Evangelizar Contando Histórias da Bíblia — 1ª Parte

Agosto 8, 2015

por Maria Fontaine

[Storying The Gospel—Part 1]

Quero falar sobre um método de evangelizar e discipular utilizado por Jesus e bastante efetivo até hoje. É a contação de histórias da Bíblia. Durante séculos tem sido usado de alguma forma, mas hoje está varrendo o mundo. São milhares e milhares de pessoas divulgando para outros milhares. Seguem-se alguns fatos a esse respeito e alguns dos muitos exemplos de vidas transformadas de pessoas com experiência na área e que alcançaram grande sucesso por meio desse método.

Existem milhões de analfabetos no mundo e milhões de alfabetizados que não conseguem ler muito bem ou que vivem em culturas com tradição oral. Nestas, a palavra escrita e a literatura não fazem parte do processo de aprendizado que vai influir no modo de pensar da população. Pela tradição oral, é possível assimilar os mesmos pensamentos, ideias e conceitos adquiridos por meio da leitura e escrita, desde que sejam apresentados de uma maneira que a pessoa consiga absorver.

Muitos dos povos menos evangelizados no mundo tipicamente vivem em culturas de tradição oral, onde o aprendizado e a comunicação se dão apenas verbalmente. Esse fator dificulta a disseminação do Evangelho, pois não se pode apenas entregar uma Bíblia ou um folheto para as pessoas lerem. Mas é possível evangelizá-las da mesma maneira que os cristãos têm feito há décadas entre povos de tradição oral: por meio de histórias, algo efetivo desde o comecinho da evangelização. De acordo com a Bíblia, Jesus sempre usou histórias e ilustrações ao Se dirigir às multidões.[1]

Deus nos programou para termos interesse por histórias. Quando alguém diz: “Vou lhe contar uma história...” todos prestam atenção. Stephen Stringer, um veterano contador de histórias disse: “Uma imagem vale por mil palavras, mas uma história vale por mil imagens”.

Em um país na África Central, missionários realizaram um trabalho junto a uma tribo durante 25 anos e ganharam 25 convertidos. Mas quando alguns jovens cristãos da tribo decidiram incorporar as palavras do Evangelho aos cantos tradicionais, a mensagem se espalhou como fogo descontrolado. Não demorou muito e 250 mil pessoas se converteram. A mensagem continuou a mesma, mas a apresentação foi feita de acordo com a tradição oral, da maneira que o povo conseguia aprender.

Esse método de compartilhar o Evangelho é como ilustrar a Bíblia, em outras palavras, contar as histórias mais importantes da Bíblia usando música, dança, interpretação e gravuras para evangelizar, fazer discípulos e fundar igrejas “até os confins da terra”.[2] Envolve todos os nossos sentidos de maneira que conseguimos gravar a Palavra de Deus. Discutir histórias valoriza tudo o que é contado.

Se você está acostumado a aprender por meio da leitura, precisa ajustar o seu método de ensino para conseguir ministrar aos que só conseguem aprender ouvindo. As culturas literárias via de regra resumem as histórias por meio de afirmações que transmitam a essência da mensagem, como princípios, esboços, e uma lista de diferentes etapas. E ficam incomodados se a história se prolonga, pois querem ir logo ao xis da questão. As pessoas de tradição oral pensam diferente. O seu conhecimento está embutido nas histórias, provérbios ou imagens mentais de acontecimentos os quais se lembram e aplicam diante de diferentes situações em suas vidas. Dependem da memória. Muitas vezes têm uma capacidade impressionante de memorizar longas histórias, recontá-las ou recitá-las. Os povos antigos aprendiam oralmente.

Para transmitir o Evangelho em culturas de tradição oral, é uma grande vantagem saber contar histórias. Contar as histórias da Bíblia em ordem cronológica e sequencial em vez de maneiras desconexas ajuda o ouvinte a entender cada história no contexto geral da grande história de Deus.


Mangal é um crente de 33 anos de idade. É casado, tem cinco filhos e muito amor pelos perdidos. Ele vive em um acampamento para refugiados junto com milhares de outras vítimas das guerras tribais que destruíram seus vilarejos. Ele sabe ler um pouco, mas a sua tribo é de tradição oral. Mangal também sabe compartilhar o Evangelho por meio da contação de histórias da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, e de canções ligadas às histórias.

Mangal não sabia ao certo como testemunhar, então começou a trabalhar nos campos, onde contava histórias, além de cantar suas canções. Aos poucos as pessoas começaram a ficar interessadas, e certa noite, enquanto orava e cantava, uma mulher quis saber o que ele estava fazendo. Respondeu que estava louvando a Deus. Ela perguntou se ele conhecia outras canções que poderia lhe ensinar. Ele ensinou, e todas as noites, após o jantar, as pessoas se reuniam para cantar junto com ele.

Depois de uns dias, um menino ficou doente, então Mangal perguntou aos pais se a família acreditava que Deus poderia curar o menino. Explicou que se acreditassem e orassem com ele, a criança ficaria curada. Em uma semana o garoto se recuperou totalmente. A família então declarou: “Nós acreditamos no seu Deus e queremos seguir a Ele.”

Outros que trabalhavam com Mangal nos campos o convidaram para lhes contar histórias, propondo fazerem o trabalho e ele ficar contando as histórias durante a sua jornada de trabalho.[3]


Mark e Glória, missionários da Missão Novas Tribos, começaram a ensinar o povo mouk na Papua Nova Guiné em 1983.  Eles não sabiam como fazê-lo, então decidiram contar as histórias bíblicas em ordem cronológica para os 310 habitantes da vila todas as manhãs e noites. Em algumas semanas o povo mouk criou uma reverência sincera por Deus. Eles ouviam o Antigo Testamento e temiam que Deus os destruísse por causa de seus pecados. No final, Mark apresentou Jesus, nascido em Belém, e Ele se tornou o herói do povo.

Ficaram chateados ao ouvir a história de Judas e sua traição. Eles tinham fé de que Jesus, de alguma maneira escaparia.

Na manhã seguinte, Mark contou ao povo a história da crucificação de Jesus e a ressurreição, e recontou histórias entrelaçando tudo. A essa altura, o povo realmente foi “iluminado” e começou a gritar “EE-Taow! EE-Taow!” [“É verdade (ou é bom); é verdade mesmo!”]

Aquele dia, praticamente a vila inteira recebeu Jesus, e as pessoas normalmente contidas celebraram por duas horas e meia.

Mark então perguntou quando eles iriam contar as novidades aos povos das outras vilas, e todos se calaram.

Por fim um homem se manifestou dizendo que iriam, mas não sabiam o que fazer. Mark respondeu que lhes mostraria.

Uma celebração espontânea começou novamente e, depois de alguns dias de treinamento, os aprendizes saíram para divulgar a Palavra às doze tribos ao redor.[4]


Em meados do século dezoito, o Senhor chamou Titus Coan para ministrar no Havaí. Ele adorava ensinar o povo sobre Jesus, e conseguia mostrar um Evangelho interessante por meio de histórias, desenhos e canções. O povo havaiano fez canções baseadas em histórias bíblicas que usavam para dançar e divulgar a mensagem. A igreja cresceu rapidamente e se tornou uma das maiores do mundo principalmente por causa desse método de disseminação do Evangelho.


Victor Choudhrie[5] era administrador de um hospital importante na Índia. Deixou sua renomada carreira quando o Senhor lhe pediu para abrir igrejas e levar a verdade de Deus ao povo no seu país. Ele conta que usava histórias bíblicas para ganhar as pessoas nos vilarejos e ensinar outros a levarem o Evangelho ao seu próprio povo de uma maneira que pudessem entender e se identificar. Ele escreveu:

No começo entregávamos alimentos ao povo nas tribos. Mas eram analfabetos e não podiam frequentar a escola porque precisavam cuidar do gado durante o dia. Por isso começamos a dar aulas ao entardecer.

Eu queria muito apresentar o Evangelho, e como as pessoas nas tribos cantavam muito bem, começamos a introduzir as boas novas de Jesus por meio de hinos e canções. Eu explicava para os hindus que vinham até nós e mal sabiam ler e escrever que a aula não era apenas de alfabetização, mas para eles ensinarem outros e compartilhar a Bíblia com as outras pessoas nas vilas.

Perguntava se queriam fazer isso e eles se dispunham, sorridentes. “Estamos dispostos, mas não conhecemos as histórias da Bíblia”. Então eu disse: “Não tem problema. Venham todos os sábados e vou lhes contar histórias da Bíblia que poderão ensinar às crianças.” Comecei um plano sistemático a partir de Adão, Eva, Noé, Abraão, Moisés, e assim por diante — um monte de nomes estranhos para eles.

Um tempo depois fui visitar os vilarejos e descobri que eles tinham confundido os personagens. De repente, Adão teve um bebê da sua costela, e mil e uma outras histórias engraçadas. Quando indaguei onde haviam aprendido aquilo, eles responderam: “Você nos ensinou!”

Até o final do ano aconteceu algo impressionante que eu não tinha imaginado. Aqueles 10 ou 12 rapazinhos que eu estava treinando e que estavam visitando as vilas chegaram um domingo de manhã e expressaram o desejo de serem batizados!

O fato de terem aprendido as histórias da Bíblia e ensinado a outros, eles se convenceram de que queriam seguir Jesus em vez do hinduísmo.


Um missionário disse: “Um amigo nosso, pastor em Benin[6] relatou: ‘O trabalho de Deus está crescendo rapidamente aqui porque estamos ensinando as histórias bíblicas em Fom (idioma local). Os homens que receberam treinamento têm voltado às suas cidades e usado o que aprenderam para ensinar as pessoas sobre a Bíblia. Muitos dizem entender o que Deus quer lhes dizer por meio da Bíblia, agora que estão aprendendo com pessoas que foram treinadas e sabem lhes explicar e interpretar a Bíblia, então estão aprendendo a analisar as histórias em sua própria língua. As pessoas estão percebendo que a Bíblia tem muito a dizer, e estão vindo aos estudos bíblicos e igrejas recém-inauguradas para aprender mais. É emocionante!’”[7]


Recentemente, um casal missionário que trabalha para o Comitê de Missões Internacional[8] foi a um vilarejo no norte de Gana. O marido falou para as pessoas ali reunidas dizendo que não tinha preparado um sermão, mas tinha uma história que desejava lhes contar. Antes de começar a contar, um homem na congregação se levantou e disse que tivera um sonho, no qual pediu a Deus para enviar alguém para ajudar as pessoas a saírem e falarem de Jesus a outros. Ele disse que os missionários eram as pessoas no seu sonho!

O marido missionário então contou diversas histórias da Bíblia, as quais as pessoas repetiam até memorizarem. Algum tempo depois o pastor convidou os missionários para voltar e ensinarem o povo no vilarejo as histórias de Jesus para eles também poderem compartilhar tudo isso com outros.[9]

Maria: Confira a para a próxima parte desta série em breve.


[1] Mateus 13:34 NVI.

[2] Atos 1:8.

[3] Adaptado de “Bringing the Good News to Oral Cultures,” de Samuel Poe. 

[4] Avery T. Willis Jr. e Mark Snowden, Truth That Sticks: How to Communicate Velcro Truth in a Teflon World (NavPress, 2009).

[5] Victor Choudhrie é cirurgião, membro sênior e fellow das escolas de cirurgiões americana e britânica. Em 1992, largou seu trabalho como diretor executivo do Christian Medical College Ludhiana, em Punjab, Índia, para assumir em tempo integral o trabalho de fundar igrejas na parte central da Índia. Biografia de Victor Choudhrie.

[6] Benin, oficialmente República de Benin, é um país no oeste da África que faz fronteira com Togo ao oeste, Nigéria ao leste e Burkina Faso e Níger ao norte.

[7] Multiple People Groups: Gowestafrica.org (Obs.: o artigo não está mais disponível no site).

[8] O Comitê Internacional de Missões é uma agência missionária que trabalha junto com a Convenção Batista do Sul

[9] Multiple People Groups: Gowestafrica.org (No Obs.: o artigo não está mais disponível no site).