Ecos no Natal

Dezembro 3, 2013

por Peter Amsterdam

Para muitos, uma parte importante do Natal é se lembrar da história do nascimento de Jesus, quer seja por meio de dramatizações teatrais do primeiro Natal, pela leitura da história do Seu nascimento narrado na Bíblia ou com a ajuda das lindas canções natalinas. Celebramos o momento e nos lembramos da história que dá origem à festa.

Quando lemos sobre os pastores, os reis magos, a manjedoura e a estrela, esses elementos remetem a diferentes aspectos do nascimento do nosso Salvador. Quando olhamos para o contexto no qual se deu o nascimento de Jesus, vemos que há muitos acontecimentos registrados no Antigo Testamento que dão eco à narrativa que os Evangelhos trazem da Natividade. Perceber essas ligações com o passado distante aprofunda nosso entendimento e valorização da obra de Deus, ao efetivar Seu plano para nossa salvação.

Um dos aspectos da história diz respeito ao anúncio feito à jovem judia de nome Miriam, ou Maria, em Português, escolhida para ser a mãe do Filho de Deus.

No sexto mês foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi. O nome da virgem era Maria.[1]

Como era costume, Maria havia desposado José, o que queria dizer que estava casada no civil com ele, mas não vivia com ele. Não haviam feito uma cerimônia nem consumado o casamento. Duas vezes, Lucas, autor do Evangelho, diz que Maria era virgem.

O anjo Gabriel fez este surpreendente anúncio a Maria:

Entrando o anjo onde ela estava, disse: Salve, agraciada! O Senhor é contigo. Bendita és tu entre as mulheres.  Porém ela se perturbou muito com essas palavras, e considerava que saudação seria essa.  Disse-lhe então o anjo: Maria, não temas, achaste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai.  Ele reinará eternamente sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.”[2]

Seis meses antes, o mesmo anjo havia aparecido para Zacarias, marido de Isabel, prima de Maria, quando ele estava no Templo em Jerusalém, e anunciou que Isabel teria uma criança. Gabriel disse a Zacarias:

Terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, pois será grande diante do Senhor. Não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe. E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus. Irá adiante dele no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, converter os rebeldes à prudência dos justos, e preparar ao Senhor um povo bem disposto.[3]

Os dois anúncios foram feitos por um mensageiro celestial, um anjo; ambos explicavam que as crianças nasceriam em situações que exigiam a intervenção de Deus, já que Maria era virgem e Isabel, idosa e estéril.

Maria foi instruída a chamar seu filho de Jesus. A Zacarias foi dito que desse ao seu filho o nome de João:

Vendo-o, Zacarias perturbou-se, e o temor apoderou-se dele. Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas. A tua oração foi ouvida. Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João.[4]

Assim como Maria, Zacarias ficou confuso e com medo ao ver o anjo. A ambos foi dito que não temessem.

Maria fez uma pergunta:

Perguntou Maria ao anjo: “Como acontecerá isso, se sou virgem?[5]

Zacarias também tinha algo a perguntar:

Perguntou Zacarias ao anjo: Como saberei isto? Eu sou velho, e minha mulher é avançada em idade.[6]

Os anúncios do nascimento de João Batista e de Jesus seguiram um roteiro parecido ao das histórias narradas no Antigo Testamento dos nascimentos de Ismael, Isaque e Sansão.

Vejamos algumas semelhanças entre as histórias:

  1. A aparição de um anjo do Senhor (ou do próprio Senhor)
  2. Quem recebeu a mensagem sentiu medo, assombro ou caiu prostrado diante do anjo ou mensageiro
  3. Uma mensagem divina contendo pelo menos um dos seguintes elementos:
    • A menção do nome da pessoa sendo visitada
    • A mensagem para que a pessoa não temesse
    • A revelação de que uma mulher daria à luz
    • Que a criança seria um menino
    • Uma explicação sobre as realizações futuras da criança
  4. Uma objeção quanto a possibilidade da promessa se cumprir ou um pedido de sinal
  5. A concessão de um sinal

Esse roteiro pode ser visto na história de Hagar, mãe de Ismael, quando foi encontrada pelo anjo do Senhor no deserto. O anjo a chamou pelo nome, dizendo: “Hagar, para onde vai?” Ela se mostrou surpresa e respondeu: “Tu és o Deus que me vê”, pois dissera: “Teria eu visto Aquele que me vê?” E o anjo lhe disse: “Você está grávida e terá um filho, e lhe dará o nome de Ismael e ele viverá em hostilidade contra todos os seus irmãos.”[7]

Foi também parecido o ocorrido com Abraão e sua esposa, Sara, que era estéril.

O senhor apareceu a Abraão, que tinha 99 anos de idade e lhe disse: “Eu sou o Deus todo-poderoso.” Abraão caiu com o rosto em terra e se prostrou diante do Senhor, que anunciou que, em um ano, lhe daria um filho com Sarai, sua esposa, e que a partir de então, ela deveria se chamar Sara. Abraão questionou como isso seria possível, “Poderá um homem de cem anos de idade gerar um filho? Poderá Sara dar à luz aos noventa anos?” Abraão foi instruído a chamar o menino de Isaque e Deus disse que firmaria uma aliança com Isaque e seus descendentes.[8]

Há também similaridades no anúncio do nascimento de Sansão.

O anjo do Senhor apareceu a uma mulher estéril e lhe disse que ela teria um filho, e que ela não beberia vinho nem bebida forte, não comeria nada impuro e que o menino seria um nazireu[9] para Deus toda sua vida. O marido da mulher, Manoá, pediu ao Senhor que enviasse outra vez o anjo e foi atendido. Ao término da segunda visita, Manoá e sua esposa ofereceram um sacrifício ao Senhor e o anjo ascendeu no fogo ateado à oferta. Ao ver isso, Manoá e sua mulher se prostraram. Manoá temeu e disse à mulher: “Certamente morreremos. Vimos a Deus.”[10]

Outra faceta interessante da história é que essas mulheres engravidarem foi milagroso. Sara e Isabel eram estéreis e idosas. Não há registro no Antigo Testamento da idade da mãe de Sansão, somente que também era estéril. Apesar da diferença entre as circunstâncias, nenhuma delas teria concebido se não fosse pela intervenção direta de Deus. Cada casal vivenciou um nascimento milagroso, assim como o Senhor avisou que seria.

Com Maria foi diferente.

Ela era virgem. Esses outros nascimentos foram milagres do poder de Desus, mas não há precedente no Antigo Testamento de uma mulher que tenha engravidado sem ter tido relações sexuais. Sara e Isabel eram idosas e estéreis que engravidaram por um milagre de Deus. No caso de Maria, o milagre teria de ser maior. Seria necessário uma manifestação completamente inédita do poder criativo de Deus.

Maria perguntou ao anjo como isso aconteceria.

“Como acontecerá isso, se sou virgem?” O anjo respondeu: O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado Santo, Filho de Deus.”[11]

Em vez de Deus contornar um impedimento físico como foi o caso da esterilidade e da velhice das outras mulheres, teria de fazer algo completamente novo, um ato de criação sem precedentes.

O Espírito Santo se projetando sobre Maria e realizando uma obra de Deus tão criativa liga essa intervenção sobrenatural com as primeiras frases do Livro de Gênesis:

A terra era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.[12]

O escritor Raymond E. Brown explica isso da seguinte maneira:

O Espírito que vem a Maria é mais próximo do Espírito de Deus que pairava sobre as águas antes da criação, narrada em Gênesis 1:2. A terra era vazia e sem forma quando o Espírito apareceu, assim como o ventre de Maria estava vazio até que até que pelo Espírito Deus o encheu com uma criança, Seu Filho.[13]

Posteriormente, lemos no Evangelho segundo Lucas sobre outra aparição similar. Fala da transfiguração de Jesus, quando este estava sobre o monte com Pedro, Tiago e João. Enquanto orava, Seu rosto foi mudado e Suas roupas ficaram incrivelmente brancas. Como quando do anúncio feito à Maria, o Espírito diz que Jesus é o Filho de Deus.[14]

Uma nuvem apareceu e os envolveu, e eles ficaram com medo ao entrarem na nuvem. Dela saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Escolhido; ouçam-no!”[15]

Quando Jesus foi batizado no Rio Jordão, vemos alguns elementos do anúncio do Espírito Santo que desce sobre Ele e, mais uma vez, é pronunciado que Jesus é o Filho de Deus:

Quando todo o povo estava sendo batizado, também Jesus o foi. E, enquanto ele estava orando, o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba. Então veio do céu uma voz: “Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado.”[16]

Outro exemplo de ecos do Antigo Testamento da história da Natividade é a referência à profecia milenar de Natan com respeito à descendência do rei Davi, que o anjo faz ao anunciar para Maria o Seu nascimento. Essa profecia fundamentava a expectativa de Israel quanto à vinda do Messias. Aqui estão trechos da profecia proferida por Natan:

Eu o farei tão famoso quanto os homens mais importantes da terra[17] eu firmarei o trono dele para sempre.[18] Eu serei seu pai, e ele será meu filho.[19] Sua dinastia e seu reino permanecerão para sempre diante de mim.[20]

A esperança e expectativa do povo judeu na época do nascimento de Jesus era que um messias —um ser humano normal— fosse ungido por Deus e ascendesse em Israel como rei e líder. Ninguém contava que o messias fosse o Filho de Deus.

Contudo, o anjo Gabriel, usando termos similares aos da profecia de Natan, expressou que o filho de Maria seria grande, que Deus lhe daria o trono de Davi para sempre, que seu reino seria eterno e, principalmente, que a criança seria chamado Filho do Altíssimo.[21]

Nesses poucos exemplos de semelhanças entre a história do nascimento de Jesus e outros acontecimentos do Antigo Testamento a ele relacionados, vemos ligações que apontam para o maravilhoso milagre do amor de Deus por nós e Sua obra por toda a história, para trazer a salvação para a humanidade. Jesus, o Filho de Deus, veio para este mundo como um presente de amor do próprio Deus. Sua vida, morte e ressurreição permitiram nos conectarmos com Deus de uma forma muito mais pessoal e íntima do que antes era possível. Pela dádiva de Deus para a humanidade, podemos encontrar a alegria e felicidade de ser um dos filhos de Deus, para vivermos com Ele para sempre —o maior e mais duradouro presente de todos.

Que você tenha um Natal maravilhoso celebrando o nascimento daquele que viveu e morreu por você e por mim, Jesus, o Filho de Deus, que deu a vida para que possamos viver com Ele para sempre. É o presente de Deus par a humanidade.[22]

Gostaria de ter um relacionamento pessoal com o Deus de amor? Você pode receber Jesus em seu coração agora mesmo, bastando para isso, fazer esta simples oração:

Querido Jesus, por favor, perdoe-me por todos os meus pecados. Acredito que você morreu por mim. Acredito que você é o Filho de Deus. Peço que entre no meu coração. Por favor, Jesus, entre e me ajude a confessá-lo para os outros para que também O encontrem. Em Seu nome, eu peço. Amém.

Se quiser saber mais sobre como desenvolver um relacionamento pessoal com Deus, leia mais.


[1] Lucas 1:26–27.

[2] Lucas 1:28–33.

[3] Lucas 1:14–17.

[4] Lucas 1:12–13.

[5] Lucas 1:34 (NVI).

[6] Lucas 1:18.

[7] Ver Gênesis 16 (NVI).

[8] Gênesis 17 (NVI).

[9] Pessoa escolhida ou consagrada a Deus pela vida inteira ou por um tempo determinado. O nazireu se devotava a uma disciplina auto imposta para realizar alguma missão especial. Segundo a tradição israelita, o nazireu se consagrava a vida inteira. Sansão foi o herói dos nazireus. Foi “consagrado a Deus” pelo voto de sua mãe (Juízes 13:5; 16:17) e permaneceu sob o voto até o “dia de sua morte” (Juízes 13:7). Enquanto o cabelo de Sansão não foi cortado, ele recebia o “espírito do Senhor” e por conta disso podia realizar façanhas físicas extraordinárias. W. A. Elwell e B. J. Beitzel, Baker Encyclopedia of the Bible (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1988).

[10] Juízes 13.

[11] Lucas 1:34–35.

[12] Gênesis 1:2.

[13] The Birth of the Messiah (New York: Doubleday, 1993), 314.

[14] Lucas 9:29–35. NVI

[15] Lucas 9:34–35. NVI

[16] Lucas 3:21–22. NVI

[17] 2 Samuel 7:9. NVI

[18] 2 Samuel 7:13. NVI

[19] 2 Samuel 7:14.

[20] 2 Samuel 7:16.

[21] Lucas 1:32–33.

[22] Os tópicos para este artigo foram tirados dos ensinamentos do livro de Raymond E. Brown, The Birth of the Messiah (New York: Doubleday, 1993).