
1 Coríntios: Capítulo 7 (versículos 17–40)
Fevereiro 20, 2025
por Peter Amsterdam

1 Coríntios: Capítulo 7 (versículos 17–40)
No artigo anterior, vimos como Paulo tratou questões sobre casamento e sexualidade. Na sequência, aborda a importância de cada pessoa viver segundo a vocação de Deus.
Entretanto, cada um continue vivendo na condição que o Senhor lhe designou e de acordo com o chamado de Deus. Esta é a minha ordem para todas as igrejas (1 Coríntios 7:17).
A ênfase no “chamado” reforça o que Paulo escreveu no versículo 15: “Deus nos chamou para vivermos em paz”. Essa paz, em parte, resulta de conhecer e seguir o chamado de Deus. Paulo destaca que Deus chama pessoas em diferentes situações, inclusive, como ele explicará à frente, de diversas condições sociais, estados civis e históricos religiosos. Deus tem um propósito para cada cristão na sua respectiva condição, ao que Paulo se refere como “a condição que o Senhor lhe designou e de acordo com o chamado de Deus”.
Paulo não estava dizendo que os crentes nunca deveriam mudar seu status ou posição na sociedade, mas que deviam aprender a reconhecer o chamado de Deus, seguir Sua revelação e a vida que lhes foi designada. Entendia que os crentes, em geral, deveriam preservar seus relacionamentos e situação em geral, a menos que Deus os encarregasse de outra missão.
Foi alguém chamado quando já era circuncidado? Não desfaça a sua circuncisão. Foi alguém chamado sendo incircunciso? Não se circuncide. A circuncisão não significa nada, e a incircuncisão também nada é; o que importa é obedecer aos mandamentos de Deus. Cada um deve permanecer na condição em que foi chamado por Deus (1 Coríntios 7:18–20).
Paulo sublinhou que nem a circuncisão nem a incircuncisão tinham relevância. A Lei do Antigo Testamento, que exigia a circuncisão masculina como sinal da aliança de Deus com Seu povo, havia passado e não era obrigatória para os cristãos. O apóstolo se opôs aos cristãos judeus que queriam que os convertidos gentios se circuncidassem e lembrou aos coríntios que sempre defendeu a existência dos não circuncidados na igreja, não permitindo que outros os convencessem de que a circuncisão era necessária para a salvação ou para o reconhecimento na comunidade cristã.
Seja circuncidado ou não, cada crente deveria permanecer como está e não se deixar persuadir a mudar, nem se orgulhar de sua condição. Embora, em geral, Paulo acreditasse que os incircuncisos deveriam permanecer assim, em certa ocasião ele encorajou Timóteo a se circuncidar por uma questão de paz na igreja (Atos 16:3); no entanto, ele nunca ensinou que a circuncisão era uma exigência.
Foi você chamado sendo escravo? Não se incomode com isso. Mas, se você puder conseguir a liberdade, consiga-a (1 Coríntios 7:21).
No Novo Testamento, a palavra grega doulos é traduzida como servo, escravo ou servo contratado, dependendo da versão da Bíblia e do contexto do versículo. A Bíblia NVI traduz doulos como “escravo” (como neste trecho) quando se refere a uma forma mais limitada de servidão.1 Paulo lembrou aos coríntios que, se alguém era servo ou escravo quando se tornou crente, não deveria sentir que precisava mudar sua condição social. No entanto, se tivesse a oportunidade de obter sua liberdade, deveria fazê-lo.
Pois aquele que, sendo escravo, foi chamado pelo Senhor, é liberto e pertence ao Senhor; semelhantemente, aquele que era livre quando foi chamado é escravo de Cristo (1 Coríntios 7:22).
Ele explicou por que servos e escravos não deveriam se desanimar por causa de seu status social. Todo crente que está em servidão é um liberto do Senhor. Naquela época, a escravidão era amplamente disseminada no mundo mediterrâneo, e Paulo consolou aqueles que não podiam obter legalmente sua liberdade, lembrando-os que eram verdadeiramente livres em Cristo. Ele ressaltou que a posição de servo ou escravo não trazia desonra, pois, em Cristo, todos são iguais, independentemente de sua posição social. Como Paulo escreveu em outro lugar: Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus (Gálatas 3:28).2
Vocês foram comprados por alto preço; não se tornem escravos de homens (1 Coríntios 7:23).
Paulo encerrou a discussão repetindo o que havia dito antes: Vocês foram comprados por alto preço (1 Coríntios 6:20). Todos os crentes foram resgatados pelo preço do sangue de Cristo, libertos do domínio do pecado por meio da morte de Jesus e, portanto, não devem se tornar escravos dos homens.
Paulo incentivou os crentes a se perceberem como homens e mulheres livres, independentemente de sua situação ou status social, pois Cristo os libertou por meio de Sua morte na cruz. Salientou que a compra da igreja por Cristo, realizada com Seu próprio sangue, conferiu aos crentes uma nova identidade, a qual exige um modo de vida condizente com essa transformação.
Irmãos, cada um deve permanecer diante de Deus na condição em que foi chamado (1 Coríntios 7:24).
Paulo se refere aos crentes coríntios como irmãos [e irmãs] ao repetir a regra de permanecer na condição em que foram chamados. Essas palavras indicam que alguém pode saber quando deve mudar sua situação se depender de Deus.
Neste momento da carta, Paulo responde a outra questão já abordada na epístola, relacionada ao casamento e ao divórcio.
Quanto às pessoas virgens, não tenho mandamento do Senhor, mas dou meu parecer como alguém que, pela misericórdia de Deus, é digno de confiança. Por causa dos problemas atuais, penso que é melhor o homem permanecer como está (1 Coríntios 7:25–26).
O termo “virgem” é traduzido como “solteiros” em outras versões da Bíblia. Essas mulheres provavelmente estavam noivas, mas ainda não casadas. Parece que havia discordância entre os crentes coríntios sobre se os noivos deveriam ou não seguir adiante com o casamento. Paulo afirmou que Jesus não havia ensinado especificamente sobre essa questão (“não tenho mandamento do Senhor”). Talvez quisesse dizer que a “angústia presente” (traduzida em algumas versões como “crise”) representava um problema singular que nem Jesus nem o Antigo Testamento haviam abordado. No entanto, como apóstolo, Paulo tinha autoridade para dar sua opinião.
Ao qualificar sua resposta como seu “parecer”, Paulo ofereceu uma opinião ou preferência, e não uma regra absoluta. Deixou claro que sua recomendação era baseada nas circunstâncias que a igreja enfrentava à época e que achava que os solteiros deveriam permanecer solteiros por causa da crise de então.
É difícil saber exatamente o que Paulo quis dizer com “angústia presente”. Aquele período da história foi marcado por estiagens, de forma que poderia estar se referindo às dificuldades causadas por escassez de alimentos na Grécia, que afetava os coríntios. Em um capítulo posterior, Paulo mencionou que alguns crentes de Corinto estavam passando fome quando participavam da Ceia do Senhor (1 Coríntios 11:21). Diante dessas dificuldades, sugeriu que os solteiros permanecessem assim. Isso não significava que as virgens nunca deveriam se casar ou que essa recomendação deveria durar para sempre, mas era uma orientação temporária devido à crise do momento.
Você está casado? Não procure separar-se. Está solteiro? Não procure esposa (1 Coríntios 7:27).
Paulo provavelmente estava se referindo àqueles que estavam prometidos em casamento ou noivos. Não queria que os noivos rompessem seus compromissos, mas sugeriu que adiassem o matrimônio. Também recomendou que aqueles que haviam sido liberados de obrigações matrimoniais não procurassem uma esposa. Em síntese, os já comprometidos não deveriam se casar imediatamente e que aqueles que haviam rompido um noivado não deveriam, por enquanto, buscar um novo casamento.
Mas, se vier a casar-se, não comete pecado; e, se uma virgem se casar, também não comete pecado. Mas aqueles que se casarem enfrentarão muitas dificuldades na vida, e eu gostaria de poupá-los disso (1 Coríntios 7:28).
Embora Paulo acreditasse que o casamento não fosse aconselhável devido à crise da época, não estava dizendo que casar era um pecado. Aqueles que se casassem deveriam fazê-lo com plena consciência das dificuldades que enfrentariam. Devido à escassez na região, Paulo provavelmente queria dizer que o casamento tornaria mais difícil sustentar a família. Sugeriu cautela aos solteiros, para evitarem dificuldades.
Isto, porém, vos digo, irmãos: o tempo se abrevia; o que resta é que não só os casados sejam como se o não fossem, mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa (1 Coríntios 7:29–31 - ARA).
Ao se dirigir aos crentes coríntios como irmãos (o que inclui as “irmãs”), Paulo demonstra sua preocupação com o bem-estar deles. Pensa em todos os crentes — os casados, divorciados, viúvos, noivos e solteiros, destaca que o tempo é curto e que o mundo, na sua forma atual, está passando. Faz referência a pessoas em diferentes circunstâncias: as casadas, as que estão em luto, as que estão felizes e se alegram, e as que precisam cuidar de assuntos do mundo.
Paulo considera todas dignas, mas voltadas à vida terrena, à "aparência deste mundo", e seus afazeres cotidianos, que não são eternos. Preocupava-se que os crentes estivessem ocupados demais com esses assuntos e os incentivou a adotar uma perspectiva eterna. Deveriam viver de tal forma que o casamento, o luto, a felicidade, ou os bens materiais não lhes tomassem a atenção. Claro, as palavras de Paulo não devem ser interpretadas de forma categórica. Em outras partes de suas cartas, ele mostrou uma visão equilibrada sobre responsabilidades no casamento e sexualidade (Efésios 5:22–33), felicidade (1 Tessalonicenses 5:16), luto (Filipenses 3:18) e bens materiais (1 Timóteo 6:8). Aqui, Paulo lembra os coríntios de que esses aspectos legítimos da vida não devem ser a prioridade de suas vidas.
Gostaria de vê-los livres de preocupações. O homem que não é casado preocupa-se com as coisas do Senhor, em como agradar ao Senhor. Mas o homem casado preocupa-se com as coisas deste mundo, em como agradar sua mulher, e está dividido. Tanto a mulher não casada como a virgem preocupam-se com as coisas do Senhor, para serem santas no corpo e no espírito. Mas a casada preocupa-se com as coisas deste mundo, em como agradar seu marido (1 Coríntios 7:32–34).
Estou dizendo isso para o próprio bem de vocês; não para lhes impor restrições, mas para que possam viver de maneira correta, em plena consagração ao Senhor (1 Coríntios 7:35).
Na visão de Paulo, havia vantagens para os cristãos em permanecerem solteiros, pois poderiam se dedicar integralmente ao serviço do Senhor. A pessoa casada estaria dividida entre o desejo de agradar ao Senhor e a obrigação de agradar ao cônjuge. No entanto, Paulo esclarece que aquilo não era um mandamento nem se valia da sua posição como apóstolo para dizer aos solteiros que não se casassem, mas apenas orientava seus leitores na decisão se deveriam ou não se casarem.
Se alguém acha que está agindo de forma indevida diante da virgem de quem está noivo, que ela está passando da idade, achando que deve se casar, faça como achar melhor. Com isso não peca. Casem-se (1 Coríntios 7:36).
Embora Paulo considerasse a opção de permanecer solteiro como a melhor naquele momento, sabia que essa não era a única escolha certa. Deus instituiu o casamento (o que Jesus reafirmou em Mateus 19:4–6), imprimindo-lhe uma legitimidade que não poderia ser desconsiderada. Paulo qualificou seu conselho ao dizer que as noivas que estivessem envelhecendo não deveriam adiar o casamento. Quem estivesse convencido de que casar era a decisão certa para si, deveria se sentir livre para casar, sem o receio de estar pecando.
Contudo, o homem que decidiu firmemente em seu coração que não se sente obrigado, mas tem controle sobre sua própria vontade e decidiu não se casar com a virgem—este também faz bem. Assim, aquele que se casa com a virgem faz bem, mas aquele que não se casa faz melhor (1 Coríntios 7:37–38).
Paulo destaca que não deveria haver pressão externa. Tanto quem escolhe casar quanto quem opta por permanecer solteiro está certo. Aparentemente, alguns membros desejavam controlar as escolhas alheias nesse tema, mas Paulo não permitiu isso. Expressou sua recomendação sobre adiar o casamento devido à crise atual; no entanto, sabia que as pessoas envolvidas precisavam tomar suas próprias decisões. Aqueles que se casaram fizeram o certo, e aqueles que escolheram não se casar também; ambas as opções eram aceitáveis.
A mulher está ligada a seu marido enquanto ele viver. Mas, se o seu marido morrer, ela estará livre para se casar com quem quiser, contanto que ele pertença ao Senhor. Em meu parecer, ela será mais feliz se permanecer como está; e penso que também tenho o Espírito de Deus (1 Coríntios 7:39–40).
Paulo retorna ao assunto das viúvas, lembrando o leitor do bem conhecido princípio de que o casamento deve durar enquanto ambos os cônjuges estiverem vivos (Romanos 7:2). Se o homem morrer, a viúva está livre para se casar.
Embora Paulo desse abertura para um novo casamento, em sua opinião, uma viúva seria mais feliz se permanecesse solteira. Esse conselho foi direcionado à situação de Corinto. Como sua opinião poderia parecer contrária aos princípios bíblicos gerais que favorecem o casamento, Paulo quis garantir que ninguém descartasse sua opinião abruptamente, lembrando-lhes de que ele também possuía o Espírito de Deus.
Nota
A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução NVI.
1 Para uma explicação mais detalhada sobre o uso da palavra doulos no Novo Testamento, consulte: A Prática do Cristianismo: Os Dez Mandamentos (Autoridade, 4ª Parte)
2 Veja também Colossenses 3:11.
Copyright © 2025 A Família Internacional.