Mais como Jesus: Compaixão
Outubro 31, 2017
por Peter Amsterdam
Mais como Jesus: Compaixão
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Quando lemos as explicações nos Evangelhos sobre a vida de Jesus, fica muito claro que Jesus demonstrava compaixão pelos outros e ensinava aos Seus discípulos que deviam fazer o mesmo. O Bom Samaritano, da famosa parábola, demonstrou compaixão pelo judeu espancado quando cuidou de suas feridas e arcou com suas despesas de hospedagem.[1] Na parábola do Filho Pródigo, um jovem pede ao pai a sua parte da herança, o que é a mesma coisa que falar: “Gostaria que você estivesse morto”. Com o dinheiro em mãos, partiu e desperdiçou tudo que recebera. Depois de muito sofrer, voltou para casa e tão logo foi avistado ao longe pelo pai, este se moveu de íntima compaixão e, correndo, abraçou e beijou o rapaz arrependido.[2]
Em Seu ministério, Jesus viu situações onde as pessoas passavam necessidade, compadeceu-Se e as ajudou.
Jesus chamou Seus discípulos e disse: “Tenho compaixão da multidão porque eles estiveram comigo agora três dias e não têm nada para comer. E eu não estou disposto a enviá-los com fome, para que eles não desmaiem no caminho”.
Ele então pegou sete pães e alguns peixes pequenos e os multiplicou, para que milhares de pessoas fossem alimentadas.[3] Ao ver um jovem cair e se convulsionar, Jesus perguntou ao pai:
“Por quanto tempo isso acontece com ele?” E ele disse: “Desde a infância ... se você pode fazer qualquer coisa, tenha compaixão de nós e ajude-nos”.
Jesus mostrou compaixão ao expulsar do menino o espírito que o atormentava.[4]
Quando chegou perto da porta da cidade, levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva. E com ela ia uma grande multidão da cidade. Vendo-a, o Senhor sentiu grande compaixão por ela, e lhe disse: Não chores. Chegando-se, tocou o esquife e, parando os que o levavam, disse: Jovem, a ti te digo: Levanta-te. O defunto assentou-se, e começou a falar, e Jesus o entregou à mãe dele.[5]
Saindo Jesus, viu uma grande multidão, e, possuído de grande compaixão para com ela, curou os seus enfermos.[6]
Durante o seu tempo na Terra, Jesus incorporou os atributos de Seu Pai, dentre os quais a compaixão. Ao longo do Antigo Testamento lemos a compaixão de Deus:
Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem.[7]
Porém o Senhor teve misericórdia deles, e se compadeceu deles, e tornou para eles, por amor da sua aliança com Abraão, Isaque e Jacó. Até hoje não os quis destruir, nem lançá-los da sua presença.[8]
Por breve momento te deixei, mas com grande compaixão te recolherei. Em grande ira escondi a minha face de ti por um momento, mas com benignidade eterna me compadecerei de ti, diz o Senhor, o teu Redentor.[9]
O seu coração não era reto para com ele, não foram fiéis à sua aliança. Mas ele foi misericordioso; perdoou a sua iniquidade, e não os destruiu. Muitas vezes desviou deles a sua cólera, e não deixou despertar toda a sua ira.[10]
Exultai, ó céus, e alegra-te, ó terra, e vós, montes, rompei em cânticos! Pois o Senhor consola o seu povo, e dos seus aflitos se compadecerá.[11]
A compaixão é um atributo sagrado que deve ser imitado por aqueles que querem ser como Jesus. Então, o que é compaixão? Os dicionários definem como “um sentimento de profunda empatia e tristeza por alguém que está em algum tipo de angústia, combinado com o desejo de fazer algo para aliviá-lo”. Nas Escrituras, cinco palavras hebraicas no Antigo Testamento e quatro do Novo Testamento foram traduzidas para compaixão. No Antigo Testamento, as palavras traduzidas como compaixão têm os seguintes significados: sentir pena de alguém; compadecer-se; poupar alguém de algo indesejável; ser solidário; e consolar (com a vontade de mudar a situação). Uma das palavras hebraicas, racham, está relacionada a outra, que significa “útero” e expressa a compaixão de uma mãe (ou dos pais) por uma criança indefesa — uma profunda emoção que se expressa em atos de serviço desinteressado. Esta é uma compaixão protetora, e esta palavra é geralmente usada em referência à compaixão de Deus. Quando Deus Se revelou a Moisés na montanha, usou a palavra racham para Se descrever. Algumas traduções traduzem-na como misericordiosa, mas a maioria é “compassiva”.
O Senhor desceu numa nuvem e, pondo-se ali junto a ele, proclamou o nome do Senhor.[12]
No Novo Testamento, existem quatro palavras gregas traduzidas como compaixão. A mais usada é splanchnizomai, que é relacionada a outra, usada para “entranhas” referindo-se ao centro das emoções humanas. O termo significa “ser movido em suas entranhas”, transmitindo a ideia de ser movido no núcleo dos sentimentos, levando a atos de bondade e misericórdia. Outra palavra, sumpathes, transmite o significado de “sofrer com” ou “sofrer ao lado de”.
A compaixão é ter um forte sentimento sobre a situação ou estado de outra pessoa, e fazer algo para mudar isso. Trata-se de fazer as coisas melhores para alguém que precisa. Não é compaixão se não houver alguma ação. Em alguns casos, isso pode significar segurar ou abraçar alguém, orar por eles, falar gentilmente com eles e comunicar o seu pesar ou preocupação. Isso também pode significar a ação que visa mudar a situação ou as circunstâncias. Pode significar defender alguém. Talvez protestar para mudar as leis e promover a justiça social. Pode significar dedicar tempo e esforço para saciar a fome de alguém, ajudar os órfãos, visitar os doentes ou os que estão de luto, compartilhar o Evangelho com os outros, ou outras formas de ajudar os necessitados.
Joanna Collicutt escreveu:
O tipo de palavras que as pessoas usam para descrever o sentimento de compaixão incluem “solidário”, “terno”, “caloroso”, “coração suave”, “sensível”, “sensibilizado”, “preocupado” e, acima de tudo, “comovido”. Isso exige que nos coloquemos no lugar do outro, exercitemos a empatia; aproximarmo-nos da outra pessoa cultural e mentalmente, bem como no que diz respeito ao comportamento.[13]
Compaixão é muito semelhante à empatia, à habilidade de entender e compartilhar os sentimentos do próximo, e de se colocar no lugar do outro para entender o que está acontecendo pela perspectiva dele. A empatia pode levar à compaixão.
Em resumo, a compaixão faz parte do amor. Mas como cultivamos esse aspecto do amor? Como nos tornamos mais compassivos? Algo que pode ajudar é pensar nas instruções de Jesus: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.[14] Devemos amar a nós mesmos e, portanto, devemos nos mostrar compaixão. Se formos gentis com nós mesmos, mesmo quando reconhecemos que causamos alguns de nossos problemas para nós mesmos, podemos reconhecer que, quando os outros estão em necessidade, devemos ajudar, mesmo que sejam responsáveis pela situação em que se encontram. Seguir Jesus faz com que seja fácil ser compassivo com os outros.
Refletir sobre o ministério de Jesus também ajuda. Ele viu as pessoas necessitadas: o cego, a fome, o luto, os doentes, os marginalizados sociais e, em vez de olhar para o outro lado e passar, percebeu, parou e tomou medidas. É fácil em nossas vidas ocupadas não notar outros que estão lutando e as suas necessidades, e ficarmos preocupados com as nossas necessidades, problemas, preocupações e medos pessoais.
Outra coisa que pode nos ajudar a ser mais compassivos é a certeza do amor do Senhor por nós - lembrando que apesar de sermos indignos, cheios de falhas e pecadores, Deus agiu em nosso favor, a um grande custo. Sacrificou Seu Filho amado para nos resgatar de nossa carência. A compaixão de Deus custou caro, e se nos lembrarmos regularmente desse fato ao louvar e Lhe agradecer por isso, podemos achar mais fácil responder aos outros com Seu amor e compaixão.
Jesus teve compaixão pelo sofrimento, pelos marginalizados, pelos pobres e pelos necessitados. Podemos achar que não podemos ajudar os outros como fez Jesus, pois Ele era Deus encarnado, capaz de realizar milagres poderosos. Mas, embora não possamos fazer milagres como os de Jesus, mostrar compaixão aos outros pode se traduzir como um milagre para alguém que precisa. Um pouco de compaixão pode fazer uma grande diferença.
O segredo para ser compassivo é estar cheio do amor de Deus. Experimentar Seu amor através da comunhão com Ele, como resultado de passar tempo orando, lendo a Sua Palavra e escutando-O, buscando a Ele e recebendo Seus conselhos, nos faz entender o Seu amor por nós. Quando vivenciamos Sua bondade, misericórdia, generosidade, compaixão e Seu profundo amor, é mais fácil deixarmos Seu amor fluir através de nós para os outros.
Se queremos verdadeiramente imitar a Cristo, devemos estar muito atentos às necessidades dos outros e também dispostos a tomar medidas para ajudá-los e confortá-los. Jesus serviu compassivamente aos outros e, como Seus seguidores, somos chamados a ser compassivos também.
Nota
A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 1990, por Editora Vida.
[1] Lucas 10:30–35. Veja também “As Histórias que Jesus Contou: O Bom Samaritano.”
[2] Lucas 15:11–32. Veja também “As Histórias que Jesus Contou: O Pai e os Filhos Perdidos.”
[3] Mateus 15:32–38.
[4] Marcos 9:20–27.
[5] Lucas 7:12–15.
[6] Mateus 14:14.
[7] Salmo 103:13.
[8] 2 Reis 13:23.
[9] Isaías 54:7–8.
[10] Salmo 78:37–38.
[11] Isaías 49:13.
[12] Êxodo 34:6 NAU.
[13] Joanna Collicutt, The Psychology of Christian Character Formation (London: SCM Press, 2015), 181.
[14] Mateus 22:39.