Ele justifica Jó, repreendendo seus amigos por criticá-lo e restaurando a família e as riquezas de Jó. No livro de Tiago, os crentes são instados a imitar Jó: “Sejam também pacientes[...] Consideramos felizes aqueles que mostraram perseverança. Vocês ouviram falar sobre a perseverança de Jó e viram o fim que o Senhor lhe proporcionou. O Senhor é cheio de compaixão e misericórdia” (Tiago 5:8-11).
Jó não é o único elogiado por sua paciência na Bíblia, como lemos no trecho da carta de Tiago, pouco antes de citá-lo: “Irmãos, tenham os profetas que falaram em nome do Senhor como exemplo de paciência diante do sofrimento” (Tiago 5:10). No livro de Hebreus, lemos que “depois de esperar pacientemente, Abraão alcançou a promessa” (Hebreus 6:15).
Os exemplos de Jó e de outros citados nas Escrituras têm um caráter pedagógico em nossas próprias vidas, pois nos ensinam a cultivar uma paciência que honre a Deus, em vez de exigir tudo instantaneamente...
Alguns dos momentos mais belos no livro de Jó são quando ele expressa sua fé na bondade do caráter de Deus, apesar de não estar sentindo essa bondade no momento de sua oração. Da mesma forma, quando estamos passando por momentos que parecem obscurecer a bondade de Deus, podemos confiar que Sua bondade permanece, assim como temos toda a confiança de que o sol voltará a brilhar...
E podemos tornar nossa a oração de Paulo, [para que sejamos] “fortalecidos com todo o poder, de acordo com a força da sua glória, para que [tenhamos] toda a perseverança e paciência com alegria” (Colossenses 1:11). — Jessica Udall8
É difícil imaginar que um homem com um sorriso gentil e debilidade de saúde pudesse virar o mundo de cabeça para baixo. Foi o que fez William Wilberforce, uma vez descrito como “irrelevante”, — mas não pela força.
O comércio de escravos no final do século 18 envolvia milhares de africanos, centenas de navios e milhões de libras. Da escravidão dependiam as economias da Grã-Bretanha e grande parte da Europa. Poucos estavam cientes dos horrores da chamada “Passagem do Meio” ou “Travessia do Atlântico”, na qual, estima-se que morria um em cada quatro africanos escravizados.
Wilberforce sabia dessa tragédia, que grandemente o angustiava.
Em maio de 1788, com a ajuda do pesquisador Thomas Clarkson (a quem elogiou como fundamental para o sucesso da causa), Wilberforce apresentou uma moção de 12 pontos ao Parlamento, na qual condenava o comércio de escravos. A moção foi rejeitada. Proprietários de plantações, homens de negócios, donos de navios, tradicionalistas e até a Coroa se opuseram ao movimento. Os abolicionistas eram vistos como radicais perigosos.
No entanto, Wilberforce se recusou a desistir, apresentando um projeto de lei contra o comércio de escravos em 1791, que também foi derrotado.
Outra derrota seguiu, em 1792.
Mais uma, em 1793.
Vieram outras também em 1797, 1798 e 1799. E em 1804 e 1805.
Pouco a pouco, porém o público começou a apoiar os esforços dos abolicionistas, até que, em 1806, o Parlamento aboliu o comércio de escravos em todo o Império Britânico. Wilberforce chorou de alegria.
Recusando-se a descansar sobre os louros dessa vitória, passou a trabalhar pela libertação de todos os escravos, o que também exigiu uma persistência notável. Por fim, no verão de 1833, o Parlamento Britânico aprovou a Lei de Abolição da Escravatura. Três dias depois, Wilberforce faleceu.
Wilberforce e seus aliados (ele nunca agiu sozinho nem se arrogou o mérito) conseguiram livrar a Grã-Bretanha, a maior potência mundial da época, do maior mal da época – municiados com nada mais que a aplicação constante de fé, política e persistência. — Mark Galli 9
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Esse tipo de paciência perseverante e duradoura tem uma forte conexão com a esperança. Somos pacientes em circunstâncias difíceis porque acreditamos que o Senhor nos dará graça e, no Seu tempo, nos conduzirá à vitória, assim como fez com os grandes nomes da fé. Como Paulo ensinou na carta aos Romanos: “Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração”.10 E Tiago fala sobre permitir que a paciência complete sua obra em nossas vidas: “Vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem que falte a vocês coisa alguma”.11
A seguinte citação ilustra esse princípio:
Os frutos do Espírito são a imagem perfeita de quem Jesus é e como Ele age: “O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. (Gálatas 5:22-23)
Como Deus produz esse tipo de fruto nas nossas vidas? Ele nos coloca em situações contrárias ao fruto que quer que nasça em você. É fácil amar pessoas amáveis; Deus vai nos ensinar a amar nos colocando perto de pessoas grosseiras, para precisemos aprender a amar. Na tristeza, aprenderemos a nos alegrarmos e a paciência crescerá em nós, conforme for colocada à prova.
Deus quer construir o seu caráter. Você pode querer que o processo seja rápido e fácil, como uma máquina de venda automática. Esse tipo de equipamento fornece o que você quiser imediatamente, mas, tipicamente, são produtos de baixo valor que lhe prejudicarão no longo prazo. A maneira como Deus trabalha é o oposto de uma máquina de venda automática. É lenta e às vezes difícil, mas com o tempo, construirá um caráter forte em você.
Lembre-se de que crescer espiritualmente é o projeto de uma vida. Seja paciente.” — Rick Warren12
Outra virtude que requer paciência na sua formação é a tolerância com as falhas, limitações e fracassos alheios. Todos temos imperfeições. Paciência, nesse caso, significa tolerar as imperfeições nos outros que nos incomodam. Devemos, com paciência e motivados por amor, fazer concessões aos outros pelas suas imperfeições.13
É bom lembrarmos que Deus é paciente conosco todos os dias, não apenas com as peculiaridades de nossa personalidade, mas também com nossos pecados. Ele não Se irrita ou Se aborrece com nossas falhas e fraquezas; pelo contrário, em Seu amor e misericórdia, Ele é paciente conosco repetidas vezes. Enquanto Seus seguidores, somos chamados a dispensar essa mesma misericórdia e paciência aos outros e a tratá-los como gostaríamos de ser tratados,14 como Jerry Bridges aponta:
“Todos os dias, Deus nos suporta pacientemente, e todos os dias somos tentados a ficar impacientes com nossos amigos, vizinhos e familiares. Contudo, nossas falhas e fracassos diante de Deus são muito mais sérios do que as ações mesquinhas dos outros que tendem a nos irritar! Deus nos chama a suportar graciosamente as fraquezas dos outros, tolerando-os e perdoando-os assim como Ele nos perdoou.” — Jerry Bridges
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“Somente se virmos Deus em tudo nos tornaremos amorosos e pacientes com aqueles que nos irritam e perturbam. É dessa forma que se realizarão em nossas vidas Seus propósitos ternos e sábios, a ponto de passarmos a agradecer, em nosso íntimo, pelas bênçãos que esses incômodos nos trazem.” — Hannah Whitall Smith
“Quando a Bíblia descreve a paciência ... fala de uma virtude que vai muito além da simples habilidade de esperar por algum benefício futuro. Envolve mais do que o descanso ou a paz da alma que confia no timing perfeito de Deus. A paciência que é vista aqui se concentra mais nos relacionamentos interpessoais. É a paciência de longanimidade e de suportar quando somos prejudicados. Esta é a paciência mais difícil de todas.” — R.C. Sproul
Senhor Jesus, o antigo significado de paciência é “sofrimento prolongado”, e Você sem dúvida sofreu infinitamente em vez de me dar o castigo que meus pecados mereciam. Sua paciência comigo é indescritível. Que essa verdade me torne paciente com as pessoas ao meu redor, com minhas circunstâncias, e com cada propósito Seu para a minha vida. Amém. — Tim Keller
“Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração.” (Romanos 12:12).
“Esperar é difícil, mas se você deseja andar com Deus, precisa cultivar um coração paciente para esperar nEle.” — James K. Saah
“O Deus que concede perseverança e ânimo dê a vocês um espírito de unidade, segundo Cristo Jesus.” (Romanos 15:5).
“A paciência é o brilho transcendente de um coração amoroso e terno que, em seus tratos com aqueles ao seu redor, os vê com bondade e graça.”—Billy Graham
(Para mais sobre a virtude da paciência, veja: Mais Como Jesus: Paciência. Continua.)
Nota
A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução NVI.
1 1 Coríntios 13:4.
2 Romanos 15:4.
3 Jeff Peabody, “What Christmas Says to the Impatient Pastor,” Christianity Today, 22 de dezembro de 2015
4 Salmo 139:16 NVI.
5 Jó 14:5 NTLH.
6 Romanos 15:5.
7 Adaptado de um artigo do Just1Thing , "Paciência e os Planos de Deus", publicado em Âncora em 2017.
10 Romanos 12:12.
11 Tiago 1:3-4.
13 Efésios 4:2.
14 Lucas 6:31.
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