As Disciplinas Espirituais: Celebração

Por Peter Amsterdam

Setembro 16, 2014

Duração do áudio (Português): 14:57

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[The Spiritual Disciplines: Celebration]

A última disciplina da qual trataremos nesta série é a da celebração. É uma boa maneira de concluir, pois é o resultado do exercício das outras disciplinas espirituais. O propósito de aderir às disciplinas é mudar nossas vidas, copiarmos Jesus. É nessa transformação que nos tornamos mais como Cristo, o que aumenta a alegria em nossas vidas. A disciplina da celebração está intrinsecamente ligada à alegria que vem da obediência e observância da Palavra de Deus.

Começa com a aceitação do que a Bíblia ensina sobre a salvação ou redenção: é uma dádiva de Deus, disponível por meio da crença em Jesus como nosso Salvador, que nos torna justos aos olhos de Deus. A salvação nos permite um relacionamento com Ele e faz com que Sua presença habite em nós. Crescemos nesse relacionamento quando aplicamos o que Ele nos ensinou nas Escrituras. Buscamos viver em conformidade com Sua vontade e O deixamos reinar em nossas vidas, quando seguimos Suas instruções para vivermos em santidade. Ao fazermos isso, Ele nos abençoa com orientação, proteção e provisão, o que nos traz alegria. Essa é a alegria que está à raiz da disciplina da celebração, conforme aprendemos a celebrar o que Deus faz por nós e nos regozijamos nEle.

Alegrai-vos no Senhor, e regozijai-vos, vós, os justos; cantai alegremente todos vós que sois retos de coração![1] Cantem e alegrem-se os que amam a Minha justiça.[2] A minha alma se fartará, como de tutano e de gordura; a minha boca te louvará com alegres lábios. Na minha cama, lembro-me de Ti; medito em Ti nas vigílias da noite. Porque Tu tens sido o meu auxílio, canto nas sombras das Tuas asas.[3] Os Teus estatutos são a minha herança para sempre; são o gozo do meu coração.[4]

No livro O Espírito das Disciplinas, Dallas Willard escreveu: Nós nos engajamos na celebração quando nos alegramos em nós mesmos, em nossa vida e no nosso mundo, em conjunção com nossa fé e confiança na grandeza, beleza e bondade de Deus. Nós nos concentramos em nossa vida e nosso mundo como obras de Deus e como presentes dele para nós.[5]

Como celebramos na forma de disciplina

Em geral, celebramos aniversários, dias festivos e até acontecimentos como uma promoção no trabalho, o nascimento de uma criança, uma graduação, etc. A celebração enquanto disciplina se concentra na celebração interior e exterior, em conexão direta com as bênçãos e interação de Deus conosco. É a celebração que se faz com regularidade por acontecimentos importantes no contexto do amor, do desvelo e das bênçãos de Deus, físicas e espirituais.

Praticamos a disciplina da celebração interiormente quando refletimos na presença de Deus em nossas vidas, quando reconhecemos que cada dia é uma dádiva que recebemos de Suas mãos. Reconhecemos que o mundo em que vivemos, toda beleza que vemos, a comida que comemos, o convívio do qual desfrutamos e todas as bênçãos que temos vêm das mãos de Deus. Regozijamo-nos no conhecimento da nossa salvação e encontramos alegria em nossas vidas sintonizadas ao Espírito de Deus. Temos paz em nossos corações, certos de que Deus cuidará de nós, nos dará “o pão nosso de cada dia”, de forma que nossas necessidades serão atendidas, que Jesus nos deu paz, para que nosso coração não se turbe nem tenhamos medo[6] e que essa paz guardará nossos corações e mentes.[7]

Reconhecemos que mesmo nos tempos difíceis, nos nossos momentos de escuridão, ainda podemos ter a paz da presença de Deus e o conhecimento que, por mais difíceis que fiquem as coisas, estamos seguros à sombra de Suas asas.

Misericórdia, ó Deus; misericórdia, pois em Ti a minha alma se refugia. Eu me refugiarei à sombra das Tuas asas, até que passe o perigo.[8] Porque Tu tens sido o meu auxílio, canto nas sombras das Tuas asas.[9]

Nossa celebração interior, que nasce da fé, alegria, paz e força em Deus, também produz a celebração exterior. Uma das principais formas de celebração da paz e alegria que temos é a adoração a Deus, louvá-lO em palavras, canção, música, dança, erguendo os braços ou fazendo seja o que for que nos ajude a nos regozijarmos em Suas bênçãos. Também externamos a celebração quando nos reunimos com os outros — familiares amigos ou companheiros na fé — para comemorar alegrias, vitórias e conquistas que vivenciamos. Às vezes queremos apenas celebrar a vida e a bondade de Deus com nossos amados, sem necessariamente nenhuma relação com um acontecimento em particular ou data especial.

Enquanto disciplina, a celebração exterior está conectada ao reconhecimento interior das bênçãos de Deus. Celebramos Suas bênçãos em nossas vidas e nas vidas dos outros, as realizações, a conclusão de um projeto importante, um novo emprego, a aprovação em um teste, almas salvas. Nas celebrações em família, com quando nos reunimos em aniversários, casamentos ou por conta do nascimento de uma criança, aproveitamos essas oportunidades para comemorar o evento, mas também para demonstrar nossa gratidão a Deus. E há também os feriados religiosos, que podem ganhar um significado ainda mais profundo, pois ao celebrarmos na forma de disciplina, aumentamos nossa concentração na importância espiritual e pessoal do evento sendo festejado.

Por meio dessa disciplina, celebramos externamente eventos, conquistas e feriados, mas também o simples reunir dos amigos para uma refeição, uma bebida, compartilhar corações e falar do progresso feito para assim reconhecer tudo que Deus tem feito por nós e Lhe mostrar nossa gratidão.

Cada um de nós passa por testes, provações e dificuldades, que, às vezes, nos levam a nos concentrar em nosso sofrimento, nas preocupações, nos temores e das tristezas da luta. Celebrar é reconhecer que a vida tem seus períodos de dificuldade, mas também de alegria e felicidade. É importante para nossa fé que nos regozijemos e celebremos a bondade de Deus para conosco e para com os outros, independentemente da condição em que nos encontremos.

Confiança, paz e alegria

O apóstolo Paulo escreveu que devemos nos regozijar no Senhor: “Regozijai-vos sempre no Senhor. Outra vez digo, regozijai-vos. Não andeis ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e pela súplica, com ações de graças, sejam as vossas petições conhecidas diante de Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus.[10]

Paulo estava ecoando os ensinamentos de Jesus, que disse: “Portanto, não andeis ansiosos, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? ou: Com que nos vestiremos? … De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas elas. Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não andeis ansiosos pelo dia de amanhã.”[11] Isso não significa que não devemos fazer nada, mas que precisamos trazer diante de Deus, pela oração, nossas necessidades e preocupações, pois dessa forma depositamos nossa confiança em Seu amor e Seu cuidado, em vez de nos preocuparmos. Quando confiamos assim, vivenciamos paz em nossos corações, somos livres da ansiedade e não temos que arrastar os fardos de temores e preocupações.

Paulo nos diz ainda para pensarmos no que for digno de louvor para termos assim a paz de Deus.

Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. O que aprendestes, e recebestes, e ouvistes de mim, e em mim vistes, isso fazei. E o Deus de paz será convosco.[12]

Escolher pensar nas coisas que são boas, excelentes e dignas de louvor é um ato da vontade que exige um esforço consciente, ou seja, uma disciplina. Escolher confiar em Deus, não se preocupar, acreditar que Ele cuidará de você e agir com base nessa crença também requer uma decisão própria. Essas escolhas são parte da disciplina da celebração. É o esforço feito para escolher pensar e viver segundo a Palavra de Deus e que produz a alegria.[13] Com essa alegria e celebração em nossos corações, manifestamos a alegria do Senhor em nossas ações e atitudes. Apreciamos a vida, ao vermos em tudo que nela existe a mão de Deus. Podemos apreciar a boa comida, o vinho, a beleza, a arte, a música, o humor, o entretenimento saudável e nos divertir. Podemos nos deleitar no lindo mundo e em tudo que Deus nele pôs.

As disciplinas espirituais que tenho praticado nos últimos anos me tornaram mais consciente da mão de Deus em minha vida e da maior necessidade que tenho dEle. Tem me ajudado a perceber melhor Seu envolvimento no meu dia a dia e nas vidas dos outros, o que produz em mim louvor e gratidão, ou seja, me leva a celebrar. No passado, muitas vezes fiquei tão ocupado que não dediquei o tempo necessário para reconhecer o que Deus estava fazendo à minha volta e deixei passar incontáveis oportunidades de me regozijar. Aprendi como é importante reconhecer Sua presença e celebrar as vitórias que conquistei, pequenas ou grandes. Às vezes, é uma taça de vinho ou uma sobremesa especial, uma refeição ou uma festa. Com frequência é só louvar e agradecer ao Senhor pela Sua bondade e Seu amor para encher minha vida de alegria — uma alegria que nasce do Seu amor e graça.

Nós, cristãos, podemos ser as pessoas mais alegres no mundo. Somos salvos, o Espírito de Deus habita em nós e temos em nossas vidas algumas manifestações da presença do Espírito, tais como: amor, alegria e paz.[14] O amor e a alegria de Deus, a paz que nos é disponível pela salvação, nos fazem felizes, livres, vivos e capazes de desfrutar Deus e os outros. São alimentados e fortalecidos quando lemos, estudamos e aplicamos a Palavra de Deus, quando dedicamos tempo a sós com Ele em reclusão e silêncio, quando confessamos nossos pecados, quando escrevemos e rememoramos as maravilhas que vemos Deus fazer. Esse amor e alegria se expressam em nossa oração, no nosso louvor e em nossa convivência; são compartilhados quando falamos para os outros sobre a salvação.

Qualquer uma das disciplinas espirituais das quais partilhamos pode aumentar a celebração em nossas vidas, pois todas nos ajudam a nos aproximarmos do Senhor, vivenciar Sua presença e viver em santidade. Ao fortalecermos nossa confiança em Deus, conforme crescemos em fé, passamos a ter mais paz interior e isso torna nossa alegria mais perene. Quando nos disciplinamos a permanecer na alegria de Deus pela confiança que temos nEle, lançando sobre Seus ombros nossos fardos, O amamos e nos regozijamos Seu amor por nós, tornamo-nos cristãos cheios de júbilo que O celebram em todos os aspectos da vida. Sejamos, portanto, esse tipo de cristão, pois é o que reluz como uma cidade edificada sobre um monte, para a glória de Deus.


Nota

A menos que de outra forma indicado, todos os versículos aqui citados foram extraídos da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 1990, por Editora Vida.


[1] Salmo 32:11.

[2] Salmo 35:27.

[3] Salmo 63:5–7.

[4] Salmo 119:111.

[5] Dallas Willard, O Espírito das Disciplinas (Editora Habacuc, 2003), 180.

[6] João 14:27.

[7] Filipenses 4:7.

[8] Salmo 57:1 - NVI.

[9] Salmo 63:7.

[10] Filipenses 4:4; 6–7.

[11] Mateus 6:31–34.

[12] Filipenses 4:8–9.

[13] Richard J. Foster, Celebração da Disciplina (São Paulo: Editora Vida, 1983).

[14] Gálatas 5:22–23.

 

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