Por Peter Amsterdam
Agosto 4, 2015
[Jesus—His Life and Message: The Sermon on the Mount (Introduction)]
O Sermão da Montanha está entre os mais conhecidos dos ensinamentos de Jesus. Apesar de não englobar todo o escopo de Sua mensagem, o discurso serve de balizamento de como os cristãos devem viver no reino de Deus. A importância de entender esses ensinamentos e aplicá-los em nossas vidas se revela na conclusão do sermão:
Portanto todo aquele que ouve estas Minhas palavras e as pratica, será semelhante ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. Desceu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa; contudo, ela não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. Aquele que ouve estas Minhas palavras, mas não as cumpre, será comparado ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. Desceu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos, e deram contra aquela casa, e ela caiu, e foi grande a sua queda.[1]
O sermão aborda o caráter dos crentes, descrevendo o tipo de gente que devem ser, as atitudes de coração e espírito que devem ter. As palavras de Jesus servem de mapa para mostrar como os que vivem no reino de Deus e estão conscientes da Sua presença em suas vidas trilhar o seu caminho.
Assim como Seus outros ensinamentos, esta passagem deixa claro que os seguidores de Jesus devem adotar perspectivas, atitudes e abordagens diferentes das que tinham antes de entrarem no reino de Deus. Ela nos ensina a nos concentrarmos nas coisas que são importantes para Deus e a ajustar nossa maneira de pensar, entender, metas e visão mundial para que estejam em harmonia com Ele e Sua vontade. Isso nos leva a corrigir nossa atitude com respeito ao dinheiro, bens materiais, preocupações, nossa interação com os outros e muito mais. Como pessoas cujas vidas se constroem sobre a fundação dos ensinamentos de Jesus, nosso centro, nosso foco deve ser Deus. Quando isso acontece, Ele nos muda pelo Seu Espírito e Sua Palavra.
O Sermão da Montanha contém ensinamentos que precisam ser os princípios orientadores em nossa interação com Deus e os outros. São as pedras do alicerce da vida de semelhança a Cristo. Compreender e praticar esses princípios é ter uma bússola para navegar pelos desafios da vida sem se desviar do verdadeiro norte.
O Sermão da Montanha já foi interpretado e ensinado de diferentes maneiras por muitos professores e escritores ao longo dos séculos. Atualmente, há um grande número de livros e estudos sobre esse texto, alguns dos quais oferecem uma interpretação geral da mensagem, enquanto outros se concentram em determinados aspectos do discurso ou elementos específicos da doutrina, com base em interpretações históricas. Os professores e estudiosos de hoje têm diferentes pontos de vista com respeito ao sermão.
Nos próximos ensaios desta série (Jesus — Sua Vida e Mensagem), tratarei do Sermão da Montanha — concentrando-me principalmente no significado dos ensinamentos de Jesus com respeito à fé, em vez de nas diferenças entre as interpretações dos estudiosos. Meditar e entender o sentido e aplicação do que Jesus ensinou no Sermão pode ser profundamente emocionante. Eu me emociono muito com ele.
Apesar de me concentrar no significado do sermão, incluirei algumas explicações relacionadas às diferentes maneiras de as pessoas entenderem e interpretarem os principais aspectos da passagem. Um exemplo disso é que alguns estudiosos entendem que o Sermão da Montanha seja uma coletânea de várias falas de Jesus, jamais ensinadas por Ele em um único lugar e hora. Outros discordam e entendem que Jesus pregou um sermão em que disse todas essas coisas a uma audiência que ser reuniu para ouvi-lO.
Minha opinião é que Jesus, um professor itinerante, às vezes ensinou o sermão como um todo, às vezes em parte ou apenas pontos específicos. Era comum pregadores itinerantes ensinarem e pregarem as mesmas coisas em diferentes situações. Talvez não pregassem o sermão exatamente da mesma forma repetidas vezes, mas ensinavam algumas partes, dependendo do tempo, lugar, audiência, etc. Isso se aplica em geral a professores, políticos, pregadores, comediantes e os que com frequência falam em público para uma variedade de audiências.
Aprendemos que Jesus visitou várias cidades em toda a Galileia, assim como algumas regiões habitadas por gentios. Sua mensagem sobre a chegada do reino de Deus era Seu tema principal e, por isso, era disso que falava vez após outra. É provável que os pontos apresentados no sermão também se repetiam em suas pregações. Isso teria facilitado para Seus discípulos lembrarem claramente dos ensinamentos de Jesus, mesmo que não palavra por palavra. Por isso, se por um lado o conteúdo do Sermão provavelmente foi ensinado em outras ocasiões, talvez como pontos individuais, vejo essas passagens como uma aula que Jesus deu, ou pelo menos uma versão resumida da aula.
Vejamos alguns fatos básicos sobre o Sermão.
Há duas versões, o Sermão da Montanha (Mateus 5:3–7:27) que contém 107 versículos, e o Sermão da Planície (Lucas 6:20–49), com 30 versículos. O termo “Sermão da Montanha” é o título que Agostinho deu ao seu comentário sobre Mateus 5–7, escrito em algum momento entre 392 e 396, apesar de a passagem não ser assim referida antes do século 16.[2]
A cena da montanha se subentende do primeiro versículo de Mateus capítulo 5, que diz:
Vendo Jesus as multidões, subiu a um monte e assentou-se. Aproximaram-se dele os Seus discípulos.[3]
A inferência é que que o Sermão tenha sido pregado somente aos Seus discípulos. Contudo, no fim do Sermão, Mateus relata que concluindo Jesus de proferir estas palavras, as multidões se admiraram da Sua doutrina, porque Ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas.[4] A maioria dos comentadores explica que as multidões eram pessoas interessadas nos ensinamentos e milagres de Jesus e que, apesar de Jesus estar falando aos Seus discípulos, a multidão que ali estava também ouviu o que Ele disse. Isso provavelmente aconteceu em algum monte na zona rural da Galileia, já que, antes de pregar o Sermão, Jesus havia curado muitos. Por isso, a “montanha” provavelmente foi apenas um monte, pois pessoas doentes ou com dores não teriam conseguido escalar uma montanha para Lhe escutar.
O Evangelho segundo Lucas nos conta que Jesus se retirou para uma montanha e passou a noite em oração. Na manhã seguinte chamou Seus discípulos e escolheu os doze aos quais nomeou apóstolos. Depois disso, desceu da montanha para um lugar plano, com uma grande multidão de discípulos, falou para muita gente que viera ouvi-lo e ser curada. Foi aí que falou aos discípulos na presença das multidões.[5] Esta versão passou a ser conhecida como “Sermão da Planície”, pois Jesus “parou num lugar plano.”[6]
Alguns comentaristas destacam que há dois registros e que ambos se referem a Jesus especificamente ensinando coisas semelhantes na presença de multidões, o que reforça a tese de que a pregação do Sermão tenha sido um evento histórico. De qualquer forma, o fato é que muitos dos ensinamentos de Jesus encontrados no Sermão podem ser lidos em outros textos do Novo Testamento, do que se conclui que tenham sido pregados em um único momento ou em vários, são Seus ensinamentos. E isso é o que importa.
Muitos creem que o Sermão, conforme apresentado em Mateus, seja um sumário do que ensinou na ocasião. É bem provável que Ele tenha explicado muito mais sobre cada um dos pontos e que Mateus tenha reunido somente as essencialidades do que Jesus disse. Entretanto, muito do que se vê na versão oferecida por Mateus aparece espalhado em várias partes do Evangelho segundo Lucas, e não apenas em um discurso.
O Sermão é importante para os cristãos por falar do comportamento transformado dos que entraram no reino e seguem Jesus. Fala de como deve ser o caráter e a conduta de nós, cristãos, em relação aos nossos semelhantes e a Deus, da influência para o bem que somos chamados para ser; da integridade que devemos abraçar com respeito à lei de Deus; da devoção que devemos ter para com Deus; do nosso relacionamento com os outros à luz do que temos com Deus; e do nosso compromisso para praticar o que Jesus ensinou.[7]
Nessa passagem, encontramos princípios para vivermos de forma a verdadeiramente refletir Deus, aprendemos como Sua imagem pode ser vista em nós e através de nós, como poder viver agora de forma a nos possibilitar uma eternidade de plenitude. Mostra-nos como desenvolver hábitos espirituais que nos harmonizem com o reino de Deus. São princípios que abraçamos agora e que levaremos conosco no reino final.
O escritor N. T. Wright explica:
O que Jesus está dizendo é: “Agora que estou aqui, nasce o novo mundo de Deus. Sabendo disso, você verá que estes são hábitos do coração que antecipam o novo mundo aqui e agora.” Essas qualidades — pureza de coração, misericórdia e assim por diante— não são, por assim dizer “coisas que você tem de fazer” para merecer uma “recompensa”, um “pagamento”. Tampouco são meras “regras de conduta” que os novos convertidos devem observar. São, em si, os sinais da vida, a linguagem da vida, a vida da nova criação, a vida da nova aliança, a vida que Jesus veio trazer.[8]
Conforme entendermos e aplicarmos as palavras de Jesus, os princípios que expressa no Sermão da Montanha (e em outras partes dos Evangelhos), nossas vidas são progressivamente transformadas. Tornamo-nos mais como Cristo, mais próximos da personalidade de Deus, um melhor reflexo da Sua natureza e atributos. Em suma, vivemos nosso cristianismo.
A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 1990, por Editora Vida.
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[1] Mateus 7:24–27.
[2] G. N. Stanton (1992), Sermon on the Mount Plain. In J. B. Green and S. McKnight (eds.), Dictionary of Jesus and the Gospels, 736.
[3] Mateus 5:1–2.
[4] Mateus 7:28–29.
[5] Lucas 6:12–20.
[6] Lucas 6:17.
[7] Stott, The Message of the Sermon of the Mount, 24–25.
[8] Wright, After You Believe, 106.
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