1 Coríntios: Capítulo 8 (versículos 1–13)

Por Peter Amsterdam

Março 3, 2025

[1 Corinthians: Chapter 8 (verses 1–13)]

Neste capítulo da epístola de Paulo aos Coríntios, aprendemos da existência de uma controvérsia entre os crentes daquela cidade. A questão era se os cristãos deveriam ou não comer carne oferecida aos ídolos.

Com respeito aos alimentos sacrificados aos ídolos, sabemos que todos temos conhecimento. O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica. (1 Coríntios 8:1).

Na cultura grega da época de Paulo, as famílias costumavam oferecer animais para sacrifício em templos pagãos. Em muitos desses rituais, parte da carne era queimada e parte ficava para os sacerdotes e para a família fazendo a oferta, para consumo próprio ou para a venda ao público.

Os templos pagãos também costumavam funcionar como açougues e salões de banquetes e refeitórios. Refeições para organizações comerciais, clubes e jantares privados eram realizados regularmente na sala de jantar do templo. Nesta seção de 1 Coríntios, Paulo orienta quanto ao uso desses alimentos. O concílio de Jerusalém proibiu os cristãos de comer esses alimentos, dizendo que deveriam se abster de comida sacrificada aos ídolos (Atos 15:29). No entanto, na Igreja de Corinto, houve alguma controvérsia sobre o consumo pelos crentes dessa carne consagrada. Aqui, Paulo lida principalmente com as refeições feitas em templos pagãos que haviam sido sacrificadas aos ídolos.

Ao dizer "todos temos conhecimento", referia-se ao fato de todos saberem que os ídolos não eram nada e que existe apenas um Deus e adiciona que o conhecimento incha, mas o amor edifica. Ao sublinhar o amor como superior ao conhecimento, declara o risco de que conhecimento, sem o devido cuidado, pode levar ao pecado.

Paulo alertou para a importância de resistir a tendência do orgulho que vem do conhecimento, apontando para a verdadeira natureza dos que se consideram entendedores de certo assunto e do risco de ficarem arrogantes.

Quem pensa conhecer alguma coisa, ainda não conhece como deveria (1 Coríntios 8:2).

Paulo não estava falando contra pessoas que têm conhecimento, mas alertando para o fato de estarem expostas ao orgulho os que se entendem grandes conhecedores de um certo tema. Entende que essas pessoas ainda não sabem como deveriam saber. Não percebem que todo conhecimento humano é fragmentário e dificilmente deveria ser objeto de orgulho e arrogância.

Mas quem ama a Deus, este é conhecido por Deus (1 Coríntios 8:3).

Paulo desejava que os coríntios se concentrassem no amor e não no conhecimento. Lembrou-lhes de que aquele que ama a Deus é “conhecido por Deus”. A expressão é usada em outros escritos de Paulo com referência à redenção (Gálatas 4:9) e ressalta que, diferentemente das pessoas que orgulhosamente concentram suas vidas religiosas em torno da aquisição de conhecimento, aqueles que se concentram no amor mostram que foram redimidos.

Portanto, em relação ao alimento sacrificado aos ídolos, sabemos que o ídolo não significa nada no mundo e que só existe um Deus (1 Coríntios 8:4).

O apóstolo então retorna ao tópico principal: o consumo da comida oferecida a ídolos. Ao destacar que todos sabiam que os ídolos não eram nada e que Deus é o único verdadeiro, pacificou a questão em torno de a carne ter sido uma oferenda, pois não poderia haver nenhuma restrição ao consumo de carne ofertada a algo que sequer existia.

Obviamente, Paulo reconhecia haver uma realidade espiritual maligna dentro da idolatria pagã, e que os idólatras adoravam demônios, como diziam as Escrituras. Sacrificaram a demônios que não são Deus, a deuses que não conheceram, a deuses que surgiram recentemente, a deuses que os seus antepassados não adoraram (Deuteronômio 32:16-17). Em um trecho posterior desta epístola, o autor esclarece que "o que os pagãos sacrificam é oferecido aos demônios" (1 Coríntios 10:18-22)

Comparados a Deus, os demônios não são nada e não devem ser temidos. Os crentes não devem ser supersticiosos sobre as coisas que estão associadas à idolatria, como comida oferecida a ídolos. Como escreveu o apóstolo João, “aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo” (1 João 4:4). Portanto, Paulo não via porque proibir que os Coríntios comessem carne sacrificada aos ídolos.

Pois, mesmo que haja os chamados deuses, quer no céu, quer na terra (como de fato há muitos “deuses” e muitos “senhores”); para nós, porém, há um único Deus, o Pai, de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos (1 Coríntios 8:5–6).

Os opositores de Paulo poderiam facilmente ter argumentado que, em certo sentido, sim, existem outros deuses. O próprio Paulo reconheceu a existência de muitos "deuses" e muitos "senhores" adorados mundo afora. No entanto, para os cristãos, há apenas um Deus. Este único Deus é o Pai, que é a fonte de todas as coisas. Há também um Senhor, Jesus Cristo.

Para enfatizar a unidade do Deus verdadeiro, Paulo atribui qualidades similares tanto ao Pai como ao Filho. São a origem de todas as coisas e são Eles que dão e sustêm a vida. O Deus do cristianismo ofusca todos os outros que possam ser chamados de "deuses" ou senhores.

Contudo, nem todos têm esse conhecimento. Alguns, ainda habituados com os ídolos, comem esse alimento como se fosse um sacrifício idólatra; como a consciência deles é fraca, fica contaminada (1 Coríntios 8:7).

Aparentemente, alguns crentes em Corinto não conseguiam pensar de uma nova maneira sobre a comida oferecida aos ídolos. Ao comerem o que acreditavam ter sido dedicado a um poder ou deus, nutriam a esperança de se beneficiarem do sacrifício. Assim, por terem a consciência contaminada ao consumirem aquele alimento, violavam o senso de lealdade a Cristo e não confiaram exclusivamente nEle.

A comida, porém, não nos torna aceitáveis diante de Deus; não seremos piores se não comermos, nem melhores se comermos (1 Coríntios 8:8).

Para Paulo, comida é só comida. Comer ou deixar de comer algo não tem relevância para Deus. Não há pecado intrínseco a qualquer alimento ou bebida. Isso não significa, contudo, não haver limites para os crentes, como Paulo esclarece ao destacar a importância de comermos com a motivação certa e a consciência limpa diante de Deus é importante. Qualquer ato realizado que viole a consciência e, portanto, sem fé, é um pecado. 

Aquele que tem dúvida é condenado se comer, porque não come com fé; e tudo o que não provém da fé é pecado (Romanos 14:23).

Contudo, tenham cuidado para que o exercício da liberdade de vocês não se torne uma pedra de tropeço para os fracos (1 Coríntios 8:9).

Paulo concorda que não existe comida boa ou má – comida é comida. Também endossou o entendimento de que os ídolos em si não são divindades reais e que para Deus o importante era o motivo pelo qual comemos e se o fazemos com a consciência limpa. A pessoa que come convencida de que está cometendo um pecado erra. Fazer seja o que for sem a certeza da permissão de Deus é um pecado, mesmo que o ato em si não seja errado. Este é um aspecto importante da crença cristã.

Pois, se alguém que tem a consciência fraca vir você que tem esse conhecimento comer num templo de ídolos, não será induzido a comer do que foi sacrificado a ídolos? Assim, esse irmão fraco, por quem Cristo morreu, é destruído por causa do conhecimento que você tem (1 Coríntios 8:10–11).

Paulo apresentou uma situação teórica para ilustrar sua preocupação. Se um cristão que entende não haver nada inerentemente errado em comer comida sacrificada a ídolos é visto comendo em um templo pagão por outro crente que tem uma consciência fraca, este mal-informado pode decidir fazer a mesma coisa. Vai interpretar que o primeiro procura estar em bons termos com falsos deuses para se beneficiar com isso e que a idolatria é compatível com o cristianismo. O irmão com consciência fraca poderia então ficar propenso a se envolver em idolatria. Portanto, embora seja permitido comer carne oferecida aos ídolos, seria melhor não fazê-lo para evitar o tropeço de um crente mais fraco.

Paulo não explicou em que sentido essa destruição ocorreria. Talvez se referisse a algo mais simples como desânimo e confusão, ou algo pior, como a morte. A palavra traduzida como destruído geralmente se refere à morte ou destruição completa. No entanto, provavelmente é melhor equilibrar com as outras declarações de Paulo, onde ele falou de uma consciência contaminada (8:7), uma consciência ferida (8:12) e cair em pecado (8:13).

Paulo lembrou aos esclarecidos que Cristo também morrera por aqueles irmãos e irmãs de consciência fraca. Portanto, crentes experientes não devem ser indiferentes aos fracos, pois se estes eram preciosos para Cristo, deveriam ter seu valor reconhecido também para todos os outros crentes.

Quando você peca contra seus irmãos dessa maneira, ferindo a consciência fraca deles, peca contra Cristo (1 Coríntios 8:12).

Para tornar a comunicação da mensagem ainda mais robusta, Paulo destaca a relação entre essas ações e Cristo. Jesus fez mais do que morrer por aquelas pessoas, mas as tornou de tal forma parte de Si que, como o próprio Paulo ensina, quando você peca contra seus irmãos dessa maneira, peca contra Cristo. Pecar contra os que estão em Cristo, que são parte de Seu corpo, é pecar contra o próprio Cristo.

Portanto, se aquilo que eu como leva o meu irmão a pecar, nunca mais comerei carne, para não fazer meu irmão tropeçar (1 Coríntios 8:13).

Depois de estabelecer que pecar contra seu irmão ou ferir sua consciência é pecar contra Cristo, Paulo conclui com firmeza: por amor a outros cristãos e ao próprio Cristo, ele nunca mais comeria carne, se isso fizesse com que seu irmão caísse em pecado. Em Corinto, naquela época, a maior parte da carne vendida no mercado vinha de oferendas feitas aos ídolos. Então, Paulo não exagerou quando disse nunca mais comerei carne, lembrando apenas que o contexto aqui se refere especificamente a comer em templos pagãos.

Em um capítulo posterior nesta epístola, Paulo escreveu que quando os crentes são convidados a comer com os incrédulos, devem comer tudo o que lhes é oferecido, incluindo carne, sem levantar qualquer dúvida com base na consciência (1 Coríntios 10:27).


Nota
A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução NVI.

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