Jesus — Sua Vida e Mensagem: João 16:13–22

Julho 27, 2021

por Peter Amsterdam

[Jesus—His Life and Message: John 16:13–22]

No início deste Evangelho, Jesus falou aos Seus discípulos sobre o Consolador, o Espírito Santo, a quem Ele lhes enviaria. Ele disse: O Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.[1] No capítulo 16 de João, Jesus nos fala mais sobre o ministério do Espírito.

Quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade. Não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.[2]

Jesus dissera que o Espírito ensinaria aos discípulos e faria com que se lembrassem do que Ele lhes havia ensinado. Então, acrescentou que o Espírito os conduziria a toda a verdade. Ao dizer isso, Ele estava Se referindo à verdade que o Pai Lhe dera para compartilhar com eles, não toda a verdade no sentido de toda a verdade científica sobre o mundo natural ou outras coisas que as pessoas podem aprender por observação ou por meio de pesquisa normal.

Jesus passou a falar do ministério do Espírito Santo. O Espírito não falaria por si mesmo, mas falaria apenas “o que ouve”. Isso é semelhante ao que foi dito dEle; que Ele não falava “de Si mesmo”.

Eu não falei de mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, me prescreveu o que dizer e de que falar.[3]

O Espírito só fala o que “ouviu” do Pai, assim como Jesus faz.

Já não vos chamo de servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Antes, tenho-vos chamado amigos, pois tudo o que ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.[4]

Nesse Evangelho, Jesus mostrou que poderia informar Seus discípulos sobre coisas que aconteceriam no futuro.

“Isto é para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra mim o seu calcanhar. Digo-vos isto agora, antes que aconteça, para que quando acontecer acrediteis que eu sou.”[5]

Eu vos disse agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis.[6]

Tenho-vos dito isto a fim de que, quando chegar a hora, vos lembreis de que já vos tinha prevenido. Eu não vos disse isto desde o princípio porque estava convosco.[7]

No entanto, na maior parte, Jesus deixou por conta do Espírito Santo revelar coisas sobre o futuro.

Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.[8] 

Jesus então explicou que o Espírito Santo O glorificaria, ao declarar aos Seus discípulos o que dEle receber. Pode parecer um pouco estranho para Jesus dizer que a Ele pertence “toda a verdade”, ou alegar que o Consolador O glorificará. Ele próprio explica: Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. Na Divindade, não há divisão. O que o Pai tem, o Filho também o tem, e o Espírito o declarará.

Jesus continuou falando com Seus discípulos, e o que Ele disse a seguir foi uma espécie de enigma.

Um pouco, e não me vereis mais, e um pouco ainda e me vereis.[9] 

Em uma passagem anterior deste Evangelho, Jesus disse aos Seus discípulos: Ainda um pouco e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis. Porque eu vivo, vós também vivereis.[10] Os discípulos tiveram dificuldade em entender o que Jesus queria dizer.

Alguns dos discípulos disseram uns aos outros: Que vem a ser isto que nos diz? Um pouco, e não me vereis, e um pouco ainda, e ver-me-eis? E: Vou para o Pai? Diziam eles: Que quer dizer esse “um pouco”? Não sabemos o que diz.[11]

As palavras de Jesus eram um tanto misteriosas para os discípulos, que ficaram intrigados com o seu possível significado. No entanto, eles não pediram uma explicação a Jesus; em vez disso, expressaram entre si sua perplexidade. Em outra parte deste Evangelho, lemos que houve outras ocasiões em que os discípulos hesitaram em pedir a Jesus uma explicação do que Ele havia dito.

“Agora vou para aquele que me enviou, e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais?”[12]

Nesta altura chegaram os seus discípulos, e maravilharam-se de encontrá-lo falando com uma mulher. Mas nenhum deles perguntou: Que queres? ou: Por que falas com ela?[13]

Os discípulos repetiram o enigma e perguntaram entre si o que Jesus queria dizer sobre um pouco. Nestes dois versículos (17–18), os discípulos se referem a “um pouco” três vezes.

Jesus percebeu que queriam interrogá-lo, e lhes perguntou: Indagais entre vós acerca disto que disse: Um pouco, e não me vereis, e ainda um pouco, e ver-me-eis?[14]

Percebendo que eles não estavam indagando sobre o que Ele dissera, apesar de quererem, Jesus verbalizou a pergunta deles e a respondeu.

Em verdade, em verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis enquanto o mundo se alegra. Vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria.[15]

Jesus mais uma vez usou a expressão “em verdade em verdade”, indicando que a reação dos discípulos ao que Lhe aconteceria era muito diferente da resposta do mundo. Jesus disse aos Seus discípulos que estava de partida, que Se ausentaria deles e do mundo. Isso obviamente entristeceria Seus seguidores, enquanto o mundo se alegraria com a Sua morte. No entanto, Jesus lhes dissera também, “ainda um pouco, e ver-me-eis”. Esse seria o motivo da alegria dos discípulos, pois a tristeza se transformaria em alegria quando eles voltassem a ver Jesus.

Para ajudá-los a entender o que Ele estava dizendo, Jesus contou uma parábola.

A mulher quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de nascida a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de ter vindo um homem ao mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza, mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar.[16]

Quando uma mulher está em trabalho de parto, ela experimenta dores de parto, referidas aqui como tristeza, mas em outras traduções, como a NVI encontramos dores.

Jesus contrasta o estado de espírito da mãe quando ela está em trabalho de parto com o que a toma após o nascimento de um filho. Durante o trabalho de parto, sofre fortes dores, mas essa angústia dá lugar à alegria quando o filho nasce. Jesus compara isso com o que Seus discípulos experimentariam em breve. Chorariam, lamentariam e sofreriam pesar quando Jesus lhes fosse tirado e crucificado. No entanto, a alegria de encontrar o Cristo ressuscitado superaria em muito a dor sentida.

Um autor acrescentou um comentário interessante sobre este versículo.

A maioria das mães contestará a exatidão da afirmação de que “quando a criança nasce, ela não se lembra mais da aflição” (talvez isso seja uma prova de que o autor do Evangelho era um homem!), Mas o propósito não era ser literal na comunicação, mas apenas deixar claro que a perspectiva de “alegria” faz com que toda a “dor” ou “angústia” que a precede valha a pena.[17]

Jesus disse a Seus discípulos que, embora experimentassem profunda tristeza, Ele os veria novamente e seus corações se regozijariam. Ele provavelmente estava Se referindo às Suas aparições pós-ressurreição. Um autor afirma:

A alegria dos discípulos então seria permanente. Ninguém lhes vai tirar essa alegria. Isso não quer dizer que os crentes nunca conhecerão o sofrimento, mas que depois de compreenderem o significado da cruz, serão possuídos por uma alegria profunda, uma alegria que não depende do mundo.[18]

(Continua.)


Nota

A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 2001, por Editora Vida.


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[1] João 14:26.

[2] João 16:13.

[3] João 12:49.

[4] João 15:15.

[5] João 13:18–19.

[6] João 14:29.

[7] João 16:4.

[8] João 16:14–15.

[9] João 16:16.

[10] João 14:19.

[11] João 16:17–18.

[12] João 16:5.

[13] João 4:27.

[14] João 16:19.

[15] João 16:20.

[16] João 16:21–22.

[17] Michaels, The Gospel of John, 844.

[18] Morris, The Gospel According to John, 627.