Jesus — Sua Vida e Mensagem: A Páscoa

Maio 4, 2021

por Peter Amsterdam

[Jesus—His Life and Message: The Passover]

Como a Páscoa estava se aproximando, os discípulos de Jesus Lhe perguntaram como deveriam ser feitos os preparativos para a refeição pascal. Enquanto isso, nos dias anteriores à Páscoa / Festa dos Pães Asmos, os principais sacerdotes, os anciãos do povo e os escribas procuravam prender Jesus discretamente para matá-lO.

No primeiro dia da festa dos pães asmos, os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: “Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?”[1] 

Embora originalmente a celebração da Páscoa fosse um festival de um dia, seguido pela Festa dos Pães Asmos de sete dias, no primeiro século os dois haviam basicamente se fundido em um único festival. Isso pode ser visto no Evangelho de Marcos, onde lemos: No primeiro dia dos pães asmos, quando sacrificavam a Páscoa, perguntaram-lhe os discípulos: “Onde queres que vamos fazer os preparativos para comeres a Páscoa?” Tecnicamente, o sacrifício do cordeiro era feito na Páscoa, antes da Festa dos Pães Asmos.

No Evangelho segundo Lucas, lemos: Chegou o dia dos pães asmos em que era necessário sacrificar a Páscoa. Jesus enviou Pedro e João, dizendo: “Ide, preparai-nos a Páscoa, para que a comamos.”[2] Pedro e João foram instruídos a fazer os preparativos para a refeição pascal. O Evangelho segundo Lucas frequentemente menciona Pedro e João juntos.[3]

Em cada um dos Evangelhos sinópticos,[4] os discípulos perguntaram onde deveriam preparar e comer a refeição pascal. No livro de Mateus, lemos:

Respondeu-lhes ele: Ide à cidade ter com certo homem, e dizei-lhe: “O Mestre diz: ‘O meu tempo está próximo. Em tua casa celebrarei a Páscoa com os meus discípulos’.”[5] 

O Evangelho segundo Lucas nos diz:

Eles lhe perguntaram: “Onde queres que a preparemos?” Ele lhes respondeu: “Quando entrardes na cidade, encontrareis um homem levando um cântaro de água. Segui-o até a casa em que ele entrar. Dizei ao dono da casa: O Mestre manda perguntar-te: ‘Onde está o aposento em que comerei a Páscoa com os meus discípulos?’.”[6]

No Evangelho segundo Marcos, Jesus disse aos dois discípulos que seguissem o homem que carregava um jarro de água e “digam ao dono da casa em que ele entrar: O Mestre pergunta: Onde é o meu salão de hóspedes, no qual poderei comer a Páscoa com meus discípulos? Ele lhes mostrará uma ampla sala no andar superior, mobiliada e pronta. Façam ali os preparativos para nós.”[7]

O relato no Evangelho segundo Marcos parece indicar que Jesus era conhecido do dono da casa que tinha o cenáculo, e que acordos prévios haviam sido feitos com o dono para usar o aposento. Teria sido difícil conseguir um ambiente grande no último minuto durante uma das noites mais movimentadas do ano. No entanto, Jesus Se referiu ao quarto como meu salão de hóspedes, portanto, é possível que o uso do espaço tenha sido combinado de antemão.

Os discípulos se retiraram, entraram na cidade e encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito. E prepararam a Páscoa.[8]

Esse  salão de hóspedes ou cenáculo era grande, e estava mobiliado e pronto. Isso significa que havia tapetes, carpetes, almofadas e sofás para reclinar, bem como mesinhas para a comida. A única coisa que faltava era a comida, que os discípulos deveriam preparar.

O alimento para esta refeição incluiria o cordeiro pascal, que seria assado no fogo, pão asmo, uma tigela de água salgada, uma tigela de ervas amargas, um purê de frutas ou charosset (uma mistura de nozes picadas, maçãs, vinho e especiarias), e vinho suficiente para cada participante beber quatro taças em celebração das quatro bênçãos de Deus em Êxodo 6: 6-7.[9] Esses versículos do Êxodo declaram: Portanto dize aos filhos de Israel: Eu sou o Senhor, e vos tirarei de debaixo das cargas dos egípcios, livrar-vos-ei da sua servidão e vos resgatarei com braço estendido e com grandes juízos. Eu vos tomarei por meu povo e serei vosso Deus. Então sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios.”[10]

Ao anoitecer, Jesus chegou com os Doze. Quando estavam comendo, reclinados à mesa, Jesus disse: “Digo-lhes que certamente um de vocês me trairá, alguém que está comendo comigo”.[11]

Tipicamente, as refeições eram feitas em mesa com cadeiras. Recostar-se em sofás para comer indica que se tratava de uma refeição festiva, o que seria uma refeição de Páscoa. No entanto, o clima mudou quando Jesus os informou que um dos participantes O trairia.

Eles começaram a entristecer-se, e a dizer-lhe, um após outro: Por acaso sou eu? Respondeu-lhes: É um dos doze, o que mete comigo a mão no prato.”[12]

Os discípulos ficaram chocados e tristes ao ouvir isso. O texto grego traduzido como “Sou eu?” espera uma resposta negativa, para que possa ser entendida como significando “certamente não sou eu, é?” Jesus não indicou especificamente quem o trairia. No Evangelho segundo Mateus lemos: Então, perguntou-lhe Judas, o que o traía: Por acaso sou eu, Rabi? Respondeu Jesus: Tu o disseste.”[13] No entanto, presume-se que Judas fez essa pergunta a Jesus em particular e que os outros discípulos não a ouviram. No Evangelho segundo João, é feita referência a um dos discípulos perguntando a Jesus quem O trairia, o que será abordado em um próximo artigo.

Depois de afirmar que seria um dos doze que O trairia, Jesus disse:

“Na verdade o Filho do homem vai, como dele está escrito, mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do homem é traído! Melhor lhe fora não haver nascido.”[14] 

Jesus indicou que os eventos por vir se cumpririam de acordo com as Escrituras. No entanto, acrescentou uma condenação para Judas, aquele que O trairia.

Nesse momento da refeição, somos informados de que:

Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, abençoando-o, partiu-o e lhes deu, dizendo: Tomai, comei, isto é o meu corpo.”[15]

No Evangelho segundo Lucas, lemos: “Isto é o meu corpo, que por vós é dado.”[16] Em 1 Coríntios, onde o apóstolo Paulo relata a Última Ceia de Jesus (escrita antes dos relatos dos Evangelhos), lemos que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão, e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim.”[17] A ação de Jesus foi um sinal profético prenunciando o que O esperava; assim como o pão foi partido, o Seu corpo seria partido.

Então tomou o cálice e, dando graças, deu-o aos discípulos, e todos beberam dele. Disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, que é derramado por muitos.”[18]

Depois de comer o pão, Jesus pegou um copo cheio de vinho e deu graças. Essa ação de graças provavelmente foi dirigida a Deus. É desse versículo que extraímos o nome frequentemente usado para a comunhão, a Eucaristia. A palavra grega eucharistos significa “dar graças”.

Outros nomes que são usados ​​no Novo Testamento para a Eucaristia são:

Partir do pão. Eles se devotaram ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações (Atos 2:42). E dia após dia, frequentando o templo juntos e partindo o pão em suas casas, eles recebiam seu alimento com o coração alegre e generoso (Atos 2:46). (Veja também Atos 20: 7, 11.)

A mesa do Senhor. Você não pode beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios. Você não pode participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios (1 Coríntios 10:21).

Comunhão. O cálice de bênção que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? (1 Coríntios 10:16).

Ceia do Senhor. Quando vocês se reúnem, não é a ceia do Senhor que comem (1 Coríntios 11:20).

Jesus então disse:

“Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da vide, até àquele dia em que o beber, novo, no reino de Deus.”[19] 

Os comentadores têm uma grande variedade de opiniões sobre o significado deste versículo e, como existem tantas opiniões divergentes, achei melhor não comentar sobre ele, a não ser incluir uma citação de um autor.

Cada relato da Última Ceia no Novo Testamento envolve uma declaração positiva a respeito do futuro. Assim, a celebração da Ceia do Senhor não deve ser simplesmente uma lembrança triste em retrospecto do sofrimento e da morte de Jesus, mas também deve ser concluída com um olhar esperançoso em alegre expectativa daquele dia glorioso em que os crentes compartilham com Jesus o “novo” vinho / comida do banquete messiânico.[20]


Nota

A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 2001, por Editora Vida.


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[1] Mateus 26:17. Ver também Marcos 14:12, Lucas 22:7.

[2] Lucas 22:7–8.

[3] Lucas 8:51, 9:28; Atos 1:13; 3:1–4; 4:13, 19; 8:14.

[4] Mateus, Marcos, e Lucas.

[5] Mateus 26:18.

[6] Lucas 22:9–13.

[7] Marcos 14:13–15 (NVI).

[8] Marcos 14:16. (NVI)

[9] Stein, Mark, 647.

[10] Êxodo 6:6–7.

[11] Marcos 14:17–18 (NVI).

[12] Marcos 14:19–20.

[13] Mateus 26:25.

[14] Marcos 14:21.

[15] Marcos 14:22.

[16] Lucas 22:19.

[17] 1 Coríntios 11:23–24.

[18] Marcos 14:23–24.

[19] Marcos 14:25.

[20] Stein, Mark, 653.