Por Peter Amsterdam
Março 23, 2025
[1 Corinthians: Chapter 9 (verses 1–17)]
Não sou livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Não são vocês resultado do meu trabalho no Senhor? Ainda que eu não seja apóstolo para outros, certamente o sou para vocês! Pois vocês são o selo do meu apostolado no Senhor(1 Coríntios 9:1–2).
Paulo inicia este capítulo com perguntas retóricas sobre sua liberdade e seu apostolado. Os apóstolos eram os principais líderes da igreja; juntamente com os profetas, formavam a base da Igreja, pelo que tinham certos direitos, autoridade e responsabilidades.
Ele também desafia os coríntios ao lembrar que vira Jesus no caminho para Damasco (Atos 9:3–8), afirmando assim que ninguém deveria questionar sua condição de apóstolo. Em seguida, recorda aos coríntios que foi pela sua obra que eles vieram a Cristo, visto que a igreja de Corinto era, de fato, o fruto do ministério de Paulo (Atos 18:1–11). Enquanto os que não o conheciam poderiam ter dúvidas, os coríntios eram, eles próprios, a prova incontestável do seu apostolado.
As perguntas retóricas neste capítulo sugerem que alguns coríntios que se opunham a Paulo teriam questionado sua autoridade apostólica. O poder do Espírito Santo em sua pregação era tão evidente que os coríntios deveriam ter reconhecido e respeitado seu ministério. Em outra ocasião, Paulo chegou a comparar os crentes a uma carta de recomendação escrita a favor em seu favor (2 Coríntios 3:2), pois a própria conversão deles confirmava sua autoridade.
Essa é minha defesa diante daqueles que me julgam(1 Coríntios 9:3).
A seguir, Paulo passa a se defender dos que o julgavam, utilizando outra série de perguntas. Pelo que fora discutido no capítulo anterior (1 Coríntios 8) – tema que ele retomará no capítulo 10 – percebe-se que se arrogavam o direito de comer o que lhes agradasse, inclusive carne sacrificada a ídolos em templos. Esses mesmos indivíduos se ressentiam do ensinamento de Paulo, que recomendava abster-se dessa prática por preocupação com o bem-estar espiritual daqueles cuja consciência era mais fraca e que poderiam se escandalizar (1 Coríntios 8:8–9). Para os que o criticavam, parecia contraditório que Paulo, reconhecendo que tal prática era teologicamente admissível e uma liberdade legítima para todo cristão, insistisse para que os mais fortes se abstivessem em favor dos mais fracos (1 Coríntios 8:10–13).
Para se defender, Paulo recorre à maneira como escolhera viver. Sua postura quanto ao consumo de carne sacrificada a ídolos não era sinal de fraqueza, mas sim a expressão dos princípios cristãos fundamentais que o guiavam.
Não temos nós o direito de comer e beber? Não temos nós o direito de levar conosco uma esposa crente como fazem os outros apóstolos, os irmãos do Senhor e Pedro? Ou será que só eu e Barnabé não temos direito de receber sustento sem trabalhar?(1 Coríntios 9:4–6)
Paulo introduz sua defesa por meio de perguntas e afirmações, questionando a respeito de si mesmo e de Barnabé – este último, um dos primeiros discípulos e companheiro missionário de Paulo:
1. Paulo e Barnabé tinham o direito a comer e beber enquanto ministravam? Sim.
2. Tinham o direito a ter esposas crentes consigo, assim como os demais apóstolos? Sim.
3. Seriam eles os únicos apóstolos desprovidos do direito de serem sustentados pelo trabalho? De maneira alguma.
Mais adiante, Paulo explica como renunciou voluntariamente a alguns desses direitos, pois alguns dos seus acusadores entendiam que Paulo e Barnabé não usufruíam desses direitos por não serem verdadeiramente apóstolos. Para contrariar esse argumento, Paulo reafirma seus direitos apostólicos. Mesmo sustentando-se confeccionando tendas, ele tinha o direito de ser alimentado e remunerado pelo ministério junto aos coríntios; e, ainda que se mantivesse solteiro para melhor servir aqueles a quem ministrava, também tinha o direito de se casar.
Quem serve como soldado à própria custa? Quem planta uma vinha e não come do seu fruto? Quem apascenta um rebanho e não bebe do seu leite?(1 Coríntios 9:7)
Antes de responder por que ele e Barnabé não reivindicaram esses direitos, Paulo fortalece seu argumento usando exemplos cotidianos e referências a outros líderes da igreja:
1. Algum soldado se sustenta por conta própria? Não.
2. Os agricultores consomem o que produzem? Sim.
3. Os pastores bebem o leite produzido pelos seus rebanhos? Sim.
Ao recorrer a exemplos do dia a dia para evidenciar a legitimidade de seus direitos, Paulo demonstra ser legítimo sustentar-se pelo próprio trabalho.
Não digo isso do ponto de vista meramente humano; a Lei não diz a mesma coisa? Pois está escrito na Lei de Moisés: “Não amordace o boi enquanto ele estiver debulhando o cereal”. Por acaso é com bois que Deus está preocupado? Não é certamente por nossa causa que ele o diz? Sim, isso foi escrito em nosso favor. Porque “o lavrador quando ara e o debulhador quando debulha, devem fazê-lo na esperança de participar da colheita”(1 Coríntios 9:8–10).
Paulo faz uma pergunta séria: seriam essas expectativas apenas de uma perspectiva humana ou Deus as confirmou também? Paulo demonstrou que aqueles eram direitos concedidos por Deus, como confirmavam as passagens das Escritura por ele citadas. Para fundamentar o argumento de que a lei do Antigo Testamento sustentava seu direito moral de receber sustento pelo seu ministério, Paulo citou Deuteronômio 25:4: “Não amordacem o boi enquanto está debulhando o cereal”. Nos tempos bíblicos, bois ou cavalos arrastavam uma tábua pesada sobre o grão, circulando ao redor de um poste central; em outras ocasiões, os animais simplesmente pisoteavam o cereal com os pés. A lei do Antigo Testamento não permitia que os agricultores amordaçassem os animais que debulhavam o cereal.
Ao aplicar à sua situação a Lei do Antigo Testamento Paulo enfatiza que Deus Se importa não apenas com os bois, mas, sobretudo, com os seres humanos. Embora a lei regulasse o trabalho dos animais, sustentava um princípio moral mais profundo: quando o lavrador ara e o ceifeiro debulha, é natural que ambos compartilhem da colheita.
Se entre vocês semeamos coisas espirituais, seria demais colhermos de vocês coisas materiais? Se outros têm direito de ser sustentados por vocês, não o temos nós ainda mais? Mas nós nunca usamos desse direito. Ao contrário, suportamos tudo para não pôr obstáculo algum ao evangelho de Cristo(1 Coríntios 9:11–12).
Por ter plantado sementes espirituais em Corinto, Paulo tinha o direito de colher uma remuneração justa por seu trabalho. Destacou que os coríntios se beneficiaram de seu ministério e, por isso, ele tinha um direito ainda maior ao sustento do que os demais líderes apoiados pela comunidade. Contudo, Paulo optou por não exercer esse direito, preferindo suportar dificuldades, para evitar que algo pudesse atrapalhar a propagação do evangelho de Cristo.
Vocês não sabem que aqueles que trabalham no templo alimentam-se das coisas do templo, e que os que servem diante do altar participam do que é oferecido no altar? Da mesma forma, o Senhor ordenou àqueles que pregam o evangelho que vivam do evangelho(1 Coríntios 9:13–14).
Em um esforço final para demonstrar a legitimidade de seu direito à remuneração, Paulo recorda como os sacerdotes e levitas judeus eram sustentados pelo templo e partilhavam das ofertas do altar. Ele via, assim, que o Senhor ordenava que os que pregam recebessem seu sustento do evangelho – possivelmente fazendo alusão também à instrução de Jesus aos apóstolos em Lucas: Fiquem naquela casa e comam e bebam o que derem a vocês, pois o trabalhador merece o seu salário. Não fiquem mudando de casa em casa(Lucas 10:7).
Entretanto, Paulo esclarece:
Mas eu não tenho usado de nenhum desses direitos. Não estou escrevendo na esperança de que vocês façam isso por mim. Prefiro morrer a permitir que alguém me prive deste meu orgulho(1 Coríntios 9:15).
O argumento de Paulo demonstrava de forma contundente que ele merecia ser remunerado por seu ministério. A justiça comum amparava sua posição e, mais importante, a própria lei bíblica endossava essa visão. Não havia motivo para que ele não fosse compensado por seu trabalho.
Embora pudesse exigir que aqueles a quem ministrava o sustentassem, Paulo recusou-se. Abdicou dessa prerrogativa para afastar qualquer controvérsia relacionada ao seu apostolado. Ele não estava reclamando o direito de ser sustentado pelos coríntios, mas afastando qualquer dúvida sobre suas intenções. Paulo não queria que ninguém resistisse ao evangelho por pensar que ele pregava por interesse financeiro; antes, almejava continuar “se gloriando” com as boas novas da graça de Deus em Jesus.
Contudo, quando prego o evangelho, não posso me orgulhar, pois me é imposta a necessidade de pregar. Ai de mim se não pregar o evangelho! Porque, se prego de livre vontade, tenho recompensa; contudo, como prego por obrigação, estou simplesmente cumprindo uma incumbência a mim confiada.(1 Coríntios 9:16–17).
Paulo desejava continuar pregando sem receber compensação dos coríntios, afirmando que era compelido a fazê-lo – não por escolha, mas por chamado divino. Sabia que, se não cumprisse essa ordem, estaria sujeito ao juízo de Deus.
Com frequência, Paulo lembrava que ele e outros cristãos eram movidos pelo desejo de obter recompensa e louvor celestiais. Não queria perder as bênçãos eternas que viriam por pregar voluntariamente, com zelo e sem remuneração. Se não valorizasse sua pregação ou recebesse qualquer compensação pelo seu trabalho, estaria apenas cumprindo um dever, roubando a evangelização do patamar de uma verdadeira missão. Por isso, voluntariamente, ele renunciou ao direito da remuneração financeira.
(Continua.)
Nota
A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução NVI.
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