A Essência de Tudo: O Deus Homem (1ª Parte)

Abril 19, 2011

por Peter Amsterdam

Sugiro que leia "A Essência de Tudo: Introdução" antes dos outros artigos nesta série.

A essência da fé cristã se encontra na resposta a uma simples mas importantíssima e crucial pergunta: Quem é Jesus?. Para entender a nossa fé é preciso entender quem Ele é, Sua história, Seus ensinamentos, a razão da Sua vida e de Sua vinda ao mundo.

Jesus é Deus. Ele é a segunda pessoa da Trindade, composta por Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. (Para mais informações sobre a Trindade, leia a série A Essência de Tudo sobre o tema.)

A maravilha desta verdade é o fato de Jesus ser Deus, o que significa que toda pessoa, não importa a idade, que convidá-lO para participar de sua vida é perdoada pelos seus pecados e recebe a vida eterna. Nós, seres humanos, pecamos, e esses pecados são uma ofensa contra Deus, razão por que devemos ser perdoados e nos reconciliarmos com Ele. E a única maneira seria por meio de Jesus, que é Deus, se Ele assumisse a forma humana, vivesse sem pecar, morresse pelos nossos pecados e ressuscitasse. E foi exatamente o que aconteceu!

Em um próximo artigo veremos por que a morte de Jesus concede o perdão divino. Basta dizer que as Escrituras ensinam que a morte de Cristo pelos pecados do mundo é o fundamento e plano para a salvação de toda a humanidade. Jesus cumpriu os requisitos para cada um de nós ser perdoado por Deus.

O Logos

Jesus é o Deus Filho na Trindade, junto com Deus Pai e Deus Espírito Santo. Sendo assim, possui todos os atributos de Deus. (Para mais informações sobre os atributos de Deus, leia a série A Essência de TudoA Natureza e a Personalidade de Deus”.)

Deus é o criador de todas as coisas, é eterno e auto existente. Por isso, para Jesus ser Deus, tem que ser eterno e também ter existido antes de todas as coisas, além de ter participado da criação de tudo o que existe. Segundo as Escrituras, Jesus reflete tudo isso.

Os três primeiros versículos do Evangelho de João explicam muito bem essa questão:

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.Ele estava no princípio com Deus.Todas as coisas foram feitas por meio dEle, e sem Ele nada do que foi feito se fez.

Falando do Deus Filho antes de vir à Terra, João se referiu a Ele como a Palavra, não como Jesus. Estes versículos mostram que a Palavra/Jesus participou da criação, “Todas as coisas foram feitas por meio dEle.” No original em grego, o termo usado por João e traduzido por Palavra era Logos, também usado anteriormente no século VI a.C pelo filósofo grego Heráclito no sentido de razão divina ou plano que coordena um universo em constante mudança. Sendo assim, para quem falava grego naquela época, Logos significava razão, um termo que os ajudava a entender o sentido dos versículos, por exemplo em “no princípio era a razão ou a mente de Deus. Dessa forma eles entendiam que antes da criação o Logos existia na eternidade junto com Deus. Portanto, o Logos, a Palavra, o Deus Filho, existia antes de qualquer coisa ter sido criada, inclusive antes do tempo, espaço ou energia.

Athanásio, um dos pais da igreja primitiva escreveu, “O Logos existe desde sempre.”[1] Ele é eterno. O Logos, Deus Filho, estava junto com Deus, o Pai, e era Deus.

João 1:14 continua:

O Verbo se fez carne, e habitou entre nós. Vimos a sua glória, a glória como do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.

João diz claramente que o Logos, a Palavra, Deus Filho, Se tornou carne e viveu na terra, ou seja, o Deus Filho viveu como um ser humano. Isso significa que Ele, um ser eterno e espiritual, assumiu a forma humana no tempo e no espaço. Isso só poderia acontecer se Deus encarnasse mesmo — exatamente o que aconteceu quando Jesus de Nazaré nasceu. Ele Se tornou o Deus homem, Deus na carne, que habitou entre nós.

Esse fato é fundamental para a fé cristã, por isso achei que seria bom recapitular o que Jesus disse sobre Ele ser Deus.

A Divindade de Jesus

É importante observar que, de acordo com as Leis de Moisés, qualquer pessoa que afirmasse ser Deus estaria blasfemando e o castigo seria a morte. Em mais de uma ocasião os judeus pegaram pedras para matar Jesus, e no Seu julgamento diante dos líderes religiosos Ele foi condenado à morte por Se dizer Deus. Definitivamente os judeus da época entenderam que Ele estava Se colocando como um ser divino.

No capítulo 8 de João encontra-se registrada uma das Suas afirmações:

Vosso pai Abraão exultou por ver o Meu dia; viu-o e alegrou-se.Disseram-lhe os judeus: Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão nascesse, Eu sou!Então pegaram em pedras para atirar nEle, mas Jesus Se ocultou, e retirou-Se do templo.[2]

O que Jesus disse nesta passagem é duplamente significativo. Primeiro, apesar de Ele nem ter cinquenta anos de idade afirmava estar vivo antes de Abraão, que vivera e morrera dois mil anos antes. Apenas Deus é eterno, e era isso o que Jesus estava afirmando. Segundo, ao dizer, “antes que Abraão nascesse, Eu sou”. Jesus estava assumindo o título de Deus.

Em Êxodo 3:14, Deus revela para Moisés que Ele é “Eu sou o que Sou,” e então pede para ele dizer ao povo de Israel que o EU SOU o enviou a eles. O nome de Deus, EU SOU, é YHWH, ou Yahweh, no Antigo Testamento. É tão sagrado que judeus devotos evitavam proferi-lo — desde antes de Jesus até hoje. (Os judeus religiosos preferem usar Adonai, cuja tradução é “Senhor”.) Mas Jesus usou esse nome de Deus, YHWH, referindo-Se a Si mesmo, de modo que os judeus a quem Ele Se dirigia entenderam claramente o que Ele queria dizer e pegaram pedras para matá-lO.

O capítulo 10 de João mostra uma outra ocasião em que os judeus entenderam que Jesus afirmava a Sua divindade:

Houve então a festa da dedicação em Jerusalém. Era inverno, e Jesus andava passeando no templo, no pórtico de Salomão. Rodearam-no os judeus, e disseram: Até quando nos manterás em suspenso? Se Tu és o Cristo, dize-o abertamente. Jesus respondeu: Eu já vos disse, e não credes. Os milagres que Eu faço em nome de Meu Pai falam por Mim. Mas vós não credes porque não sois das Minhas ovelhas. As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz; Eu as conheço, e elas Me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; ninguém poderá arrebatá-las da Minha mão. Meu Pai, que as deu a Mim, é maior do que todos; ninguém pode arrebatá-las da mão dEle. Eu e o Pai somos um.

De novo os judeus pegaram em pedras para apedrejá-lO, mas Jesus lhes disse: Tenho-vos mostrado muitos grandes milagres procedentes de Meu Pai. Por qual deles Me apedrejais? Responderam os judeus: Não Te apedrejamos por nenhum milagre, mas pela blasfêmia, porque Tu, mero homem, Te fazes Deus a Ti mesmo.”

“Se não faço as obras de Meu Pai, não acrediteis em Mim. Mas se as faço, e não credes em Mim, crede nas obras, para que possais saber e compreender que o Pai está em Mim, e Eu nEle. De novo procuravam prendê-lO, mas Ele lhes escapou das mãos.[3]

Nestas passagens Jesus Se refere aos milagres que realizou dizendo que os judeus deveriam crer nas Suas obras porque mostravam que “Eu e o Pai somos um.”

Em diversas ocasiões Jesus declarou Eu sou, em outras palavras, afirmou indiretamente sua divindade, confirmada por Seus milagres. Por exemplo, um dia após alimentar 5 mil pessoas com peixes e pães multiplicados a partir de dois peixes e cinco pães de cevada, Jesus disse:

“Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a Mim não terá fome, e quem crê em Mim jamais terá sede.”[4]

“Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre. Este pão é a Minha carne, que Eu darei pela vida do mundo.”[5]

Murmuravam dEle os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu. Diziam: Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Então como diz Ele: Desci do céu?”[6]

No capítulo 9 de João, Jesus faz uma outra declaração de Eu sou atrelada a um milagre. Saindo do templo Ele viu um homem cego de nascença, e disse:

“Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. Tendo dito isto, cuspiu na terra, fez lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego, e disse: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que significa o Enviado). O cego foi, lavou-se e voltou vendo.[7]

Quando os fariseus inquiriram como fora curado da cegueira, o homem explicou que Jesus o curara, e foi então expulso do templo. E o capítulo continua:

Jesus ouviu que o tinham expulsado e, quando o encontrou, perguntou: Crês tu no Filho do homem? Perguntou o homem: Quem é Ele, Senhor, para que eu nEle creia? Jesus disse: Tu já o viste, e é Aquele que fala contigo. Disse o homem: Creio, Senhor. E o adorou.[8]

João 11 relata outra declaração de Eu sou atrelada a um milagre, depois da morte e do enterro de Lázaro, amigo de Jesus, em Betânia. Quatro dias depois Jesus seguiu para lá. Ao vê-lO, Marta disse que se Jesus estivesse ali, seu irmão não teria morrido.

Disse Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em Mim, nunca morrerá. Crês isto? Disse ela: Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.”[9]

Jesus então ressuscitou Lázaro e muitos passaram a acreditar nEle. A resposta dos fariseus e sacerdotes principais foi convocar um conselho, e “Desde aquele dia, resolveram matá-lO.”[10]

Outras afirmações de Eu sou:

“Eu sou a porta. Todo aquele que entrar por Mim, salvar-se-á. Entrará e sairá, e achará pastagens.”[11]

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por Mim. Se vós Me conhecêsseis, também conheceríeis a Meu Pai. De agora em diante O conheceis, e O vistes.”[12]

O sumo sacerdote Lhe tornou a perguntar: És Tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito? Disse-lhe Jesus: Eu sou. E vereis o Filho do homem assentado à direita do Todo-poderoso, e vindo sobre as nuvens do céu. O sumo sacerdote rasgou as suas vestes, e disse: Por que necessitamos de mais testemunhas? Vós ouvistes a blasfêmia. Que vos parece? Todos o consideraram réu de morte.[13]

Os fariseus interpretaram como afirmação de divindade o fato de Jesus dizer Eu sou e denominar-se Filho do Homem; consideraram uma blasfêmia e responderam dizendo que Ele merecia a morte como castigo.

Filho do Homem

Toda vez que o termo Filho do Homem aparece nos Evangelhos, Jesus o usa referindo-Se a Si mesmo. Vem desde Daniel 7:13–14, que descreve o Filho do Homem recebendo autoridade, glória, soberania e um reino eterno. Essa passagem fala claramente de alguém que já existia nos céus e recebe o domínio eterno sobre o mundo. Os judeus da época de Jesus conheciam essa passagem em Daniel e sabiam que Jesus estava Se referindo a Si mesmo.

Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e vi que vinha nas nuvens do céu um como o filho do homem. Ele Se dirigiu ao Ancião de Dias, e O fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado o domínio, a honra e o reino; todos os povos, nações e línguas O adoraram. O Seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o Seu reino o único que não será destruído.[14]

Alguns outros versículos importantes nos quais Jesus refere-Se a Si mesmo como Filho do Homem:

Ora, para que saibais que o Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados.[15]

Pois o Filho do homem virá na glória de Seu Pai, com os Seus anjos, e então recompensará a cada um segundo as suas obras.[16]

Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, da mesma forma importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo aquele que nEle crê tenha a vida eterna.[17]

Além das afirmações Eu sou e Filho do Homem, Jesus também inferiu estar ao lado de Deus antes de vir à terra:

Vim do Pai e entrei no mundo; agora deixo o mundo e volto para o Pai.[18]

Eu Te glorifiquei na terra, concluindo a obra que me deste para fazer. E agora, Pai, glorifica-Me em tua presença com a glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.[19]

Pecados perdoados

Além de Suas afirmações inequívocas, Seus atos também demonstraram Sua divindade. Não foi o caso de Ele dizer “Eu sou Deus”, mas sim dizer ou realizar feitos que só poderiam ser atribuídos a Deus. Jesus lhes disse, “Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também.”[20] Um exemplo é o fato de Ele ter perdoado pecados. Uma pessoa pode perdoar a outra que pecar contra ela, mas Jesus perdoou os pecados dos que haviam pecado contra outros.

C. S. Lewis definiu da seguinte maneira: “Compreendemos que um homem perdoe as ofensas cometidas contra ele mesmo. Você pisa no meu pé ou furta o meu dinheiro e eu lhe perdoo. O que diríamos, no entanto, de um homem que, sem ter sido pisado ou roubado, anunciasse o perdão dos pisões e dos roubos cometidos contra os outros? Presunção asinina[21] é a definição mais gentil que podemos dar da sua conduta. Entretanto foi isso o que Jesus fez. Anunciou ao povo que os pecados cometidos estavam perdoados, e fez isso sem consultar os que sem dúvida alguma haviam sido lesados por esses pecados. Sem hesitar comportou-Se como se fosse Ele a parte lesada, como se fosse o principal ofendido. Isso só tem sentido se Ele for realmente Deus, cujas leis são transgredidas e cujo amor é ferido a cada pecado cometido.”[22]

Nestas duas passagens Jesus perdoa aos pecados, o que levanta questões entre os líderes judeus que entenderam as implicações de tal afirmação.

Vieram ter com Ele conduzindo um paralítico, trazido por quatro homens e, não podendo aproximar-se dEle, por causa da multidão, descobriram o telhado onde estava e, fazendo um buraco, baixaram o leito em que jazia o doente. Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, perdoados estão os teus pecados. Estavam ali assentados alguns dos escribas, que arrazoavam em seus corações: Por que profere este assim blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus? Jesus, conhecendo logo em Seu espírito que assim arrazoavam entre si, lhes disse: Por que arrazoais sobre estas coisas em vossos corações? Qual é mais fácil, dizer ao paralítico: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer-lhe: Levanta-te, toma o teu leito, e anda? Ora, para que saibais que o Filho do homem tem na terra poder para perdoar pecados (disse ao paralítico): A ti te digo: Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa. Ele se levantou e, tomando logo o leito, saiu na presença de todos, de sorte que todos se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca vimos tal coisa!”[23]

Jesus perdoou os pecados da humanidade e realizou um milagre para corroborar Sua autoridade divina.

O segundo exemplo foi durante a visita de Jesus à casa de um fariseu chamado Simão, quando ali entrou uma mulher, conhecida pecadora. Chorando, chegou a molhar Seus pés com suas lágrimas e enxugá-los com seus cabelos, depois os ungindo com óleo.

Então voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não Me deste água para os pés; esta, porém, regou com lágrimas os Meus pés, e os enxugou com os seus cabelos. Não Me deste ósculo, mas ela, desde que entrou, não cessou de Me beijar os pés. Não Me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-Me os pés com unguento. Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, pois muito amou. Mas aquele a quem pouco é perdoado, pouco ama. Então Jesus disse à mulher: Os teus pecados te são perdoados. Os que estavam à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este que até perdoa pecados? Jesus disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz.[24]

Em todas as ocasiões, os mestres e líderes judeus entenderam muito bem as palavras e ações de Jesus que expressavam direta ou indiretamente Sua divindade, e, portanto, eram consideradas blasfemas.

Juízo dos homens

Outra inferência é que Jesus julgaria a humanidade na próxima vida, o que segundo os escritos sagrados dos judeus era autoridade conferida estritamente a Deus.

“Quando o Filho do homem vier em Sua glória, e todos os santos anjos com Ele, então Se assentará no trono da sua glória. Todas as nações se reunirão diante dEle, e Ele apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas. Ele porá as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”…“Então dirá também aos que estiverem à Sua esquerda: Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos.’”[25]

“O Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo, para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou.”[26]

Relação com o Pai

Jesus também disse ter um relacionamento especial e único com o Pai.

“Em verdade, em verdade vos digo que o Filho por Si mesmo não pode fazer coisa alguma; Ele só pode fazer o que vê o Pai fazendo, porque tudo o que o Pai faz, o Filho o faz igualmente. Porque o Pai ama o Filho, e Lhe mostra tudo o que faz. E Lhe mostrará maiores obras do que estas, para que vos maravilheis.”[27]

“Eu e o Pai somos um.”[28]

“Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.”[29]

John Stott, clérigo da Igreja Anglicana, conceituado líder do movimento evangélico e autor, expressou a relação ímpar de Jesus com o Pai da seguinte forma:

Tal era a Sua intimidade com Deus que era natural para Ele [Jesus] equiparar atitudes humanas à Sua relação [de um homem] com Deus. Sendo assim,

conhecer Jesus era conhecer Deus;

ver Jesus equivalia a ver Deus;

crer em Jesus equivalia a crer em Deus;

receber Jesus equivalia a receber Deus;

odiar Jesus equivalia a odiar Deus;

honrar Jesus equivalia a honrar Deus.[30]

Essas afirmações de Jesus não provam forçosamente que Ele é Deus, mas mostram que Ele compreendia ser Deus. Logicamente, um maluco pode acreditar ser Deus, mas não significa que seja. No seu livro Em Defesa de Cristo, Lee Strobel entrevistou Gary R. Collins, mestre e doutor em psicologia e autor de 45 livros sobre comportamento humano, perguntando sobre a saúde mental de Jesus. Collins apresentou diversas razões por que Jesus parecia ser perfeitamente são. Incluo referências desse excelente livro, o qual sugiro que leia se tiver interesse em saber mais sobre o assunto.

“Pessoas com distúrbios psicológicos, às vezes têm distúrbios comportamentais, não conseguem manter uma conversa, suas conclusões são distorcidas e irracionais. Não é o que se vê em Jesus. Ele falou claramente, com autoridade e eloquência. Ele era brilhante e possuía um insight surpreendente da natureza humana.

“Atitudes inadequadas também denunciam o quadro psicológico, como por exemplo, vestir-se de maneira estranha ou incapacidade de se relacionar socialmente. Jesus tinha um comportamento dentro do esperado, com um profundo e estável relacionamento com diferentes tipos de pessoas.

“Ele era amoroso, mas Sua compaixão não O imobilizava e apesar de muitas vezes estar rodeado de admiradores, Ele não era convencido. Conseguia manter um equilíbrio apesar de um estilo de vida que tanto exigia dEle. Sempre sabia o que estava fazendo e aonde estava indo; tinha uma preocupação profunda pelas pessoas, inclusive pelas mulheres e crianças, a quem na época não se costumava dar importância. Ele respondia às pessoas de acordo com o local onde se encontravam e sua necessidade específica.”

— Então, doutor, qual é o seu diagnóstico? — perguntei.

— Não há qualquer sinal de demência em Jesus — ele concluiu, acrescentando com um sorriso — Ele era muito mais saudável do que qualquer outra pessoa que conheço, até mais do que eu!”[31]

Em “Deus, Mentiroso ou Lunático”, C.S. Lewis apresentou um famoso argumento chamado o trilema de Lewis sobre a demência de Jesus ou Sua divindade. Em Cristianismo Puro e Simples, ele escreveu:

Estou tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por muitos a Seu respeito: Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não aceito a Sua afirmação de ser Deus. Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral. Seria um lunático, no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido — ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lO por ser um louco, pode cuspir nEle e matá-lO como a um demônio, ou pode prosternar-se a Seus pés e chamá-lO de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha com paternal condescendência dizer que Ele não passava de um grande mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la.[32]

Há quem argumente contra o trilema de Lewis dizendo existir outras opções. Em seu livro, Manual de Defesa da Fé – Apologética Cristã, Peter Kreeft e Ronald Tacelli acrescentaram duas outras possibilidades ao argumento de Lewis, “Guru” ou “Mito”. O seu bem sucedido argumento é que Jesus não foi mentiroso, lunático, guru e nem um mito, mas exatamente quem Ele disse ser, o Deus Filho.[33]

As afirmações da divindade de Jesus, acrescentadas aos Seus milagres, ressurreição e ascensão aos céus, além das profecias no Antigo Testamento que nEle se cumpriram não deixam dúvidas que Jesus é Deus. E Ele não foi o único a afirmá-lo. No próximo artigo desta série veremos o que dizem aqueles que O conheceram pessoalmente.


Notas

Salvo indicação contrária, todos os versículos são da Bíblia Edição Contemporânea Almeida, copyright © 1990 Editora Vida.


Bibliografia

Barth, Karl. The Doctrine of the Word of God, Vol.1, Part 2 (A Doutrina da Palavra de Deus). Editora Hendrickson, 2010.

Berkof, Louis. Systematic Theology (Teologia Sistemática). Editora Wm. B. Eerdmans, 1996.

Cary, Phillip. The History of Christian Theology, (A História da Teologia Cristã) preleções. Preleção 11, 12. Chantilly: The Teaching Company, 2008.

Craig, William Lane. The Doctrine of Christ (A Doutrina de Cristo). Série Defenders Lecture.

Garrett, Jr., James Leo. Systematic Theology, Biblical, Historical, and Evangelical, Vol. 1 (Teologia Sistemática, Bíblia, Histórica e Evangélica). N. Editora BIBAL, Richland Hills, 2000.

Grudem, Wayne. Systematic Theology, An Introduction to Biblical Doctrine (Teologia Sistemática, Introdução à Doutrina Bíblica). Editora InterVarsity, Grand Rapids, 2000.

Kreeft, Peter, and Ronald K. Tacelli. Manual de Defesa da Fé – Apologética Cristã. Editora Central Gospel,

Lewis, Gordon R., and Bruce A. Demarest. Integrative Theology (Teologia Integrada). Editora Zondervan, Grand Rapids, 1996.

Milne, Bruce. Conheça a Verdade. Estudando as Doutrinas da Bíblia. ABU Editora.

Mueller, John Theodore. Dogmática Cristã, Porto Alegre: Concordia.

Ott, Ludwig. Fundamentals of Catholic Dogma (Fundamentos do Dogma Católico) Reimpresso pela Tan Books, Rockford, 1960.

Stott, John. Cristianismo Básico. Editora Ultimato.

Williams, J. Rodman. Renewal Theology, Systematic Theology from a Charismatic Perspective (Teologia da Renovação, Teologia Sistemática da Perspectiva Carismática). Editora Zondervan, Grand Rapids, 1996.


[1] Phillip Cary, The History of Christian Theology (A História da Teologia Cristã), Lecture Series (Chantilly: The Teaching Company, 2008), Lecture 10.

[2] João 8:56–59.

[3] João 10:22–33, 37–39.

[4] João 6:35.

[5] João 6:51.

[6] João 6:41–42.

[7] João 9:5–7.

[8] João 9:35–38.

[9] João 11:25–27.

[10] João 11:53.

[11] João 10:9.

[12] João 14:6–7.

[13] Marcos 14:61–64.

[14] Daniel 7:13–14.

[15] Mateus 9:6.

[16] Mateus 16:27.

[17] João 3:14–15.

[18] João 16:28.

[19] João 17:4–5.

[20] João 5:17.

[21] estupidez ridícula do mais alto grau.

[22] C. S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples, capítulo 3, “A Alternativa Estarrecedora” Martins Fontes, São Paulo, 2005.

[23] Marcos 2:3–12.

[24] Lucas 7:44–50.

[25] Mateus 25:31–34, 41.

[26] João 5:22–23.

[27] João 5:19–20.

[28] João 10:30.

[29] Mateus 11:27.

[30] J. Stott, Cristianismo Básico, p.34.

[31] Lee Strobel, Em Defesa de Cristo, Editora Vida.

[32] C. S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples, livro II, capítulo 3, “A Alternativa Estarrecedora”, Martins Fontes, São Paulo, 2005.

[33] Para entender melhor o argumento, leia Manual de Defesa da Fé – Apologética Cristã, capítulo 10.