Por Peter Amsterdam
Abril 8, 2025
Após abordar a vida cristã e utilizar a analogia de uma corrida para destacar a determinação e autodisciplina necessárias para conquistar o prêmio, Paulo continuou sua exortação aos crentes de Corinto.
Porque não quero, irmãos, que vocês ignorem o fato de que todos os nossos antepassados estiveram sob a nuvem e todos passaram pelo mar. Em Moisés, todos eles foram batizados na nuvem e no mar(1 Coríntios 10:1–2).
Paulo usou a palavra “irmãos” aqui, traduzida em outras versões da Bíblia de maneiras diversas — como “companheiros” ou “irmãos e irmãs” — para demonstrar sua preocupação com os coríntios. Era firme com eles, pois os amava e se importava profundamente com eles. Os coríntios que comiam carne sacrificada a ídolos possuíam um certo grau de entendimento de que o ídolo não significa nada no mundo e que só existe um Deus (1 Coríntios 8:4), mas Paulo temia que eles desconhecessem as lições da história do Antigo Testamento e os riscos da idolatria.
Explicou os perigos traçando duas comparações entre as experiências dos coríntios e o peregrinar dos israelitas pelo deserto. Primeiro, Deus providenciou uma nuvem para guiar Israel para fora do Egito (Êxodo 13:21–22) e usou Moisés para dividir o Mar Vermelho e salvar Seu povo (Êxodo 14:21–31). Paulo interpretou esses acontecimentos como os israelitas tendo sido batizados em Moisés, para demonstrar que, de forma similar, os crentes de Corinto foram batizados em Cristo por meio do batismo. Paulo faz essa analogia para relacionar Israel com os coríntios e, por extensão, as lições aprendidas no êxodo.
… todos comeram do mesmo alimento espiritual, e beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam da rocha espiritual que os acompanhava, e essa rocha era Cristo (1 Coríntios 10:3–4).
Ao se referir à comida e à bebida como espirituais, Paulo falou do maná vindo do céu, o qual Deus fornecera a Israel por quarenta anos (Êxodo 16:12–35) e a água que Ele fizera jorrar da rocha em pelo menos duas ocasiões (Êxodo 17:6; Números 20:11). Paulo conectou simbolicamente Cristo à água que dá vida, afirmando que “a Rocha” era Cristo. Assim, o apóstolo descreve Cristo como Aquele que acompanha os israelitas e Lhe atribui o título de “Rocha”, um nome do Antigo Testamento para designar Deus (Deuteronômio 32:4, Salmo 18:2).
Contudo, Deus não se agradou da maioria deles; por isso os seus corpos ficaram espalhados no deserto (1 Coríntios 10:5).
Em seguida, Paulo abordou sua principal preocupação. Em quatro versículos, ele mencionou cinco vezes que “todos” os israelitas compartilharam experiências comuns (1 Coríntios 10:1–4). Estiveram unidos em suas vivências com a graça de Deus, assim como os coríntios foram unidos no batismo cristão e na Ceia do Senhor.
Embora a graça de Deus fora desfrutada por todo o Israel, Deus não Se agradou da maioria dos que migraram do Egito para a Terra Prometida, pelo que muitos morreram no deserto e não tiveram permissão para entrar na Terra Prometida. Paulo mencionou isso para chamar a atenção para uma situação semelhante na igreja de Corinto. Todos os membros da igreja haviam iniciado uma jornada espiritual em Cristo, participado do batismo e da Ceia do Senhor, mas isso não lhes concedia a liberdade de se envolver em comportamentos que desagradavam a Deus, semelhantes aos que resultaram em punições severas sobre o povo de Israel.
Essas coisas ocorreram como exemplos para nós, para que não cobicemos coisas más, como eles fizeram (1 Coríntios 10:6).
Os coríntios deveriam evitar direcionar suas afeções às coisas malignas. Talvez Paulo estivesse aludindo a Números 11:4–6, onde os israelitas valorizavam a comida do Egito em detrimento à lealdade a Deus. Tantos foram os pecados de Israel que, dos adultos que originalmente saíram do Egito, todos morreram no deserto, exceto dois (Números 32:11–13). Até mesmo Moisés não teve permissão para entrar na Terra Prometida (Números 20:12).
Paulo destacou esses exemplos para advertir os coríntios sobre a natureza das bênçãos de Deus. Desobedecer a Deus deliberadamente poderia trazer aos coríntios consequências semelhantes às sofridas pelos israelitas. Paulo queria que os coríntios não permitissem que seus desejos desordenados se sobrepusessem à lealdade que deviam a Deus.
Não sejam idólatras, como alguns deles foram, conforme está escrito: “O povo se assentou para comer e beber, e levantou-se para se entregar à farra” (1 Coríntios 10:7).
Segundo, Paulo advertiu os crentes a não se tornarem idólatras, visto que alguns deles já o eram. Referiu-se ao episódio citado em Êxodo 32:6 para reforçar seu argumento. Enquanto Moisés recebia os Dez Mandamentos no Monte Sinai, Israel começou a se entregar a celebrações pagãs diante de um bezerro de ouro que haviam confeccionado, envolvendo refeições rituais semelhantemente ao que faziam os coríntios em templos pagãos. Por causa dessa idolatria, Deus quase destruiu a nação de Israel. Ordenou que Moisés executasse três mil homens (Êxodo 32:28). Assim, Paulo alertou os coríntios para que levassem muito a sério a tentação de se envolver em práticas de alimentação idólatra.
Não pratiquemos imoralidade, como alguns deles fizeram e num só dia morreram vinte e três mil (1 Coríntios 10:8).
No terceiro exemplo, Paulo advertiu contra a imoralidade sexual, fazendo referência a um incidente registrado em Números, quando vinte e três mil israelitas morreram após se envolverem em idolatria e rituais de fertilidade (Números 25:1–9). A referida passagem dá conta que vinte e quatro mil pessoas morreram, vítimas de uma praga, como forma de punição de Deus por esses pecados. Embora o número citado por Paulo seja um pouco diferente, sua mensagem é clara: muitos pereceram devido à participação em ritos de fertilidade pagãos.
Na época, os praticantes de religiões de fertilidade acreditavam que participar de prostituição e orgias religiosas trazia saúde, fertilidade e prosperidade, prática presente na idolatria vivida em Corinto. Assim, o aviso de Paulo era enfático: comer carne sacrificada a ídolos em templos pagãos e se envolver em seus rituais poderia levar à imoralidade sexual, comportamento ao qual os coríntios já estavam inclinados (1 Coríntios 6:15–16).
Não devemos pôr o Senhor à prova, como alguns deles fizeram e foram mortos por serpentes (1 Coríntios 10:9).
No quarto exemplo, Paulo advertiu os coríntios a não porem o Senhor à prova, como fizeram alguns israelitas no passado, quando blasfemaram contra Deus ao rejeitar o maná (Números 21:4–9). Paulo usou essa narrativa porque alguns em Corinto não estavam satisfeitos com o que Deus lhes havia dado em Cristo. Assim como os israelitas desejaram outro alimento além do maná, os coríntios ansiavam tanto pela carne que ignoravam todas as outras considerações. A retribuição de Deus contra os israelitas antigos servia como um alerta claro aos coríntios para que evitassem essas práticas.
E não se queixem, como alguns deles se queixaram e foram mortos pelo anjo destruidor (1 Coríntios 10:10).
A quinta advertência de Paulo era para que os coríntios não se queixassem, como alguns deles já estavam fazendo, como repetidas vezes fizeram os israelitas no deserto, ao murmurarem contra Deus e contra Seus líderes (Êxodo 15:24; Deuteronômio 1:27). Embora as Escrituras não mencionem um momento específico em que o anjo destruidor tenha aparecido aos israelitas no deserto, conceitos semelhantes surgem em diversas passagens do Antigo Testamento.1 O significado transmitido por Paulo é claro: murmurações e queixas contra Deus resultaram em Seu julgamento e na destruição daqueles que agiram assim.
Essas coisas aconteceram a eles como exemplos e foram escritas como advertência para nós, sobre quem tem chegado o fim dos tempos (1 Coríntios 10:11).
Paulo mais uma vez destacou que os pecados e os julgamentos sofridos pelos israelitas no deserto aconteceram como exemplos e foram registrados no Antigo Testamento como advertências aos cristãos. Esses eventos não foram escritos apenas para o povo de Deus daquela época, mas também para edificação da igreja do Novo Testamento. Os seguidores de Cristo correm constantemente o risco de tratar suas experiências de graça como uma licença para o pecado, mas os exemplos do Antigo Testamento refutam esse tipo de liberdade.
Os estudiosos apresentam diferentes interpretações sobre o que Paulo quis dizer ao se referir aos crentes como aqueles “sobre os quais chegou o fim dos tempos”. Alguns acreditam que ele está afirmando que, com a vinda de Cristo e Sua redenção, as eras anteriores chegaram ao seu fim determinado. Essa também parece ser uma referência escatológica, semelhante às expressões usadas por outros autores do Novo Testamento, como “nestes últimos tempos” (1 Pedro 1:20–21), “esta é a última hora” (1 João 2:18) e “nos últimos dias” (2 Timóteo 3:1).
Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia! (1 Coríntios 10:12).
Os cristãos que estão excessivamente confiantes e pensam estar firmes devem ter cuidado para não cair, como aconteceu com os israelitas no deserto. Paulo não quis dizer que a salvação pode ser perdida, mas adverte aqueles que, equivocadamente, achavam que podiam se entregar a comportamentos que Deus havia proibido.
É provável que Paulo estivesse se dirigindo especialmente àqueles que acreditavam ter liberdade para comer nos templos dos ídolos. Embora agissem com a confiança de que não cairiam por isso, expunham-se ao risco de cair na idolatria e na imoralidade sexual. Paulo talvez estivesse pensando nos irmãos e irmãs mais fracos na fé, que ganhavam coragem para participar dessas refeições pagãs ao ver outros fazendo o mesmo. Ele já havia demonstrado preocupação com o fato de que esses irmãos e irmãs poderiam ser espiritualmente destruídos por causa dessa prática.
Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele mesmo providenciará um escape, para que o possam suportar (1 Coríntios 10:13).
A palavra “tentação”, neste versículo, é usada em um sentido amplo, referindo-se tanto a provações quanto a tentações. Um autor explica: “A imagem é a de um exército encurralado em terreno acidentado, que consegue escapar de uma situação aparentemente impossível por meio de uma passagem entre as montanhas.”2
A mensagem inequívoca de Paulo é que os cristãos não enfrentarão tentações às quais não possam resistir. Primeiro, ele ressalta que todas as tentações enfrentadas pelos cristãos — inclusive a idolatria — são comuns a toda a humanidade. A tentação de transigir e comer alimentos sabidamente sacrificados a ídolos era corriqueira naquela região, mas os coríntios podiam superá-la, a exemplo do que fizeram outros cristãos que resistiram à tentação da idolatria.
Segundo, Deus é fiel e não abandona Seu povo. Ele é digno de confiança e não permitirá tentações além do que os cristãos podem suportar. Deus sempre provê uma saída, um escape, para que os crentes resistam e não pequem. Ele mesmo não tenta ninguém (Tiago 1:13) e, em Seu imenso amor por Seus filhos, não permite que as tentações sejam tão fortes a ponto de vencê-los. Na verdade, os cristãos pecam quando deixam de resistir e não buscam a saída que Deus oferece.
Por isso, meus amados irmãos, fujam da idolatria (1 Coríntios 10:14).
Paulo dirigiu-se aos coríntios em termos afetuosos, chamando-os de “meus amados”. Seu conselho foi simples, mas contundente: “fujam da idolatria”. Em outras cartas, Paulo também orientou seus leitores a “fugir” do pecado sempre que percebessem estar em situação de risco (1 Timóteo 6:11; 2 Timóteo 2:22). Como os versículos anteriores deixam claro, a idolatria é algo extremamente sério. Os cristãos não devem brincar com isso. A única atitude sensata diante do pecado é evitar qualquer envolvimento com ele — o certo a fazer é fugir.
Estou falando a pessoas sensatas; julguem vocês mesmos o que estou dizendo(1 Coríntios 10:15).
Paulo partiu do pressuposto de que os coríntios eram pessoas sensatas e desejava que julgassem a questão por si mesmos. Ele confiava que a sabedoria dos argumentos que estava apresentando seria suficiente para convencê-los de sua posição.
(Continua.)
Nota
A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução NVI.
1 Veja, por exemplo, Êxodo 12:23, 1 Crônicas 21:15 e o Salmo 78:49.
2 Leon Morris, 1 Corinthians: An Introduction and Commentary, vol. 7, Tyndale New Testament Commentaries (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1985), 142.
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