Mais como Jesus: Benignidade e Bondade

Agosto 29, 2017

por Peter Amsterdam

[More Like Jesus: Kindness and Goodness]

Quando o apóstolo Paulo estava escrevendo sobre a vida espiritualmente correta, guiada pelo Espírito Santo, relacionou o que chamou coletivamente de “obras da carne”, dentre as quais citou inimizades, porfias, ciúmes, iras, pelejas e invejas.[1] Na sequência listou os “frutos do espírito”: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.[2] O fruto do Espírito é a obra do Espírito Santo em nós, que nos faz crescer em bondade e semelhança de Cristo.

Nesta lista encontramos dois aspectos do fruto do Espírito que são inseparáveis: a benignidade e a bondade. A leitura do que as Escrituras têm a dizer sobre essas qualidades nos revela que são vistas como atributos da natureza de Deus.

Então disse Moisés: Rogo-te que me mostres a Tua glória. Respondeu-lhe o Senhor: Eu farei passar toda a Minha bondade diante de ti, e te proclamarei o nome do Senhor.’”[3]

Bom e reto é o Senhor.[4]

Tu, ó Senhor, és bom e pronto a perdoar, e abundante em amor para com todos os que te invocam.[5]

Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nas regiões celestiais, em Cristo Jesus, para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça, pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.[6]

Mas quando apareceu a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, não por obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, ele nos salvou mediante a lavagem da regeneração e da renovação pelo Espírito Santo.[7]

Como Deus é benigno e bondoso, e demonstrou essas qualidades para conosco por meio do sacrifício de Jesus com o propósito de expiar a culpa pelos nossos pecados, somos chamados para sermos benignos e bondosos com os outros.

Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.[8]

E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser brando para com todos.[9]

Como eleitos de Deus, santos, e amados, revesti-vos de compaixão, de benignidade.[10]

Em 1 Coríntios 13, o capítulo do amor, lemos que, o amor é benigno.[11]

A palavra no hebraico chesed, usada 248 vezes no Antigo Testamento, é traduzida como benignidade, misericórdia, constante amor, bondade e benevolência. No Novo Testamento, a palavra grega chrēstotēs é traduzida como benignidade e bondade moral. Significa interesse carinhoso, uma bondade de coração e expressa em ações. A palavra agathōsynē, também do grego, é traduzida por bondade, indicando integridade de coração e na vida.

A benignidade e a bondade estão intimamente ligadas e os termos muitas vezes são tratados como sinônimos. Ambos expressam um desejo ativo para ajudar a atender às necessidades dos outros. Jerry Bridges escreveu:

A benignidade é um desejo sincero pela felicidade dos outros; a bondade é a atividade calculada para promover a felicidade. A benignidade é uma disposição interior, criada pelo Espírito Santo, que nos torna sensíveis às necessidades dos outros — físicas, emocionais ou espirituais. A bondade é a ação da benignidade por palavras e atos.[12]

A benignidade e a bondade podem ser consideradas a maneira como o amor se conduz, pensa e age. Consistem de boas ações que nascem do amor, realizadas com a meta de ser uma bênção para os outros. Refletem Jesus.

Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder; o qual andou fazendo o bem … porque Deus era com ele.[13]

A benignidade e a bondade não são demonstradas apenas aos que amamos, mas a todos — inclusive alguém que possa ser visto como adversário ou inimigo, porque assim imitamos a benignidade de Deus. Foi o que Jesus deixou claro, quando disse:

Amai os vossos inimigos, fazei o bem, emprestai, sem nada esperardes. Então será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo, porque ele é benigno até para com os ingratos e maus.[14]

Obviamente, nossa inclinação natural é demonstrar benignidade aos que conhecemos e de quem somos próximos, mas o chamado é para desenvolvermos um temperamento benigno e bondoso para estarmos sensíveis aos outros e dispostos a agir de forma a manifestar amor.

O apóstolo Paulo escreveu:

Somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras.[15]

Como crentes, somos novas criaturas em Cristo,[16] transformados pelo Espírito Santo e chamados para fazer o bem, a exemplo de Jesus. Ele devotou-Se ao bem-estar da humanidade, uma devoção que traduziu em ações por meio de Seu cuidado e desvelo pelas pessoas, dando provas de benignidade, bondade e interesse sincero.

A benignidade e a bondade muitas vezes se manifestam em uma escala maior, como quando há algum tipo de emergência ou grande necessidade que faz com que as pessoas, cristãs e não cristãs, se mobilizem para ajudar os outros. Muitos ajudam em emergência, o que, claro, é sinal de benignidade e bondade, mas o entendimento bíblico desse fruto do Espírito vai além. É a transformação de nossa tendência natural de dar prioridade a nós mesmos, de sermos egoístas e preocupados com nossas necessidades, para termos mais a natureza de Deus, sermos influenciados pelo Espírito Santo, atentos e dispostos a fazer algo pelas necessidades alheias. É ser transformado de uma maneira que nos dá um desejo profundo de refletir Cristo.

Ser benigno e bondoso com os outros é para ser algo cotidiano, não um fenômeno esporádico em resposta à necessidade, em um ato incomum ou heroico. A maioria das nossas oportunidades para praticar a benignidade por meio de boas ações se encontra na rotina do dia a dia. É bom orar com frequência para o Espírito Santo nos ajudar a reconhecer as necessidades dos outros e nos provocar a agir, em vez de ver essa oportunidade como uma interrupção de nossa agenda ou uma inconveniência a ser ignorada.

As Escrituras ensinam que não devemos atentar somente aos nossos interesses, mas aos alheios também.[17] Para isso, é necessário contrariar nosso egoísmo natural e intencionalmente agir em oposição à própria natureza humana. A maioria das coisas que fazemos para nos assemelharmos mais a Cristo entra em choque com a natureza humana. O esforço para sermos mais como Jesus exige mudanças no coração, mente e ações, mas é no coração que as mudanças se enraízam mais profundamente.

Kelly Minter comenta:

Aprendi quanto o coração é importante a todas [as virtudes]. Simplesmente não há como separar o coração das ações, especialmente no que diz respeito às características de Jesus. Se meu coração está cheio de orgulho e arrogância, não serei misericordiosa e paciente com as pessoas. Quando meu coração está tomado de ciúme e ira, a benignidade e o perdão não dominam minha vida. Da mesma forma, quando Deus torna nosso coração terno, nos torna humildes e nos harmoniza com Seu Espírito, inevitavelmente transbordaremos com benignidade, alegria e amor.[18]

Como é possível perceber a benignidade e a bondade? Elas se manifestam em nossas palavras para os outros quando são ornadas de amor e desvelo, quando escutamos atentos aos outros, damos-lhes toda atenção em momentos que preferiríamos fazer outra coisa. Nós reconhecemos essas virtudes nos abnegados que doam seus recursos, tempo e atenção a alguém em necessidade. Elas se traduzem em interesse genuíno e desvelo pelos demais. São as virtudes que nos fazem oferecer a outra face quando somos magoados. Eles nos ajudam a controlar a língua quando somos insultados ou aviltados. São elas que nos impedem de buscar revanche, mas nos dão a graça para perdoar. Se uma pessoa amada ou um amigo precisa de correção, fazemos isso com gentileza e comunicamos a verdade com amor. A benignidade e a bondade emanam de corações que têm amor, compaixão e misericórdia.

Os benignos não fazem fofoca. Não traem a confiança. Não se mostram impacientes. Não são egocêntricos. Não têm pavio curto. Não ficam falando de si todo o tempo ou atraindo a atenção para eles próprios. Não são mesquinhos.[19]

Os que querem imitar Cristo têm o desafio diário de dar a vida pelos outros. Isso significa doar tempo para os demais e inclui nossos cônjuges, filhos e outros que não são próximos, para que se sintam amados e valorizados. Pode significar coisas simples como lavar a louça, levar o lixo para fora, brincar com as crianças para que a outra pessoa possa descansar. Também significa ser bons com os que não fazem parte de nossa família ou desconhecidos. Devemos mostrar a benignidade sendo generosos com os que precisam, mesmo se custa algum sacrifício, falar com gentileza mesmo que seja difícil para nós. São inumeráveis as alternativas que existem para sermos benignos com os demais.

A benignidade se traduz em palavras de amor e em ações que denotam desvelo pelos outros. É ter um coração compassivo, traduzindo essa compaixão e amor em ação. Todos temos oportunidades para sermos benignos no decorrer de nossos dias. Podemos oferecer uma palavra gentil, oferecer a mão generosa, fazer algo —talvez algo que ninguém note, com o objetivo de agir com amor, tornar a vida um pouco mais agradável para os outros. Certamente hoje isso nos custará tempo, esforço e, às vezes, dinheiro, mas certamente será gratificante, pois reflete o amor de Jesus e agrada ao Senhor.

Jesus nos deu uma ideia da grande importância que Deus dá à benignidade e à bondade nesta passagem em que descreve o dia do julgamento final:

Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Pois tive fome, e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; estive enfermo, e me visitastes; preso e fostes ver-me. Então perguntarão os justos: Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer? ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou preso e fomos ver-te? Ao que lhes responderá o Rei: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.’[20]


Nota

A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 1990, por Editora Vida.


[1] Gálatas 5:19–21.

[2] Gálatas 5:22–23.

[3] Êxodo 33:18–19.

[4] Salmo 25:8.

[5] Salmo 86:5.

[6] Efésios 2:4–7.

[7] Tito 3:4–5.

[8] Efésios 4:32.

[9] 2 Timóteo 2:24.

[10] Colossenses 3:12.

[11] 1 Coríntios 13:4.

[12] Jerry Bridges, The Practice of Godliness (Colorado Springs: Navpress, 2010), 215.

[13] Atos 10:38.

[14] Lucas 6:35.

[15] Efésios 2:10.

[16] Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo (2 Coríntios 5:17).

[17] Filipenses 2:4.

[18] Kelly Minter, The Fitting Room (Colorado Springs: David C. Cook, 2011), 139.

[19] Ibid., 137.

[20] Mateus 25:34–40.