1 Coríntios: Capítulo 14 (versículos 1–25)

Outubro 14, 2025

por Peter Amsterdam

[1 Corinthians: Chapter 14 (verses 1–25)]

No final do capítulo 13, Paulo escreveu: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor. Estes três, porém, o maior deles é o amor” (1 Coríntios 13:13). Na sequência, capítulo 14, enfatiza a importância do amor no uso dos dons espirituais dentro do culto comunitário.

Sigam o caminho do amor e busquem com dedicação os dons espirituais, principalmente o dom de profecia (1 Coríntios 14:1).

Ao incentivar os coríntios a buscar o amor, Paulo destaca a sua importância superior, pelo que merece a prioridade na vida dos crentes. O amor é o fundamento que deve orientar tudo o que fazemos e almejamos. Somos chamados a torna-lo o princípio norteador de todas as nossas ações e relacionamentos. O amor nesse contexto não é apenas um sentimento, mas uma escolha e o compromisso de agir conforme a vontade de Deus.

Paulo associa a busca do amor ao desejo sincero pelos dons espirituais. Anteriormente nesta epístola, ensinara que todos os dons espirituais são concedidos pelo Espírito e para o serviço aos outros dentro do corpo de Cristo (1 Coríntios 12:7–10). Neste capítulo, incentiva o exercício dos dons do Espírito no contexto do culto coletivo — especialmente o dom de profecia — para a edificação dos outros e o fortalecimento da igreja.

“Pois quem fala em uma língua não fala aos homens, mas a Deus. De fato, ninguém o entende; em espírito fala mistérios” (1 Coríntios 14:2).

Aquele que fala em línguas pronuncia palavras incompreensíveis, que os outros não conseguem entender sem que haja alguém capaz de interpretá-las. Por isso, quem fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus; e os mistérios que pronuncia não podem ser compreendidos pelos demais.

Mas quem profetiza o faz para edificação, encorajamento e consolação dos homens (1 Coríntios 14:3).

Embora o falar em línguas na oração seja uma prática boa e legítima, neste trecho Paulo se refere aos dons que contribuem para a edificação da comunidade, com destaque para a profecia, enquanto meio de fortalecer, encorajar e consolar os crentes.

Nos tempos de Paulo, a profecia na comunidade cristã era semelhante à pregação nas igrejas de hoje. Como afirmou um estudioso da Bíblia: “A profecia na igreja primitiva se assemelhava, em muitos aspectos, à pregação contemporânea. Era uma mensagem de Deus para o Seu povo, transmitida na linguagem do povo. A profecia beneficiava as pessoas de inúmeras maneiras e era exercida a serviço do amor.”1

Quem fala em língua a si mesmo se edifica, mas quem profetiza edifica a igreja (1 Coríntios 14:4).

Paulo continua sua comparação mostrando que, quando alguém fala em línguas, está edificando apenas a si mesmo, pois se trata de uma forma de comunhão pessoal com Deus. Claro que não há nada de errado nisso e, como o próprio explica mais adiante este capítulo, há espaço para o falar em línguas como meio de edificação pessoal. Contudo, no culto público, os dons do Espírito devem ser exercidos para a edificação da igreja, e essa edificação coletiva só acontece quando o que é dito pode ser compreendido pela congregação.

Gostaria que todos vocês falassem em línguas, mas prefiro que profetizem. Quem profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a não ser que as interprete, para que a igreja seja edificada (1 Coríntios 14:5).

Embora Paulo incentive os coríntios a exercerem o dom de falar em línguas, deixa claro que prefere que profetizem — a menos que alguém possa interpretar a mensagem em línguas, para o benefício de toda a igreja.

Agora, irmãos, se eu for visitá-los e falar em línguas, em que serei útil a vocês, a não ser que leve alguma revelação, ou conhecimento, ou profecia, ou doutrina? Até no caso de coisas inanimadas que produzem sons, tais como a flauta ou a cítara, como alguém reconhecerá o que está sendo tocado, se os sons não forem distintos? Além disso, se a trombeta não emitir um som claro, quem se preparará para a batalha? (1 Coríntios 14:6–8)

Aqui, Paulo usa a palavra “irmãos” (ou “irmãos e irmãs”, em algumas traduções) para suavizar o tom e evitar que os coríntios ficassem na defensiva. Apresenta um cenário hipotético: se durante uma visita à igreja, Paulo apenas falasse em línguas, os coríntios em nada se beneficiariam, a menos que comunicasse alguma revelação, conhecimento, profecia ou ensino. O verdadeiro proveito da visita estaria na sua capacidade de ensinar e edificar o corpo de crentes.

Em seguida, Paulo usa um exemplo musical como ilustração. Assim como não é possível reconhecer uma melodia sendo tocada em uma flauta ou harpa se as notas não forem distintas, não é possível compreender uma mensagem espiritual ininteligível. Então, recorre ao exemplo de uma trombeta usada para convocar à batalha: se o toque for confuso, ninguém entenderá a mensagem que o trombeteiro pretendia comunicar.

Paulo usa essas ilustrações para indicar que falar em línguas sem interpretação não oferece revelação, conhecimento nem orientação. Soam como um instrumento desafinado emitindo sons que não beneficiam ninguém.

Assim acontece com vocês. Se não proferirem palavras compreensíveis com a língua, como alguém saberá o que está sendo dito? Vocês estarão simplesmente falando ao ar (1 Coríntios 14:9).

Paulo conclui que é necessário comunicar com clareza para que haja edificação e fortalecimento mútuo. Essa exortação se aplicava diretamente aos coríntios, que estavam praticando o falar em línguas de forma ininteligível — algo que, no fim das contas, não passava de “falar ao vento”.2

Sem dúvida, há diversos idiomas no mundo; todavia, nenhum deles é sem sentido.Portanto, se eu não entender o significado do que alguém está falando, serei estrangeiro para quem fala e ele será estrangeiro para mim (1 Coríntios 14:10–11).

Paulo destacou que, embora existam muitos tipos de línguas no mundo, todas têm o mesmo propósito: a comunicação. Se alguém não entende o que está sendo dito — por não entender o idioma usado—,  ouvinte e falante tornam-se como estrangeiros entre si. As tentativas de comunicação fracassam e não beneficiam ninguém.

Assim acontece com vocês. Visto que estão ansiosos por terem dons espirituais, procurem crescer naqueles que trazem a edificação para a igreja (1 Coríntios 14:12).

Paulo aprovava o desejo dos coríntios de buscar as manifestações do Espírito Santo. No entanto, exortava-os a se empenharem nos dons que realmente edificam e fortalecem a igreja.

Por isso, quem fala em uma língua, ore para que a possa interpretar. Pois, se oro em uma língua, meu espírito ora, mas a minha mente fica infrutífera (1 Coríntios 14:13–14).

Depois de apontar as limitações do falar em línguas, Paulo explica que, quando alguém ora em línguas, sua oração envolve apenas o espírito e não a mente. Por isso, seria mais proveitoso que a pessoa também orasse pedindo entendimento — para que pudesse compreender e se beneficiar da mensagem.

Paulo conclui que o falar em línguas sem interpretação não pode ser compreendido por ninguém — nem mesmo por quem está falando. Se nem a própria pessoa entende o que diz, como poderiam os outros ser edificados?

Então, que farei? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento (1 Coríntios 14:15).

Reconhecendo as limitações da oração em línguas, Paulo decide orar, cantar e louvar com o espírito e com o entendimento. Embora orar e cantar em línguas seja apropriado na devoção pessoal, ele deixa claro que isso não se aplica ao culto público.

Se você estiver louvando a Deus em espírito, como poderá aquele que está entre os não instruídos dizer o “Amém” à sua ação de graças, visto que não sabe o que você está dizendo? Pode ser que você esteja dando graças muito bem, mas o outro não é edificado (1 Coríntios 14:16–17).

O apóstolo então reforça a importância da clareza na comunicação durante o culto. Se alguém fala em línguas sem interpretação, os que não compreendem não podem participar da oração — e, assim, não são edificados.

Dou graças a Deus por falar em línguas mais do que todos vocês. Todavia, na igreja prefiro falar cinco palavras compreensíveis para instruir os outros a falar dez mil palavras em uma língua (1 Coríntios 14:18–19).

Embora Paulo tenha experimentado pessoalmente as bênçãos do dom de línguas em sua vida de oração privada, no culto público ele preferia dizer cinco palavras claras que pudessem instruir os ouvintes, em vez de milhares em uma língua incompreensível. Priorizava a edificação e o ensino, para que assim Deus fosse honrado.

Irmãos, deixem de pensar como crianças. Com respeito ao mal, sejam crianças; mas, quanto ao modo de pensar, sejam adultos (1 Coríntios 14:20).

Mais uma vez, Paulo chama os coríntios de “irmãos”, provavelmente para imprimir força ao seu apelo. Ao adverti-los para que não fossem infantis no pensamento, sugere que aquele entusiasmo pelo falar em línguas demonstrava imaturidade espiritual.

Em outros momentos, a Bíblia elogia atitudes de criança na fé — como quando Jesus destacou a confiança infantil como exemplo de fé (Marcos 10:15). Mas aqui, Paulo diz que os cristãos devem ser como crianças apenas no que diz respeito à maldade, ou seja, inocentes e distantes dela. Isso não significa ingenuidade, pois Jesus também ensinou que deveríamos ser “astutos como as serpentes e sem malícia como as pombas” (Mateus 10:16). Paulo, porém, enfatiza que os crentes devem ser maduros no pensamento, especialmente em relação à doutrina e à prática cristã.

Pois está escrito na Lei: “Por meio de homens de outras línguas e por meio de lábios de estrangeiros falarei a este povo, mas, mesmo assim, eles não me ouvirão”, diz o Senhor.Portanto, as línguas são um sinal para os descrentes, e não para os que creem; a profecia, porém, é para os que creem, não para os descrentes (1 Coríntios 14:21–22).

Paulo faz aqui uma paráfrase de Isaías 28:11–12 para ilustrar a forma correta de pensar sobre o dom de línguas. Nesse trecho, Isaías advertia o Reino do Norte de Israel de que Deus os exilaria entre povos estrangeiros, que falariam línguas desconhecidas — um sinal de juízo. Mesmo assim, o povo não dava ouvidos ao Senhor.

Assim, se toda a igreja se reunir e falar em línguas e alguns não instruídos ou descrentes entrarem, não dirão que vocês estão loucos? (1 Coríntios 14:23)

Após argumentar que o falar em línguas sem interpretação é inútil para a edificação da igreja, Paulo ressalta que isso também prejudica o testemunho cristão, porque aliena os não crentes. Então propõe outro cenário hipotético: se um visitante ou descrente entrar em um culto e vir todos falando em línguas, achará que estão fora de si — e provavelmente sairá sem ouvir a mensagem do evangelho.

Mas, se entrar algum descrente ou não instruído quando todos estiverem profetizando, ele por todos será convencido de que é pecador e por todos será julgado, e os segredos do seu coração serão expostos. Assim, ele se prostrará, rosto em terra, e adorará a Deus, exclamando: “Deus realmente está entre vocês” (1 Coríntios 14:24–25)!

Paulo contrasta as duas situações: a de um não crente que entra em um culto onde a mensagem é transmitida em palavras compreensíveis — em profecia. Nesse caso, o visitante é sensibilizado e convencido pela verdade, recebe a mensagem de Deus e reconhece sua condição diante dEle. O resultado é arrependimento, adoração e a confissão de que Deus está realmente presente entre o Seu povo.

Como observou um comentarista bíblico:

“Esses novos convertidos ficariam tão maravilhados com a Palavra de Deus proclamada na assembleia cristã que exclamariam: ‘Deus está realmente entre vocês!’ … A conversão dos perdidos faz parte do propósito das reuniões cristãs.”3

(Continua.)


1 Richard L. Pratt, Holman New Testament Commentary—1 & 2 Corinthians. Vol. 7 (B&H Publishing Group, 2000), 244.

2 Leon Morris, 1 Corinthians: An Introduction and Commentary, vol. 7, Tyndale New Testament Commentaries (InterVarsity Press, 1985), 767.

3 Pratt, Holman New Testament Commentary—1 & 2 Corinthians.

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