Por Peter Amsterdam
Julho 15, 2014
Duração do áudio (Português): 20:47
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[The Spiritual Disciplines: Confession]
Ensina um ditado escocês: “A confissão faz bem à alma”. E faz mesmo. Quando buscamos aprofundar nossa conexão com o Senhor e uma vida centrada em Deus, a confissão de nossos pecados tem um papel importante.
A disciplina espiritual da confissão diz respeito ao pecado que é cometido após a salvação. Ao aceitarmos Jesus como Salvador, somos perdoados por nossos pecados e, portanto, do ponto de vista judicial somos justos diante de Deus, com garantia da salvação.[1] Em Seu grande amor pela humanidade, Ele criou uma forma de nos reconciliarmos com Ele, que é o sacrifício de Seu Filho, Jesus, que deu a vida para que pudéssemos nascer de novo, membros da família de Deus. A salvação mudou nosso relacionamento com Deus, que passou a ser nosso Pai.[2] Somos eternamente parte de Sua família.
O fato de termos nascido de novo, contudo, não significa que paramos de pecar ou que nossos pecados não têm consequências. O pecado tem efeitos negativos em nossas vidas e nas vidas dos outros e, principalmente, prejudica nosso relacionamento pessoal com Deus. O pecado cria uma fissura no nosso relacionamento com nosso Pai, a qual a confissão repara. É preciso esforço de nossa parte para corrigir as coisas, similar ao necessário para restaurar um relacionamento com outra pessoa a quem magoamos ou ofendemos.
A disciplina da confissão é o antídoto que neutraliza os efeitos que nossos pecados têm no nosso relacionamento com Deus. Se não confessarmos nossos pecados para repararmos regularmente os danos por eles causados, corremos o risco de endurecermos em coração e espírito, e nos afastarmos de Deus. Como John MacArthur escreveu:
Vi cristãos — judicialmente perdoados e seguros para a eternidade — endurecidos, impenitentes e insensíveis ao pecado. Consequentemente, vivem sem alegria por falta de uma convivência íntima com Deus. Bloquearam essa alegria e essa convivência com uma barricada construída com pecados inconfessos.[3]
No Pai Nosso, Jesus nos ensinou a pedir ao Pai para perdoar nossos pecados.[4] Não estava nos instruindo a orar repetidamente por absolvição, pois essa já nos fora concedida com a salvação.[5] Ele estava nos mostrando a forma de restaurarmos nossa convivência pessoal com Deus quando essa for quebrada ou prejudicada pelos nossos pecados. Quando o rei Davi cometeu um pecado grave, sua convivência com Deus foi quebrada e seu pecado o distanciou de Deus. Assim ele orou:
Não me lances fora da Tua presença, e não retires de mim o Teu Espírito Santo.[6] E pediu a Deus restauração: Torna a dar-me a alegria da Tua salvação.[7]
Confessar pecados e pedir perdão a Deus é o caminho para essa restauração. Quando vamos diante dEle e admitimos que pecamos, quando pedimos perdão e nos arrependemos de coração, a fenda que nos separava de Deus é reparada e o relacionamento abalado é restaurado. Somos purificados de nossa falta de justiça e podemos novamente conviver com a justiça, o próprio Deus.
Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça.[8]
A confissão não deve ser vista como algo negativo ou desagradável, porque o resultado positivo de confessarmos nossas transgressões é o perdão. Deus deseja nos perdoar e a confissão é o canal pelo qual recebemos Sua misericórdia e compaixão. Seu perdão renova nosso espírito ao renovar nosso relacionamento, amor e amizade com Ele.
A palavra grega para pecado é hamartia, que significa errar o alvo, afastar-se do caminho da integridade e da honra, fazer algo errado. Por sermos cristãos, não queremos nos afastar do caminho da integridade nem errar o alvo. Nossa meta é andar pela estrada da vida perto de Jesus, evitar nos afastarmos dEle. Quando pecamos, distanciamo-nos dEle. A confissão nos reaproxima do Senhor. É uma expressão do nosso amor e desejo de um relacionamento estreito com Jesus e de permanecer conectado a Ele.
A palavra usada no Novo Testamento para a confissão de nossos pecados é homologeo, resultado da combinação das palavras homos, que significa “o mesmo” e lego, que quer dizer “falar”. É falar a mesma coisa, concordar. Na confissão, dizemos a mesma coisa que Deus diz sobre o pecado. Concordamos com Sua condenação do pecado e reconhecemos que quando pecamos agimos contra Deus pessoalmente, contra Sua Palavra e contra Sua natureza. É uma admissão de que o pecado é errado e que nossas ações foram ofensivas a Ele. É o reconhecimento de que chamamos essas ações pelos mesmos nomes que Deus as chama: inveja, ciúme, cobiça, ódio, engano, ganância, ira, glutonaria, adultério, etc.[9]
É o reconhecimento que essas ações são repugnantes a Deus e que ao praticá-las, ferimos nosso relacionamento com Ele. Concordamos assim que, por causa dos pecados da humanidade, inclusive especificamente dos nossos pecados, Jesus sofreu tortura e morte na cruz. A confissão é o reconhecimento de que essas coisas são erradas, que pessoalmente as praticamos, que oferendemos Deus, que estamos arrependidos e que precisamos do Seu perdão. É também uma expressão de que entendemos que, quando confessamos nossos pecados, Deus, em Seu amor e misericórdia, nos perdoa.
Charles Spurgeon destacou que, por sermos filhos de Deus, não nos apresentamos a Ele como um réu ou criminoso vem diante de um juiz. Somos Seus filhos e vamos até nosso Pai amoroso que deseja nos perdoar.
Há uma grande distinção entre confessar um pecado na condição de réu e o fazer na condição de filho. O abraço do Pai é o lugar para as confissões dos penitentes. Fomos limpos de uma vez por todas, mas nossos pés ainda precisam ser lavados da contaminação adquirida em nossas andanças diárias, na condição de filhos de Deus.[10]
Quando confessamos nossos pecados, reconhecemos ou admitimos nossa culpa. Dizemos que, independentemente de contra quem agimos mal, pecamos contra Deus — a quem devemos prestar contas —, que nos arrependemos profundamente de nossas ações e queremos Seu perdão.
A confissão consiste de reconhecer de forma específica nossos pecados e admitir que os cometemos. A seguinte história expressa bem esse princípio:
Um conselheiro estava tentando ajudar um homem que havia se manifestado durante uma reunião evangelística. “Sou cristão, mas há pecado em minha vida e preciso de ajuda.” Mostrando-lhe 1 João 1:9, o conselheiro sugeriu que o homem confessasse seus pecados a Deus. “Ó Pai — começou — se fizemos algo errado…” “Calma lá!” — interrompeu o conselheiro. “Não me inclua no seu pecado! Meu irmão, nada dessa conversa de “se” e “nós”. Seja direto com Deus!”[11]
Como nossa meta é recuperar nosso relacionamento estreito com Deus, ajuda confessarmos erros específicos com nossos pecados e fraquezas em geral.
Certamente, o arrependimento é parte da confissão, ou seja, uma mudança da maneira de pensar, da maneira que vemos as coisas e uma mudança de propósito. É entender que pecado não é apenas uma fraqueza ou uma área de sua vida na qual precisa se aperfeiçoar. Pecar é agir de forma contrária a Deus e Sua natureza, o que O desagrada e nos distancia dEle, além de afetar negativamente aquele que peca. Arrepender-se é se voltar do pecado para Deus, como o filho que voltou de um país distante para a casa de seu pai. É arrepender-se do pecado e comprometer-se com a mudança.
Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos. Converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e torne para o nosso Deus, pois grandioso é em perdoar.[12]
Todos pecamos com frequência. Não é algo que queremos e, de um modo geral, não é nossa intenção, mas pecamos. Há pecados mais sérios que outros, mas o fato é que todo pecado é espiritualmente prejudicial. A confissão enquanto disciplina é parte do processo de reparar o dano.
Não há uma regra que determine a frequência com que se deve confessar pecados ao Senhor, mas fazê-lo com regularidade parece ser algo sábio. Antes de vir diante do Senhor, para confessar seus pecados, é bom fazer um exame de si mesmo, pensar e orar sobre como tem pecado e que pecados específicos pode se lembrar. A meta não é ficar à cata de cada detalhe ou todo pecado que possivelmente tenha cometido, mas é convidar o Senhor a trabalhar no seu coração para lhe mostrar as áreas em que você precisa do Seu perdão.[13]
Ao convidar o Espírito Santo a lhe ajudar a vasculhar seu coração, é provável que você passe a perceber pecados que devem ser confessados. Não apenas os pecados resultantes da ação, mas também da omissão, ou seja, quando se deixa de fazer algo que deveria fazer. Isso pode se tornar mais alerta aos pecados do coração (tais como ganância, orgulho, ira, etc.), os quais são menos óbvios que os da carne. O propósito da confissão é maior proximidade de Deus e dedicar tempo para orar, meditar e se abrir para Deus em autoanálise é parte da disciplina.
As Escrituras nos dizem para confessarmos nossos pecados a Deus. Confessei-Te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Disse: “Confessarei ao Senhor as minhas transgressões”; e Tu perdoaste a culpa do meu pecado.[14] O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.[15] Confessamos ao Senhor porque, no fim, é contra Ele que pecamos. Isso não significa que não devemos pedir o perdão daqueles contra quem erramos — pelo contrário. E além de pedir perdão, devemos também procurar fazer as reparações possíveis.
Além de nos ensinar que devemos confessar pecados a Deus, a Bíblia também fala de confessarmos nossos pecados aos outros.
Portanto, confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz.[16] Aqueles aos quais perdoardes os pecados, são-lhes perdoados.[17]
Algumas denominações cristãs — católicos romanos, ortodoxos e algumas denominações anglicanas — seguem as instruções de confessar os pecados aos outros no contexto do sacramento da confissão (também chamado sacramento da penitência ou da reconciliação), em que confessam seus pecados a um sacerdote. Em geral, os protestantes entendem que a confissão se faz somente a Deus, na privacidade da oração pessoal. Em alguns cultos protestantes, o pastor anuncia um período de silêncio para que os fieis possam, privadamente, confessar seus pecados ao Senhor.
Confessar pecados é, de um modo geral, um assunto particular entre o indivíduo e Deus. Contudo, como vimos nos versículos acima, há ocasiões em que somos instruídos a confessar nossos pecados uns aos outros. Martinho Lutero disse que a “confissão em segredo” a outro cristão, apesar de não ser uma exigência das Escrituras, é “útil e até necessária”. João Calvino também recomendou a confissão em particular para qualquer crente que esteja “de tal forma atormentado e afligido com um senso de pecado que, sem a ajuda externa, não consiga se livrar dele.”[18]
Há vezes em que os indivíduos confessam seus pecados ao Senhor, mas isso não lhes parece ser o suficiente, pois não têm a paz que sua confissão tenha restaurado sua convivência com Deus. Em situações assim, pode ser benéfico confessar o pecado a um irmão ou irmã no Senhor em quem tenha confiança. Para essas situações, Deus nos deu irmãos e irmãs para ocupar o lugar de Cristo e tornar a presença e o perdão de Deus real para nós.[19] Fazer uma confissão verbal do pecado a um companheiro cristão de confiança e receber dessa pessoa orações efetivas é, às vezes, necessário para criar o senso de materialização do perdão, resultando em paz no coração, na mente e no espírito.
Uma confissão assim, sem dúvida, não deveria ser feita a qualquer cristão, pois nem todos os nossos irmãos e irmãs têm a empatia necessária ou o entendimento para receber uma confissão, assim como nem todo cristão pode ser confiado com o sigilo absoluto da confissão. Richard Foster sugere as seguintes qualificações para uma pessoa receber uma confissão:
Há aqueles que não se qualificam porque ficariam horrorizados pela revelação de certos pecados. Outros, por não entenderem a natureza e o valor da confissão, não lhe dariam a devida importância com um “isso não é nada”. Felizmente, muitos entendem e gostariam de ministrar dessa maneira. Para identificar essas pessoas devemos pedir a Deus que as revele para nós. É possível também identificá-las entre os que observamos terem uma fé viva no poder de Deus para perdoar e manifestar a alegria do Senhor em seu coração. Seus principais atributos são maturidade espiritual, sabedoria, compaixão, bom senso, a habilidade de manter o sigilo e um senso de humor saudável. Muitos pastores — certamente não todos — podem desempenhar esse papel. Há pessoas comuns, sem nenhum cargo ou título, que estão entre as mais indicadas para receber uma confissão.[20]
Receber uma confissão de outro cristão é um assunto sagrado. Seu irmão ou irmã o procura em obediência às Escrituras, confiando que você lhe escutará em amor e compaixão. Para adequadamente receber a confissão, deve começar de uma posição de profunda humildade. Todo pecado é uma abominação a Deus e, como todos pecamos, ninguém está na posição ser condenatório nem olhar com desprezo para quem está fazendo a confissão.
O que confessa pode estar sofrendo e padecendo por causa de seus pecados e confessando em obediência às Escrituras ou porque quer agradar o Senhor. Essa pessoa é merecedora do mais profundo respeito e amor de sua parte. Se não lhe pode dar isso, se acha que não consegue manter a informação confidencial, se tem a preocupação que pode trair a confiança, então não deve receber a confissão.
Foster dá o seguinte sábio conselho aos que recebem uma confissão:[21]
Uma de nossas metas enquanto cristãos é ter um relacionamento profundo e duradouro com Deus, por meio de Jesus. Procuramos evitar o pecado porque nos separa de Deus, mas, por sermos humanos, é-nos impossível estar completamente livres do pecado. É por isso que confessarmos nossos pecados e buscarmos o perdão do Senhor é tão importante para termos com Ele o relacionamento que desejamos. A confissão é o caminho que Deus oferece para nos livrarmos dos efeitos do pecado em nosso relacionamento com Ele. Deus deseja nos perdoar e que estejamos dispostos a buscar Seu perdão.
É possível que busquemos o Senhor para confessar nossos pecados em tristeza, pesar e contrição, mas, quando terminamos, vivenciamos grande alegria. É a alegria por termos sido perdoados, por nosso relacionamento estar restaurado e por podermos estar à Sua presença sem o empecilho do fardo de nossos pecados. A confissão leva à celebração. Nossos pecados são perdoados; nossas vidas, mudadas. De uma forma simples: “a confissão faz bem à alma.”
A menos que de outra forma indicado, todos os versículos aqui citados foram extraídos da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 1990, por Editora Vida.
[1] Para saber mais sobre o conceito da Justificação, leia: A Essência de Tudo: Salvação, Resultados: Justificação, Adoção e Regeneração.
[2] Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. Porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama: “Aba, Pai.” Assim que já não és mais escravo, mas filho; e se és filho, és também feito herdeiro por Deus. (Gálatas 4:4–7).
[3] John MacArthur Jr., Alone with God (Wheaton, IL: Victor Books, 1995), 104–106.
[4] Lucas 11:4.
[5] Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo (Romanos 5:1). Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Romanos 8:1).
[6] Salmo 51:11.
[7] Salmo 51:12.
[8] 1 João 1:9.
[9] David Walls e Max Anders, Holman New Testament Commentary: I & II Peter, I, II & III John, Jude (Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 1999), 166.
[10] C. H. Spurgeon, Morning and Evening: Daily Readings (Complete and unabridged; New modern edition), (Peabody, MA: Hendrickson Publishers, 2006).
[11] W. W. Wiersbe, The Bible Exposition Commentary, Vol. 2 (Wheaton, IL: Victor Books, 1996), 481–485.
[12] Isaías 55:7.
[13] Richard J. Foster, Celebração da Disciplina (São Paulo: Editora Vida, 1983).
[14] Salmo 32:5.
[15] Provérbios 28:13.
[16] Tiago 5:16.
[17] João 20:23.
[18] W. A. Elwell a B. J. Beitzel na Baker Encyclopedia of the Bible (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1988).
[19] Foster, Celebração da Disciplina.
[20] Ibid., 153.
[21] Ibid., 155–56.
[22] João 20:23.
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