Por Peter Amsterdam
Abril 20, 2021
[Jesus—His Life and Message: Moving Toward His Passion and Death]
O artigo anterior tratou do fim do ministério público de Jesus. Neste ponto, tanto os Evangelhos sinópticos[1] quanto o escrito por João passam a tratar dos eventos relacionados à Sua paixão e morte.
Cada um dos Evangelhos sinópticos faz referência à chegada da Páscoa, o festival anual que comemora o resgate do povo judeu da escravidão no Egito. Um autor explica:
De acordo com o calendário judaico, a Páscoa era celebrada em 14 ou 15 [do mês judaico de] nisã e era seguida pela Festa dos Pães Asmos, que ocorria em 15-21 do mesmo mês. Esses feriados geralmente eram considerados como a semana da Páscoa.[2]
Lemos nesses Evangelhos que nos dias que antecederam essas celebrações, as lideranças judaicas — os principais sacerdotes, os anciãos e os escribas — conspiraram para prender e matar Jesus. No livro de Marcos encontramos o seguinte relato:
Dali a dois dias era a Páscoa e a festa dos pães asmos, e os principais sacerdotes e os escribas procuravam como o prenderiam, à traição, e o matariam. Mas diziam: Não durante a festa, para que o povo não se amotine.”[3]
Lucas assim narra a conspiração:
Estava perto a festa dos pães asmos, chamada páscoa, e os principais sacerdotes e os escribas andavam procurando um jeito para matar a Jesus secretamente, pois temiam o povo.[4]
Mateus nos conta que:
Então os principais sacerdotes, os escribas e os anciãos do povo reuniram-se na sala do sumo sacerdote, chamado Caifás, e deliberaram prender a Jesus, à traição, e matá-lo.[5]
O objetivo dos oponentes de Jesus, a liderança religiosa, era prendê-lO e matá-lO. No entanto, temiam o risco de um levante popular, se Ele fosse preso em público. No início do Evangelho segundo Marcos, somos informados das preocupações da liderança religiosa sobre a popularidade de Jesus entre o povo.
Os escribas e os principais sacerdotes, tendo ouvido isto, buscavam ocasião para matá-lo, pois o temiam, porque toda a multidão estava admirada da sua doutrina.[6]
No Evangelho segundo Mateus, somos informados que a reunião com os principais sacerdotes e os anciãos do povo foi realizada no palácio do sumo sacerdote, cargo ocupado por Caifás de 18 a 36 d.C. Isso indica que os altos escalões eclesiásticos bem como membros das famílias ligadas ao sumo sacerdócio estavam presentes na reunião. Participaram também do encontro importantes anciãos não sacerdotais do povo. É bem provável que muitos, senão todos desses homens eram membros do Sinédrio, corpo governante formado por 71 membros, presidido pelo sumo sacerdote.
Percebendo que seria muito arriscado para eles prender Jesus durante este período da Páscoa e da Festa dos Pães Asmos, visto que havia tantas pessoas presentes em Jerusalém que tinham uma visão favorável de Jesus, aqueles religiosos decidiram prendê-lO algum tempo depois das festividades. Mas diziam: Não durante a festa, para não haver tumulto entre o povo.”[7]
(Neste ponto dos Evangelhos segundo Mateus e Marcos, entra o relato sobre a mulher que derramou o unguento de nardo na cabeça de Jesus.[8] Ambos os Evangelhos então retornam aos eventos da traição de Jesus. Para este artigo ser mais fácil de seguir, a unção da mulher de Jesus será abordada mais adiante, após o relato da traição de Judas.)
Embora os líderes religiosos tivessem decidido não prender Jesus durante a festa, a situação mudou quando um dos discípulos de Jesus, Judas, se aproximou deles. O Evangelho segundo Lucas nos diz:
Então Satanás entrou em Judas, que tinha por sobrenome Iscariotes, que era um dos doze. E Judas foi aos principais sacerdotes, e aos oficiais da guarda do templo para combinar a maneira como lhes entregaria Jesus. Eles se alegraram e concordaram em lhe dar dinheiro. Judas aceitou e começou a buscar oportunidade para lhes entregar Jesus, sem a multidão saber.[9]
O Evangelho segundo Mateus afirma:
Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os principais sacerdotes, e disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E pagaram-lhe trinta moedas de prata.[10]
O Evangelho segundo Marcos explica que, depois que Judas recebeu o dinheiro, procurava uma oportunidade para o entregar.[11]
Por ser um dos doze discípulos, Judas era uma das pessoas mais próximas de Jesus. Os doze discípulos estavam sendo capacitados por Jesus para cumprir Sua missão após Sua morte e ressurreição. Ele lhes havia dado poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades.[12] Disse-lhes:
Em verdade vos digo que vós os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel.[13]
Judas assistiu aos ensinamentos de Jesus e testemunhou como Ele curava os enfermos e ressuscitava os mortos. Como um dos doze, é provável que ele tenha feito viagens missionárias com os outros discípulos e, assim, vivenciado o mesmo que os demais. Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou… Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios.[14] No entanto, Judas tomou a decisão de trair Jesus. De acordo com os Evangelhos, seu motivo para fazer isso foi a ganância. No Evangelho segundo João, vemos a avareza de Judas.
Era ladrão; tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava.[15]
Depois de receber o dinheiro dos principais sacerdotes, ele ativamente buscava oportunidade para o entregar.
Voltando a Mateus 26, versículos 6–13, lemos sobre eventos que aconteceram na casa de Simão, o leproso.
Estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso, aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro cheio de precioso bálsamo, que lhe derramou sobre a cabeça, quando ele estava assentado à mesa.[16]
Betânia era uma pequena cidade a 3,2 km de Jerusalém. Embora Simão seja conhecido como “o leproso”, na época da visita de Jesus ele não estava mais sofrendo da doença; do contrário, ninguém teria entrado em sua casa. É possível que em algum momento antes dessa visita, Jesus o tenha curado.
Jesus se reclinava à mesa, o que significa que a refeição era provavelmente uma ocasião especial ou festiva. As pessoas daquela época e cultura geralmente sentavam-se para as refeições; entretanto, quando recebiam convidados especiais ou quando era uma ocasião comemorativa, comiam reclinados. Eles se deitavam de lado com uma almofada debaixo do braço, de frente para uma mesa onde a comida era colocada.
Enquanto Ele estava reclinado à mesa, uma mulher não identificada que tinha um unguento caro em um frasco de alabastro se aproximou dEle. O alabastro é uma pedra encontrada em Amarna, cidade do Egito, parecida com o mármore. Um frasco de alabastro teria um gargalo longo, forçando o óleo ou perfume a escorrer lentamente para evitar o desperdício.
O Evangelho segundo Marcos nos diz que o unguento caro era nardo.
Estando ele em Betânia, reclinado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher trazendo um vaso de alabastro com perfume de nardo puro, de muito preço. Quebrou o vaso, e derramou o bálsamo sobre a cabeça de Jesus.[17]
O nardo, também chamado de espicanardo, era um perfume caro feito da raiz de uma planta que cresce nas montanhas do Himalaia.
Vendo isto, os discípulos se indignaram, dizendo: “Para que este desperdício? Este perfume podia ser vendido por muito dinheiro, e dar-se aos pobres.”[18]
O Evangelho segundo Marcos é mais específico sobre o valor do nardo, bem como a reação dos discípulos.
“Este perfume podia ser vendido por mais de trezentos denários, e ser dado aos pobres.” E murmuravam contra ela.[19]
Trezentos denários era o salário de um ano para um trabalhador — muito dinheiro. Visto que a doação de caridade era uma obrigação associada às peregrinações a Jerusalém para festivais, os discípulos sentiram que um uso melhor do unguento seria vendê-lo e usar o dinheiro para doar aos necessitados.
Jesus, porém, conhecendo isto, disse-lhes: “Por que afligis esta mulher? Ela praticou uma boa ação para comigo. Sempre tereis convosco os pobres, mas a mim não haveis de ter sempre.”[20]
Não está claro para quem os discípulos fizeram seu comentário sobre o uso do nardo pela mulher. Provavelmente estavam falando entre si, mas Jesus sabia como eles se sentiam a respeito das ações da mulher. No entanto, Sua visão sobre as ações dela era completamente diferente daquela dos Seus seguidores. O que eles consideraram um desperdício, Jesus considerou um belo gesto.
“Ora, derramando ela este perfume sobre o meu corpo, ela o fez preparando-me para o meu sepultamento.”[21]
Jesus sabia que Seu tempo estava se esgotando e que em breve enfrentaria a morte. Não está claro no texto se a mulher teve uma premonição de que a morte de Jesus se aproximava e, portanto, derramou o óleo em Sua cabeça, ou se Jesus estava interpretando sua ação com base em Sua consciência do que estava por vir.
“Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua.”[22]
Embora Jesus soubesse que enfrentaria a morte em breve, Ele também sabia que Sua morte não era o fim, mas sim o início de um movimento que se espalharia por toda a terra. Dessa forma, as ações dessa mulher seriam lembradas, como estamos lembrando agora.
A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 1990, por Editora Vida.
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[1] Mateus, Marcos, e Lucas.
[2] Evans, World Biblical Commentary, 354.
[3] Marcos 14:1–2.
[4] Lucas 22:1–2. Ver também Mateus 26:3–5.
[5] Mateus 26:3–4.
[6] Marcos 11:18.
[7] Mateus 26:5; também Marcos 14:2.
[8] Mateus 26:6–13, Marcos 14:3–9.
[9] Lucas 22:3–6.
[10] Mateus 26:14–15. Ver também Marcos 14:10–11.
[11] Marcos 14:11.
[12] Mateus 10:1.
[13] Mateus 19:28.
[14] Mateus 10:5, 8.
[15] João 12:6.
[16] Mateus 26:6–7.
[17] Marcos 14:3.
[18] Mateus 26:8–9.
[19] Marcos 14:5.
[20] Mateus 26:10–11.
[21] Mateus 26:12.
[22] Mateus 26:13.
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