Por Peter Amsterdam
Dezembro 8, 2020
[Jesus—His Life and Message: Zacchaeus]
O Evangelho segundo Lucas fala sobre a surpreendente interação de Jesus com Zaqueu, um judeu que era o principal coletor de impostos do governo romano.
Tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos, e era rico.[1]
Na tradução usada na Nova Versão Internacional ele é chamado de publicano, outro nome para coletor de impostos. Zaqueu, portanto, provavelmente era encarregado de outros coletores de impostos que trabalhavam como seus subordinados.
Os cobradores de impostos eram geralmente desprezados pela população judaica, não apenas porque recolhiam impostos em nome de Roma, mas também porque aplicavam uma sobretaxa para cobrir suas próprias despesas e obter lucro. Às vezes, os publicanos subcontratavam a cobrança a outros e, portanto, eram conhecidos como chefes de cobradores de impostos, o que parece ser o caso de Zaqueu. Um autor explica:
Os impostos diretos incluem o imposto comunitário (um imposto geral do cidadão) e um imposto territorial (um imposto sobre a colheita). Além desses impostos diretos, havia também um conjunto de impostos indiretos sobre todos os itens comprados ou arrendados em uma região.[2]
A cidade de Jericó era conhecida por seus pedágios, pois estava na rota comercial entre a Judéia e a Pereia, o que tornava a coleta de impostos uma profissão lucrativa naquela cidade.
Este procurava ver quem era Jesus, mas não podia, por causa da multidão, porque era de pequena estatura.[3]
Zaqueu estava curioso sobre Jesus. Ele provavelmente ouvira alguns relatos sobre Ele e queria saber mais. Zaqueu enfrentou um desafio por sua baixa estatura, pois o grande número de pessoas o impedia de se aproximar de Jesus, de maneira que ele não conseguia olhar por cima das cabeças dos outros na sua frente. Então pensou em algo engenhoso.
Então, correndo adiante, subiu a um sicômoro para vê-lo, já que havia de passar por ali.[4]
Esse tipo de árvore é semelhante ao carvalho, embora com um tronco curto e galhos largos que facilitam a escalada.[5] Um adulto subir em uma árvore provavelmente era visto como algo indigno, especialmente para uma pessoa que tinha status, riqueza e posição na comunidade. Portanto, suas ações indicam que Zaqueu era motivado por mais que mera curiosidade.
Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima, e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa. Hoje me convém pousar em tua casa.[6]
Jesus não só viu Zaqueu na árvore, mas também falou com ele. Não sabemos como Jesus sabia o nome de Zaqueu. Talvez, por algum meio sobrenatural, como quando viu Natanael aproximar-se, disse a seu respeito: Aqui está um verdadeiro israelita, em quem não há nada falso. Perguntou-lhe Natanael: De onde me conheces? Respondeu Jesus: Antes que Filipe te chamasse, te vi quando estavas debaixo da figueira.[7] Ou, Ele poderia saber porque as pessoas estavam chamando seu nome; ou, poderia ter perguntado a outros quem era o homem sobre a árvore.
Apressando-se, desceu e o recebeu com alegria.[8]
Zaqueu respondeu prontamente, desceu da árvore, e levou Jesus à sua casa.
Todos os que viram isto murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador.[9]
Zaqueu estava feliz por Jesus ter vindo à sua casa, mas os outros começaram a resmungar e reclamar. Ao chamar Zaqueu de “pecador”, a multidão provavelmente estava expressando sua opinião sobre os cobradores de impostos e sobre como eles tiravam proveito daqueles de quem cobravam impostos. Ao mesmo tempo, acusavam Jesus de Se associar com pecadores.
Mas Zaqueu levantou-se e disse ao Senhor: Senhor, olha, eu dou aos pobres metade dos meus bens, e se nalguma coisa defraudei alguém, o restituo quadruplicado.[10]
Não sabemos quando Zaqueu disse isso a Jesus, se foi quando desceu da árvore ou mais tarde em sua casa. Parece que o momento exato não era importante para o escritor do Evangelho.
Os comentaristas da Bíblia veem a declaração de Zaqueu de duas maneiras. Alguns entendem que significa que Zaqueu estava dizendo isso o tempo todo: “Tenho o hábito de dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém, pago quatro vezes mais”. O outro ponto de vista é que ele estava dizendo: “De agora em diante, darei metade dos meus bens aos pobres e pagarei quatro vezes a quantia a qualquer pessoa que eu possa ter defraudado”. Parece mais provável que Zaqueu estivesse fazendo uma declaração sobre o presente e o futuro, que ele estava se comprometendo a dar metade de suas posses aos pobres e, daquele momento em diante, indenizaria em quatro vezes a quantia que injustamente subtraíra de alguém. A interação de Zaqueu com Jesus mudou radicalmente sua maneira de lidar com o dinheiro; ele deixou de tirar vantagem dos outros para ajudá-los e servi-los.
A promessa de Zaqueu de dar metade de seus bens e restituir o quádruplo a qualquer um que prejudicara foi muito além do que era esperado. No judaísmo, doar 20 por cento de seus bens era considerado muito generoso; mais do que isso não era considerado prudente. Se alguém fosse considerado culpado de extorquir um companheiro judeu, era obrigado a pagar 20 por cento a mais. A promessa de Zaqueu estava mais de acordo com a dupla penalidade que as pessoas deveriam pagar se roubassem um boi ou uma ovelha.
Se alguém furtar boi ou ovelha, e o abater ou vender, por um boi pagará cinco bois, e pela ovelha quatro ovelhas.[11]
Sua promessa mostrou que ele havia mudado. Ele sabia que havia defraudado outras pessoas e se comprometeu a reembolsar aqueles de quem havia roubado. Ao fazer isso, tornou-se um exemplo de como lidar com dinheiro e de generosidade.
Disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, porque também este é filho de Abraão. Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.[12]
Por causa da mudança de atitude de Zaqueu e seu compromisso com a generosidade e a justiça, a salvação veio para ele e sua família. Ao longo do livro de Atos, há referências feitas a famílias inteiras recebendo a salvação.[13] O status de Zaqueu como coletor de impostos não impediu seu acesso potencial a Deus, ou o de sua família, e sua reação correta a Jesus trouxe a verdadeira salvação.
O propósito de Jesus, a razão de Seu nascimento, vida, morte e ressurreição, era “salvar os perdidos”. Nas interações de Zaqueu com Jesus, encontramos um exemplo de um perdido sendo salvo. Zaqueu parecia um candidato improvável para a salvação. Ele não era apenas um pecador, mas trabalhava para o opressor Império Romano, enriquecendo-se às custas de seu próprio povo. No entanto, seu encontro com Jesus mudou completamente sua vida. Jesus estava disposto a olhar além de quem e o que era uma pessoa; pronto para interagir com alguém que a sociedade desprezava e rejeitava, a fim de lhe dar a oportunidade de receber a salvação. Que todos possamos refletir Jesus quando encontrarmos os desprezados, inclusive os que foram injustos conosco ou com outros. Que possamos mostrar amor, tolerância e perdão a todos com quem tivermos contato. Que todos façamos o melhor ao nosso alcance para sermos como Jesus.
A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 2001, por Editora Vida.
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