As Histórias que Jesus Contou: Os Lavradores Maus, Lucas 20:9-19

[The Stories Jesus Told: The Wicked Tenants, Luke 20:9–19]

Nota: Ao revisar recentemente a série As Histórias que Jesus Contou, me dei conta de que não havia incluído uma parábola, então é o que farei neste artigo.

A parábola dos lavradores maus é encontrada em todos os três Evangelhos Sinópticos.^[1] Neste artigo, vou me basear no relato do Evangelho segundo Lucas, com algumas referências aos Evangelhos segundo Mateus e Marcos. Em Lucas, essa parábola se encontra no capítulo 20, entre o relato de quando os principais sacerdotes, escribas e anciãos desafiaram a autoridade de Jesus e o que trata do questionamento que fizeram a Jesus sobre a licitude de o povo judeu pagar impostos a César.^[2]

“Jesus passou a contar ao povo esta parábola: Certo homem plantou uma vinha, arrendou-a a viticultores, e ausentou-se do país por muito tempo. No tempo oportuno mandou um servo aos viticultores, para que lhe dessem dos frutos da vinha. Os viticultores, porém, espancando-o, mandaram-no embora de mãos vazias.”^[3]

Vinhas e vinhedos eram comuns em Israel nos dias de Jesus, e continuam a ser. Quase todos que possuíam alguma terra tinham vinhas. No entanto, nesta parábola, Jesus estava Se referindo a um vinhedo maior, de um proprietário ausente, que tinha lavradores trabalhando na propriedade. No Evangelho segundo Mateus, mais detalhes são dados sobre o vinhedo. Seu proprietário não só plantou uma vinha, mas também circundou-a com um muro, construiu nela um lagar, edificou uma torre.^[4] Isso sugere um investimento elevado com o qual o proprietário esperava obter um bom retorno. Demora alguns anos entre plantio de uma vinha à sua frutificação, então talvez esse fosse o primeiro ano em que houve uma colheita. Todavia, em vez de dar ao proprietário o que lhe cabia por direito, os lavradores espancaram o servo do proprietário que foi enviado para fazer a cobrança. Depois de espancá-lo, mandaram-no de volta de mãos vazias ao seu senhor.

“Tornou ainda a mandar outro servo, mas eles, espancando também a este, e afrontando-o, mandaram-no embora de mãos vazias. Tornou ainda a mandar terceiro, mas eles feriram também a este e o expulsaram.”^[5]

Na segunda vez, o proprietário mandou seu representante recolher o que era devido, e foi também espancado e humilhado. A palavra grega traduzida como afrontar significa que eles o desonraram, o insultaram e o trataram com desprezo. Em uma terceira tentativa de recolher o que era seu por direito, o dono da vinha enviou mais um servo, que foi ferido, provavelmente por espancamento como os servos anteriores. Nos Evangelhos segundo Marcos^[6] e Mateus^[7] está escrito que os lavradores espancaram, apedrejaram e até mataram alguns dos enviados pelo dono da vinha.

“Disse o senhor da vinha: Que farei? Mandarei o meu filho amado; talvez o respeitem. Mas, vendo-o os viticultores, discutiram entre si, dizendo: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, para que a herança seja nossa. Lançando-o fora da vinha, o mataram. Que lhes fará, pois, o senhor da vinha?”^[8]

Enviar seus servos não foi suficiente, então o dono mandou seu filho, que tinha muito mais autoridade do que seus servos. Ele esperava que os lavradores respeitassem a autoridade de seu filho, mas não foi assim. Os lavradores viram a oportunidade de eliminar o herdeiro como uma forma de garantir a vinha para eles. Eles podem ter pensado que o proprietário havia morrido e que seu filho agora era o dono da vinha. Nesse caso, eliminá-lo deixaria o vinhedo sem dono, e eles poderiam se apropriar das terras. Qualquer que fosse o pensamento deles, expulsaram o filho da vinha e depois o mataram.

Jesus então interpretou a parábola fazendo e respondendo a uma pergunta.

“Lançando-o fora da vinha, o mataram. Que lhes fará, pois, o senhor da vinha? Irá, e destruirá esses lavradores, e dará a outros a vinha. Ouvindo eles isto, disseram: Não seja assim!”^[9]

A possibilidade de esses lavradores se apropriarem da vinha após terem matado o filho era zero. O dono da vinha teria destruído aqueles que tiraram a vida de seu filho. O relato do Evangelho segundo Mateus é ainda mais severo: “Destruirá de maneira horrível a esses infames, e arrendará a vinha a outros lavradores, que no devido tempo lhe enviem os frutos.”^[10]

Os ouvintes ficaram chocados com a interpretação da parábola e sua implicação de julgamento severo da liderança judaica, bem como a vinha sendo dada a outros, o que foi entendido como gentios. No entanto, o que Jesus descreveu foi de fato o que aconteceu em 70 d.C., quando os romanos destruíram a cidade de Jerusalém e o templo judaico, e então expulsaram o povo de Israel.

Jesus concluiu citando o Salmo 118 e Isaías 8.

Mas ele, olhando para eles, disse: Então o que é isto que está escrito: A pedra que os edificadores reprovaram foi feita cabeça da esquina? Qualquer que cair sobre essa pedra ficará em pedaços, e aquele sobre quem ela cair, será feito em pó.^[11]

Uma pedra angular, conforme referenciado no Salmo 118:22, é uma pedra usada na construção que suporta o peso e a pressão das paredes construídas sobre ela. Sem a pedra angular, as paredes e, portanto, todo o edifício, cairiam. Jesus é a pedra angular, o alicerce do edifício de Deus, o corpo dos crentes, a igreja.

Jesus então citou Isaías 8:14-15, que faz alusão àqueles que são ofendidos pelo Evangelho e rejeitam a pedra e, portanto, sofrem um julgamento severo. A primeira parte fala da liderança judaica, que cairia sobre a pedra e se quebraria em pedaços, significando que experimentariam um julgamento desastroso. A mesma ideia é então repetida, com a imagem da pedra caindo e esmagando esses líderes.

A parábola de Jesus reflete o que fora escrito em outras partes do livro de Isaías.

Cantarei ao meu amado o cântico do meu querido a respeito da sua vinha: O meu amado teve uma vinha num outeiro fértil. Ele a cavou e a limpou das pedras, e a plantou de excelentes vides. Edificou no meio dela uma torre, e construiu nela um lagar. E esperava que desse uvas, mas deu uvas bravas. Agora, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, julgai entre mim e a minha vinha. Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu não lhe tenha feito? E como, esperando eu que desse uvas, veio a produzir uvas bravas? Agora vos direi o que hei de fazer à minha vinha: Tirarei a sua sebe, para que sirva de pasto; derrubarei a sua parede, para que seja pisada. Torná-la-ei em deserto, não será podada nem escavada, e sarças e espinheiros crescerão nela. Darei ordem às nuvens para que não derramem chuva sobre ela. A vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas delícias. E esperou que exercessem justiça, mas viu opressão; retidão, mas ouviu clamor.^[12]

Com a parábola dos lavradores maus Jesus contou a História de Israel. Deus enviou profetas para guiar e advertir Seu povo, mas todos foram rejeitados. Então enviou Seu próprio Filho ao povo de Israel, e Jesus pacientemente os chamou para segui-lO e dar frutos. Infelizmente, as pessoas que rejeitaram consistentemente os profetas também falharam em aceitar e acreditar no Filho de Deus. Ao contar esta parábola, Jesus predisse Sua própria morte como o clímax de Sua rejeição.

Claro, é importante reconhecer que nem todo o povo de Israel rejeitou Jesus. Ele e Seus primeiros discípulos eram todos judeus. O apóstolo Paulo, que desempenhou um papel importante em levar o cristianismo ao mundo ocidental, também era judeu. Paulo frequentemente afirmava que a nacionalidade de uma pessoa não faz diferença quando se trata da salvação; o que importa é a fé e o tornar-se uma nova criatura.

Em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum, mas sim o ser uma nova criatura. E a todos os que andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus.^[13]

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Os Lavradores Maus, Lucas 20:9–19

⁹ Jesus passou a contar ao povo esta parábola: Certo homem plantou uma vinha, arrendou-a a viticultores, e ausentou-se do país por muito tempo.

¹⁰ No tempo oportuno mandou um servo aos viticultores, para que lhe dessem dos frutos da vinha. Os viticultores, porém, espancando-o, mandaram-no embora de mãos vazias.

¹¹ Tornou ainda a mandar outro servo, mas eles, espancando também a este, e afrontando-o, mandaram-no embora de mãos vazias.

¹² Tornou ainda a mandar terceiro, mas eles feriram também a este e o expulsaram.

¹³ Disse o senhor da vinha: Que farei? Mandarei o meu filho amado; talvez o respeitem.

¹⁴ Mas, vendo-o os viticultores, discutiram entre si, dizendo: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, para que a herança seja nossa.

¹⁵ Lançando-o fora da vinha, o mataram. Que lhes fará, pois, o senhor da vinha?

¹⁶ Irá, e destruirá esses lavradores, e dará a outros a vinha. Ouvindo eles isto, disseram: Não seja assim!

¹⁷ Mas ele, olhando para eles, disse: Então o que é isto que está escrito: A pedra que os edificadores reprovaram foi feita cabeça da esquina?

¹⁸ Qualquer que cair sobre essa pedra ficará em pedaços, e aquele sobre quem ela cair, será feito em pó.

¹⁹ Os principais sacerdotes e os escribas procuravam lançar mão dele naquela mesma hora, porque entenderam que contra eles dissera esta parábola. Mas temeram o povo.

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Nota

A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 2001, por Editora Vida.